Há dias vinha rascunhando este texto quando, no dia 28 de janeiro passado, dei de cara com um artigo do Fernando Brant, no Estado de Minas, com o título de “As mãos atadas de um cidadão”. Até parecia que ele queria se comunicar comigo para compartilhar um mesmo sentimento de tristeza. Vou dialogar com ele, desviando o meu olhar de Belo Horizonte para minha terra. Aliás, de há muito venho tentando fugir do espetáculo de desrespeito ao cidadão da cidade onde moro, Belo Horizonte, para me refugiar em nossa cidade, em busca de uma vida mais tranquila, respeitosa. Mas de tempos pra cá, ao ouvir meus amigos de nossa cidade se queixarem do que acontece por aí, acho que devo continuar procurando outro lugar...
Vandalismo, desrespeito, malandragem, roubos, crimes e outras mazelas são consequências imediatas e visíveis de falta de educação. E se revelam nas pequenas coisas do dia-a-dia, na falta de cidadania de nossa geração, de jovens e de adultos. Coisas pequenas, mas que denotam falta de respeito para com as pessoas com quem convivemos. É uma garrafa quebrada e jogada na rua, no fim de noite. São os sons barulhentos de carros, buzinas, bares, bailes e gritos que incomodam o sono dos que querem (e precisam) dormir. É uma lata de cerveja jogada nas ruas, estradas e nos lotes vagos. É uma árvore quebrada ou arrancada na rua. É o lixo e o entulho na beira das estradas. É a pichação de paredes e equipamentos públicos. É o absurdo de escrever “Zeiro” e pintar uma raposa numa placa indicativa de trânsito: tipo de mazela que, triste reconhecer, já chegou até em nossa cidade. Vejam a foto. “De que serve as pessoas frequentarem escolas e se diplomarem, se a rua é para elas lata de lixo e as regras de trânsito e de convivência não merecem o respeito de suas majestades?”, pergunta revoltado e decepcionado o Fernando Brant no seu artigo. Parece que ele está vendo os carros cruzando com velocidade exagerada as ruas de nossa ex-pacata cidade, como se ela fosse Mônaco em dia de fórmula 1. E ele continua: “A falta de educação e cultura é a saúva do Brasil, a formiga que tudo come e nos impede de ser um país mais decente”.
Doloroso o título (e o teor) deste texto, não? Pois é, mas é o retrato-resumo do nosso país. E o pior, começa a se aplicar também a nossa cidade. Pessimismo, dirão alguns. Realismo, insisto eu. Basta olhar nossas cidades, as manchetes dos (tele)jornais, nosso trânsito, nossos políticos, nossas rodovias, a incorrigível e deslavada corrupção. É o que vemos e ouvimos dia e noite. Infelizmente, por uma série de fatores sócio-históricos, nos transformamos numa sociedade da malandragem. Chegamos ao cúmulo de cultuar o malandro como se fosse um valor cultural e um herói nacional.
Como cidadão, como enfrentar essa situação? Numa atitude de covarde escapismo, fugindo para lugares onde ainda existe um mínimo de respeito pela cidadania, no exterior ou em algumas cidades do interior do nosso país. Outra atitude, essa de consciente cidadania, é tentar contribuir para resolver o problema. Impossível? Não. Difícil? Sim, mas vale tentar. Afinal, trata-se um problema de educação. Muito mais educação dada pela família, do que a esperada educação dada pela escola. Não adianta colocar todas as crianças e jovens brasileiros na escola, por melhor que ela seja. Isso é até o mais fácil de se fazer, basta vontade política de nossos governantes. Mas a escola não faz milagres. Ela apenas contribui para refinar e consolidar a educação recebida em casa e, ao mesmo tempo, transmitir conhecimentos e saberes necessários ao desenvolvimento das pessoas. O problema crucial é que nossas escolas estão cheias de crianças e adolescentes que, além de serem impermeáveis às ações educativas, ainda comprometem o trabalho educativo e corrompem os educandos que já trazem uma boa formação familiar.
Enquanto não eliminarmos a saúva destruidora do desrespeito e da falta de educação, continuaremos patinando em nossas mazelas. Mas antes, seria fundamental fazer uma reforma radical em nossa Constituição. Dos seus duzentos e tantos artigos deveríamos, seguindo a sábia sugestão de nosso ilustre historiador, Capistrano de Abreu, reduzi-la a apenas dois:
“Artigo primeiro: Todo brasileiro deve ter vergonha na cara.
Artigo segundo: Revogam-se as disposições em contrário”.
Vandalismo, desrespeito, malandragem e outras mazelas
07 de Fevereiro de 2009, por Rosalvo Pinto

Vandalismo em placa indicativa de trânsito
Leitor do JL - 14/02/2009
Alguem tem que dar o GRITO!Parabéns!
Leitor do JL - 14/02/2009
Ainda bem que tem pessoas como VOCÊ,que fala pela gente!
Obrigado!