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Where are we? In the United States or in Brazil?

11 de Dezembro de 2013, por Rosalvo Pinto

Em princípios dos anos 50, o padre salesiano (e músico) Ralfy Mendes de Oliveira, com seu perspicaz “feeling” (!), compôs uma marchinha muito interessante. Mal sabia ele o que viria pela frente. Vejam o estribilho e apenas uma das estrofes:

           

“Agora todo mundo anda dizendo por aí,

            ‘Good bye, good bye, boy’.

            Eu acho que essa gente precisava em vez de inglês,

            Aprender um pouco mais de português, O.K, O.K!

                        “How do you do”, diz o engraxate;

                        “Very well”, responde o carroceiro.

                        Até a cozinheira lá de casa vem com essa:

                        ‘Patrão, tá tudo bão, tá tudo O.K. O.K., O.K.!’”

  

Natal à vista, ao abrir o jornal Folha de S. Paulo (FSP) por esses dias, levei um susto. Pensei que estava em New York. Mas estava em BH mesmo.    

Aí, resolvi passar uma semana no Nordeste antes do Natal. Então, saí procurando hotéis na FSP. Fiquei na dúvida entre o Iberostar Bahia, ou o Prodigy Beach Resort, ou o Ocean Palace Resort. Acabei ficando com o Vila Galé Cumbuco. Pelo menos parecia alguma coisa de brasileiro.

Mas Natal sem presente não é Natal. Então saí a procurar regalos nas propagandas da FSP para presentear meu sobrinho. Vi o “Nintendo 64, um dos primeiros títulos foi o ‘Super Mario 64’, que levou o encanador italiano ao mundo tridimensional pela primeira vez e inspirou os criadores dos jogos da série “Grand Theft Auto” e muitos outros projetistas. E, claro, o primeiro Wii vinha acompanhado pelo “Wii Sports”. Não gostei muito desse. Olhei o novo “Zelda”. O vendedor me falou que “cada novo jogo tem um truque para ajudar Link a salvar o mundo. Em ‘The Legend of Zelda: a Link Between Worlds’ que saiu neste mês para o portátil Nintendo 3DS, o truque é que Link pode se aproximar de qualquer superfície lisa...”.  Acho que esse é o melhor. E comprei. Sei lá o que é isso, mas meu sobrinho de 3 anos com certeza já sabe. Pode embrulhar.

Ah, mas estava me esquecendo do meu filho que passou no vestibular. Merecia um bom presente. Fiquei na dúvida entre telefone ou câmera e os quatro modelos: o Samsung Galaxy 54 Zoom, o Sony Xperia Z1, o Nokia Lumia 1020 e o iPhone 5s. Afinal, fiquei com o “iPhone 5s”, pois ele “tem disparo muito rápido, ótimo software para organizar imagens e app simples de usar”. Sei lá o que é isso, mas esse último com certeza deve ser o melhor. Está lá na Loja “Tour Bike”.

 Mas para crianças na faixa de 3 a 4 anos sugiro os brinquedos: “Show de Mágicas Mickey Club House Disney – Xalingo” ou o boneco “Iron Man 3, com 3 armaduras”  (Lojas Americanas), ou a boneca “Monster High Scaris Ghoulia Yelps, bem barata, (Walmart) ou então a boneca Monster High 1600 anos Clawd Wolf”. Tenho uma ligeiríssima impressão de que o melhor mesmo deve ser este último.

Mas eu também sou filho de Deus e vou comprar um presente para mim. Fiquei na dúvida se compraria uma bicicleta “Airwalk Vintage City 700”, que está em promoção na Loja “Tour Bike”, ou então um tênis Adidas. Olhei todos e chamei o vendedor. Imaginem eu pedindo ao vendedor – que a essa hora certamente iria gostar de ser chamado de “seller” -: “seller, please, I want to buy a tennis Porsche Design Sport Run Bounce 52”... E seja lá o que Deus quiser.

Lá na seção “Ilustrada” da FSP, tentei ler o texto cujo título era “#euzinho”. O subtítulo informava: “Evolução das câmeras de celular e avanço de redes sociais elevam autoretratos digitais, as ‘selfies”, a fenômeno cultural de massa”. Fiquei matutando comigo mesmo: “self” quer dizer “a si mesmo”. Será que foi daí que terá vindo o famoso almoço “serv-servis” que inundou o  Brasil? Nós tupiniquins pensamos que o “self” do “self service” seja alguma coisa referente a “servir’, pois é comida que a gente   serve...  Pois é, a moda agora é fazer caretas e autofotografar o #euzinho. Quanto mais exótica a careta, melhor o “selfie”. Bacana, né?. A autora da reportagem escreveu: “Até a conclusão desta edição, a hashtag #selfie havia sido usada 58 milhões de vezes no Instagram. Entre os lusófonos, a prática se estende à hashtag #eu, com 2,5 milhões de uso”. - Você entendeu? - Não? - Então o seu selfie está muito fraco. Cuide dele.

Em meio a essa dominação toda, há aqueles que gostam de esnobar (olha o inglês aí...) e acabam se dando mal. Conta-se que pouco depois da 2ª Grande Guerra o presidente americano Harry Truman se encontrou com o Marechal Eurico Dutra, nosso presidente. Truman apertou-lhe a mão e apressou-se a saudá-lo: “How do you do, Dutra? Ao que, empolgado, mais que depressa respondeu o nosso poliglota presidente: “How too you too, Truman?”.

Pena que o padre Ralfy faleceu no ano passado. Se ele estivesse vivo, é bem provável que hoje ele alterasse parte do seu estribilho:

“Eu acho que essa gente precisava em vez de português,

 Aprender um pouco mais de inglês!”

Pronto, fico por aqui. Desculpem-me as muitas aspas: o texto tem mais inglês do que português. Vou fechando o meu “The New York Times”, oh!, desculpem-me, o meu “Folha de S. Paulo”...

 

Good bye, boys! Good bye, tribos da geração “Z”!

Comentários

  • Author

    Fantástico esse texto, muito cultural e divertido. Falando sério a respeito dos idiomas, precisamos dos dois idiomas. Rosalvo vc é um intelectual e sábio. Parabéns!


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