Em um dos meus primeiros textos para esta coluna, sob o título de “Lajes letradas”, eu comentava um fato interessante sobre nossa cidade. Era a constatação, no mínimo curiosa, de que uma cidade pequena como a nossa pudesse ter tantos pós-graduados em linguística, entre mestres e doutores. Eu dizia, então, - como gosto de dizê-lo até hoje -, que Resende Costa seria a cidade brasileira com o maior número de linguistas por metro quadrado. E dizer que, de lá para cá, já apareceram outros mais ...
Bem, lembro-me hoje de que, além de linguistas, nossa cidade pode se orgulhar também de ter produzido, se é que se pode usar esse termo, muitos sacerdotes. A lista seria grande e não vou colocá-la aqui. Pelos meus cálculos, seriam de 30 a 34 nomes, num período que poderia ser compreendido entre 1920 até o presente, ou seja, uns 90 anos. O que de imediato significa dizer que, em média, a cada três anos um resende-costense se ordenou padre. Trata-se de um número significativo, considerando-se que o período de formação de um sacerdote é relativamente longo, entre 10 e 15 anos, dependendo do tipo da formação ou da função que lhe é atribuída.
Há duas categorias de sacerdotes na organização da Igreja Católica. Uma de sacerdotes que são destinados ao trabalho pastoral em paróquias, no âmbito de uma diocese. São os chamados “padres diocesanos”, também conhecidos mais antigamente por “padres seculares”. A outra categoria compreende os sacerdotes que são engajados em uma ordem religiosa, vivendo necessariamente em comunidades. São por isso conhecidos como “padres religiosos” e se diferenciam em função da atividade exercida por cada uma das inúmeras ordens religiosas. São muitas no mundo, tal como as ordens religiosas femininas. Essas são ainda muito mais numerosas, a tal ponto que se costuma brincar dizendo que nem o Padre Eterno, com toda sua omnisciência, dá conta de saber quantas seriam essas ordens com suas inumeráveis freiras.
No caso de Resende Costa, há um equilíbrio nessa divisão. Na minha lista aparecem uns 15 ou 16 padres diocesanos e uns 16 ou 17 religiosos. Presumo que os religiosos se dividem em 10 salesianos (Sociedade de São Francisco de Sales, fundada por São João Bosco), 4 camilianos (congregação fundada por São Camilo de Lelis), um lazarista (da Congregação da Missão, também conhecidos como Padres Vicentinos) e um redentorista (congregação fundada por Santo Afonso de Ligório). O número maior dos salesianos talvez seja devido à proximidade da obra salesiana em São João del-Rei, a partir da década de 40, cujo seminário menor acolheu, nas décadas seguintes, um elevado número de seminaristas “lagartixas”. Os candidatos à ordem camiliana eram arrebanhados, antigamente, pelo famoso Pe. João Martelo, que levava a meninada para seus seminários de São Paulo e Santa Catarina.
Dos mais antigos da lista dos padres seriam o Cônego Cardoso, que foi pároco na cidade, o Pe. Pedro Pinto, da família dos Iaiano, que faleceu vítima de acidente automobilístico em Perdões, onde era pároco, no final da década de 30, bem como o Pe. Sílvio Chaves, filho mais velho do Sr. Osório Chaves, que foi pároco por muitos anos em Santa Rita do Rio Abaixo, atual Ritápolis. Lembro-me bem de que os coroinhas de meu tempo brigavam para ajudar a Missa do Pe. Sílvio, quando de suas passagens pela cidade: ao final saía sempre uma preciosa e esperada moeda de um cruzeiro!
Acho que o único representante da Congregação dos lazaristas é o Pe. Antenor Resende, ainda entre nós. Outros padres resende-costenses são pouco conhecidos, sobretudo entre os religiosos, pelo fato de suas famílias terem se mudado da cidade. São os casos, por exemplo, do Pe. Newton Resende Costa, salesiano, já falecido, sobrinho do Sr. Quinzinho (Joaquim Pinto de Góes e Lara) e do Pe. Francisco Ribeiro da Silva, lá das bandas da Boa Vista, tio da Meirinha do Dr. Luiz, conhecido entre os salesianos como “Chico Mineiro”. O mais antigo entre os padres diocesanos é atualmente o Pe. José Hugo de Resende Maia, assinante e leitor assíduo do JL. Mais recentemente nos deixou seu colega de ordenação sacerdotal, o Pe. Antônio das Mercês Gomes (o Pe. Antônio da Zélia), que dedicou-se por longos anos à pregação das suas “Jornadas Cristãs”, conhecidas em Minas Gerais e em outros estados.
Os padres salesianos resende-costenses mais antigos e mais conhecidos são o Pe. Josué Francisco da Natividade, também leitor assíduo do nosso jornal, o Pe. Francisco David Resende, o Pe. Ézio de Melo Daher, já falecido e o Pe. Diniz José da Silva, mais recentemente falecido, sempre presente em nossas Semanas Santas.
À vista de tantos padres, talvez eu deva refazer a frase do texto “Lajes letradas”, acima citado, mudando-a para “Resende Costa é a cidade que tem o maior número de padres e de linguistas por metro quadrado”. Era o meu destino: não cheguei a ser padre, mas virei linguista, e com muita honra!
Resende Costa: terra de sacerdotes
13 de Junho de 2009, por Rosalvo Pinto