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Crise política e institucional é a aposta temerária de Bolsonaro

17 de Marco de 2020, por Fernando Chaves

O cenário nacional é de falência administrativa do governo e insucesso econômico, com todo o agravamento trazido pela crise internacional do Coronavírus. O que o presidente da República tem feito? Não arreda o pé um milímetro no seu jeito de fazer política: mantém viés autoritário e personalista no trato de todas as questões, antagoniza com o Congresso, ataca instituições (científicas, políticas, jurídicas), comete quebra de decoro e crime de responsabilidade reiteradamente.

Nesse quadro, o governo perde, aos poucos, também o apoio estratégico de setores do mercado. Imaginem o quanto confiantes no Brasil ficam os investidores quando o presidente convoca manifestações contra instituições como o Congresso Nacional e o STF, ou quando ele próprio comparece em protesto de rua contrariando todas as recomendações internacionais de prevenção ao Coronavírus.

Esse conjunto de variáveis (postura autoritária e personalista do presidente, conflito com os demais poderes da República, recessão econômica, chegada do Coronavírus) pode levar o Brasil a uma crise política e institucional sem precedentes.

Se lermos um pouco da nossa história, veremos que esse tipo de conjuntura política e de reação presidencial costuma, com efeito, levar o chefe de Estado à renúncia ou à deposição. Dificilmente Bolsonaro chega a 2022 sem enfrentar a abertura de um processo de impeachment. Ele talvez já esteja, inclusive, traçando estratégias de posicionamento para quando o processo vier.

A abertura de procedimento de impeachment pelo Congresso colocaria Bolsonaro no centro das atenções do país. Se fazendo de vítima do sistema e da “velha política”, o presidente tentaria sair mais forte do processo de impedimento, como Trump, embora esse seja um desfecho menos provável no caso tupiniquim. É bem possível que o presidente reaja convocando a população às ruas, ameaçando fechar o Congresso e denunciando suposta tentativa de golpe parlamentar. A questão central é que Bolsonaro não teme esse tipo de jogo. O caos institucional e a população dividida são a aposta temerária desse presidente, que é um mestre cretino no jogo da desinformação e da despolitização.

Setores insatisfeitos, incluindo o próprio presidente da Câmara, Rodrigo Maia, já têm bons motivos para articular a abertura de um processo de impeachment, mas provavelmente aguardam momento mais propício politicamente e, por enquanto, testam a popularidade do presidente da República. As eleições municipais poderão ser um bom termômetro do derretimento ou não do bolsonarismo. Podem se converter num divisor de águas dentro do mandato presidencial.

A política é um campo social de grande imprevisibilidade. Mas o cenário que se desenha atualmente é esse. O conflito entre o Congresso e o Executivo é uma queda de braço que não deve amenizar enquanto Bolsonaro for presidente. Historicamente, no Brasil isso geralmente termina em renúncia ou deposição presidencial, ainda que exista a possibilidade de uso político de um processo de impeachment pelo próprio Bolsonaro.

 

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