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Resende, nossa irmã portuguesa

13 de Setembro de 2013, por Rosalvo Pinto

Vista parcial do centro da cidade de RESENDE, Portugal. Os telhados vermelhos e bem conservados são uma característica das cidades portuguesas

Passando por Portugal no início de agosto, tive duas gratas surpresas. Para quem, como eu, que me dedico ao estudo de nossa história e de nossas origens, foi um prazer conhecer a cidade de Resende e, em Lisboa, uma descendente direta do nosso inconfidente José de Resende Costa, o filho. Deixo nosso confidente e sua descendente para outra edição do JL.

Orientado desde aqui pelo amigo, ex-aluno e colega do JL, José Venâncio de Resende, fomos (eu e a Beth minha mulher) parar na cidade de Resende, ao norte de Portugal, às margens do Rio Douro. Berço de origem da família Resende, desde os remotos séculos 12 e 13, terá sido de lá que membros da família emigraram, em meados do século 17, para o arquipélago dos Açores e, depois, nos inícios do 18, para o Brasil, indo para nossa região (Lagoa Dourada).

De Lisboa até Porto (bela e interessante cidade), são 2 horas e meia de uma aprazível viagem em moderno e rápido trem. Mais uns 100 km à nordeste, de ônibus ou de trem, chega-se à pequena (uns 3.500 habitantes) e simpática cidade de Resende. É a sede do “Concelho” (município), cuja população é de 13.300 habitantes.

A cidade está numa grande encosta que desce até o fundo do vale, onde serpenteia o Rio Douro. Tal como nossa Resende, do alto descortina-se um belo cartão postal.

Eu imaginava encontrar uma cidade com um perfil e um casario muito antigo. Engano. Trata-se de uma cidade toda moderna, com um ou outro casarão antigo. Um encanto de cidade: limpíssima, habitações de bom gosto, modernas e ricas, praças coloridas e bem cuidadas, com uma infraestrutura invejável: belas escolas, museu, biblioteca, estrutura pública de lazer, com piscinas, quadras e aparelhos de ginástica, corpo de bombeiros e um bonito comércio. No ponto mais alto está o “Seminário de Preparatórios da Diocese de Lamego”, cidade importante da região.

O escritor e historiador português padre Joaquim Correia Duarte, atual pároco de S. Miguel de Anreade - Resende, em sua obra Casas e Brasões de Resende (2007), ao estudar os palácios e os brasões da nobreza que habitava na região em épocas muito antigas, lamenta o desaparecimento de algumas preciosas moradias (“paços”) e seu brasões (“pedras de armas)”, esculpidos em pedras. Essas pedras de armas ficavam geralmente à entrada dos palácios. Seu livro contém o estudo e as fotos de 37 paços, 19 com pedras de armas e 18 sem essas pedras e a história de cada uma das famílias que neles viveram desde antigas eras.

Depois de 25 anos de cuidadosa e laboriosa pesquisa, ele escreveu: “eu pude verificar, com certa mágoa, como algumas casas que foram em tempos tão ilustres se encontram desprezadas e como diversos brasões monumentais se apresentam cheios de musgo e de silva, ou partidos em pedaços nos cantos dos quinteiros [quintais]. E tudo isso, por simples desconhecimento e não por faccionismo ou malvadez” (p. 9). Bem, essa história nós já conhecemos: com a nossa Resende aconteceu a mesma coisa. Também sofreu pelo desaparecimento de seu casario antigo, com a diferença de que muitos de seus casarões foram substituídos por construções feias e mal ajambradas.

A Resende portuguesa tem sua atividade econômica maior centrada no plantio da cereja (considerado o maior da Europa), além das tradicionais videiras, que geram os famosos vinhos da região do Douro. Como curiosidade culinária, a cidade é conhecida pelas suas deliciosas “cavacas”, uma espécie de bolo doce, amarelado e com uma cobertura branca, de açúcar em ponto.  Outra curiosidade: as principais famílias de Resende foram os Resendes (famílias das mais antigas e ilustres de Portugal, segundo o padre Joaquim Duarte) e os Castros. Em Resende e região distinguiram-se também as famílias Pinto, Cardoso, Fonseca, Carvalho, Azevedo, Melo, Coelho, Macedo e Abreu, entre outras. São esses sobrenomes que a gente lê nas placas da cidade, sobretudo os Resendes e os Pintos.

Quase “colado” em Resende está a freguesia (povoado) de Anreade, com sua simpática e aconchegante capela da Senhora da Luz, toda construída de pedra. Assistimos a uma parte da missa, com um belo coral atrás do altar. E tivemos o prazer de conhecer o padre Joaquim Duarte, que gentilmente nos recebeu e com o qual acertamos nossos contactos para futuras trocas de informações. Espero que ele nos ajude a esclarecer quando e por qual motivo se deu a emigração de membros da família Resende para os Açores. De lá para o Brasil já temos boas hipóteses e algum documento.

Enfim, essa é a Resende das cerejas. Escreve o padre Joaquim: “No mês de Abril Resende é um paraíso de beleza e brancura. As encostas ribeirinhas do concelho são então terras de noivas encantadas, de coração em festa e alvoroço, cobertas de mantos de alvura e de fulgor”.

  

 

(Quem quiser conhecer a obra acima citada e uma alentada história de Resende, do mesmo autor: Resende e sua História, vol. 1: “O Concelho”, 1994, 861 páginas), basta dirigir-se à nossa Biblioteca Municipal. O Venâncio, ao passar pela Resende portuguesa no ano passado, trouxe essas duas obras e as doou para nossa biblioteca).

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