Passando por Portugal no início de agosto, tive duas gratas surpresas. Para quem, como eu, que me dedico ao estudo de nossa história e de nossas origens, foi um prazer conhecer a cidade de Resende e, em Lisboa, uma descendente direta do nosso inconfidente José de Resende Costa, o filho. Deixo nosso confidente e sua descendente para outra edição do JL.
Orientado desde aqui pelo amigo, ex-aluno e colega do JL, José Venâncio de Resende, fomos (eu e a Beth minha mulher) parar na cidade de Resende, ao norte de Portugal, às margens do Rio Douro. Berço de origem da família Resende, desde os remotos séculos 12 e 13, terá sido de lá que membros da família emigraram, em meados do século 17, para o arquipélago dos Açores e, depois, nos inícios do 18, para o Brasil, indo para nossa região (Lagoa Dourada).
De Lisboa até Porto (bela e interessante cidade), são 2 horas e meia de uma aprazível viagem em moderno e rápido trem. Mais uns 100 km à nordeste, de ônibus ou de trem, chega-se à pequena (uns 3.500 habitantes) e simpática cidade de Resende. É a sede do “Concelho” (município), cuja população é de 13.300 habitantes.
A cidade está numa grande encosta que desce até o fundo do vale, onde serpenteia o Rio Douro. Tal como nossa Resende, do alto descortina-se um belo cartão postal.
Eu imaginava encontrar uma cidade com um perfil e um casario muito antigo. Engano. Trata-se de uma cidade toda moderna, com um ou outro casarão antigo. Um encanto de cidade: limpíssima, habitações de bom gosto, modernas e ricas, praças coloridas e bem cuidadas, com uma infraestrutura invejável: belas escolas, museu, biblioteca, estrutura pública de lazer, com piscinas, quadras e aparelhos de ginástica, corpo de bombeiros e um bonito comércio. No ponto mais alto está o “Seminário de Preparatórios da Diocese de Lamego”, cidade importante da região.
O escritor e historiador português padre Joaquim Correia Duarte, atual pároco de S. Miguel de Anreade - Resende, em sua obra Casas e Brasões de Resende (2007), ao estudar os palácios e os brasões da nobreza que habitava na região em épocas muito antigas, lamenta o desaparecimento de algumas preciosas moradias (“paços”) e seu brasões (“pedras de armas)”, esculpidos em pedras. Essas pedras de armas ficavam geralmente à entrada dos palácios. Seu livro contém o estudo e as fotos de 37 paços, 19 com pedras de armas e 18 sem essas pedras e a história de cada uma das famílias que neles viveram desde antigas eras.
Depois de 25 anos de cuidadosa e laboriosa pesquisa, ele escreveu: “eu pude verificar, com certa mágoa, como algumas casas que foram em tempos tão ilustres se encontram desprezadas e como diversos brasões monumentais se apresentam cheios de musgo e de silva, ou partidos em pedaços nos cantos dos quinteiros [quintais]. E tudo isso, por simples desconhecimento e não por faccionismo ou malvadez” (p. 9). Bem, essa história nós já conhecemos: com a nossa Resende aconteceu a mesma coisa. Também sofreu pelo desaparecimento de seu casario antigo, com a diferença de que muitos de seus casarões foram substituídos por construções feias e mal ajambradas.
A Resende portuguesa tem sua atividade econômica maior centrada no plantio da cereja (considerado o maior da Europa), além das tradicionais videiras, que geram os famosos vinhos da região do Douro. Como curiosidade culinária, a cidade é conhecida pelas suas deliciosas “cavacas”, uma espécie de bolo doce, amarelado e com uma cobertura branca, de açúcar em ponto. Outra curiosidade: as principais famílias de Resende foram os Resendes (famílias das mais antigas e ilustres de Portugal, segundo o padre Joaquim Duarte) e os Castros. Em Resende e região distinguiram-se também as famílias Pinto, Cardoso, Fonseca, Carvalho, Azevedo, Melo, Coelho, Macedo e Abreu, entre outras. São esses sobrenomes que a gente lê nas placas da cidade, sobretudo os Resendes e os Pintos.
Quase “colado” em Resende está a freguesia (povoado) de Anreade, com sua simpática e aconchegante capela da Senhora da Luz, toda construída de pedra. Assistimos a uma parte da missa, com um belo coral atrás do altar. E tivemos o prazer de conhecer o padre Joaquim Duarte, que gentilmente nos recebeu e com o qual acertamos nossos contactos para futuras trocas de informações. Espero que ele nos ajude a esclarecer quando e por qual motivo se deu a emigração de membros da família Resende para os Açores. De lá para o Brasil já temos boas hipóteses e algum documento.
Enfim, essa é a Resende das cerejas. Escreve o padre Joaquim: “No mês de Abril Resende é um paraíso de beleza e brancura. As encostas ribeirinhas do concelho são então terras de noivas encantadas, de coração em festa e alvoroço, cobertas de mantos de alvura e de fulgor”.
(Quem quiser conhecer a obra acima citada e uma alentada história de Resende, do mesmo autor: Resende e sua História, vol. 1: “O Concelho”, 1994, 861 páginas), basta dirigir-se à nossa Biblioteca Municipal. O Venâncio, ao passar pela Resende portuguesa no ano passado, trouxe essas duas obras e as doou para nossa biblioteca).