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Só mesmo em Resende Costa...

11 de Outubro de 2008, por Rosalvo Pinto

Naquela manhã de sábado a moça acordou cedo, toda preocupada. Nem tinha conseguido dormir direito. Afinal, chegara o dia de tirar a tão sonhada e esperada carteira de motorista. Curso, prova de legislação, tudo fora superado. E com brilho. Mas só de pensar no exame de rua, ela sentia escorrer um friozinho insistente espinha abaixo. E se perdesse a calma e desse uma mancada? Lembrou-se, para aumentar seu tormento, daquela conversinha chata de muita gente: é difícil, pra não dizer impossível, passar da primeira vez. Seja lá o que Deus quiser, pensou ela, se aprontando. E partiu para o inesperado.

Parecia uma eternidade, mas até que enfim chegou a sua vez. Entrou meio ressabiada no carro. Nem sequer arriscou uma olhada no examinador à sua direita. Vamos, disse ele secamente, dê na partida e arranque, seguindo em frente. Tudo certinho, sem arranco, seta ligada, lá se foi ela. Aos poucos foi desaparecendo o medo, tudo estava dando certo. Foi subindo a Praça Rosinha Penido, pela esquerda, bem em frente à Escola Estadual Assis Resende.

Entrando na Praça Cônego Cardoso, ela tinha que contorná-la pela esquerda, passando em frente ao hospital. De frente para a casa do Inconfidente, ela virou à direita, chegando bem ao lado da casa do Savinho da Iaiá. Naquele exato instante, ela ouviu uma ordem firme: contorna a praça e pára perto do capacete, lá do outro lado. Um pequeno susto, mas deu pra se recuperar e olhar o outro lado da praça, à sua direita. Conseguiu ver o capacete. Até aqui tudo tranqüilo, ainda deu pra pensar. Subindo um pouco mais, virou à direita bem em frente ao portão da Matriz e continuou já virando à direita novamente. Nem se esqueceu da famosa setinha. Tudo bem, pensou. Mas poucos metros adiante, ela não ouviu mais uma ordem, mas um grito: pára! Páááára!

Foi um susto só. Uma brecada violenta no freio e... se não fosse o cinto de segurança, o examinador teria quebrado a cara no pára-brisa. Ainda sobrou um segundinho pra ela pensar, desolada: mas o que fiz de errado? Não vai dar, perdi, levei ferro... Custou ouvir o examinador: eu não te disse para parar perto do capacete? O cone, desses cones laranja-brancos sinalizadores de rua, com um capacete sobre sua ponta, tinha ficado para trás. Ela ainda teve força e coragem para apenas balbuciar: foi, mas o capacete está lá adiante! E ainda sobrou uma mão meio trêmula para apontar na direção do Dudu do Orozimbo, de pé, alguns metros abaixo, perto da casa paroquial.

Agora era o examinador que não entendia mais nada do que estava acontecendo. Que capacete, que eu não estou vendo? Olha ele lá, aquele rapaz, aquele em pé na calçada, ainda teve forças para argumentar. É ele, ele é que é o Capacete. Só lhe faltou naquele momento de nervosismo a proeza de até pronunciar o nome com “c” maiúsculo. Nesse momento caiu a ficha para o examinador. Ainda intrigado, achando que se tratava de uma brincadeira, alguma gozação, ele saiu do carro e chamou o rapaz. Você que é o Capacete? Ainda meio desconfiado, ele perguntou a duas outras pessoas que estavam por ali. Todos confirmaram. Era ele mesmo. Em carne e osso. E ainda por cima, sem capacete!

A moça estava lá, sem coragem de sair do carro. Naquele momento de angústia, caladinha, já esperava pelo pior. Ele entrou novamente no veículo. Com o rabo do olho ela ainda o viu pegar a prancheta e rabiscar algumas coisas. Rabiscos ininteligíveis, na certa uma condenação assinada, segundos que pareciam horas. Mesmo assim, já resignada, ela ainda tentou agüentar a barra para ouvir o veredicto final: moça, pode sair, você está aprovada!

Cousas como essa, só mesmo em Resende Costa!

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