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O tripé da economia do artesanato e a necessidade de uma política de proteção patrimonial

27 de Novembro de 2018, por Fernando Chaves

O município de Resende Costa, localizado na região do Campo das Vertentes, em Minas Gerais, vem se consolidando há décadas como centro produtor e comercial atacadista de artesanato, sobretudo o têxtil.  Além de abastecer pequenos, médios e grandes estabelecimentos comerciais espalhados por vários estados, como Rio de Janeiro, São Paulo, Minas Gerais, Paraná etc., o município é integrante de uma rota de turismo regional no Campo das Vertentes, onde se apresenta como um ponto de passagem ou um destino para o turismo de compra no ramo artesanal e, nesse sentido, oferta uma ampla diversidade de produtos além do têxtil: artesanato em madeira, ferro, pedra, cerâmica, crochê, dentre outros tantos.

Em paralelo com o aumento e a profissionalização do comércio de atacado voltado para revendas, o turismo de compra veio se ampliando desde as décadas de 80 e 90, para dar um salto nas décadas de 2000 e 2010, o que deu mais solidez e dinamismo à economia de produção e comércio do artesanato em Resende Costa. Essas são as duas linhas fundamentais e já consolidadas de venda do artesanato no município: (1) a negociação no atacado; (2) o turismo de compra. Com a chegada desse turismo incipiente, veio uma expansão gradativa da oferta de pousadas, bares e restaurantes e uma estrutura básica veio sendo montada para receber melhor os visitantes. 

Entretanto, o crescimento e a consolidação do segmento turístico esbarram em um fato reconhecido por todos os resende-costenses: esse turismo de compra sempre foi caracterizado pelo curto período de permanência dos visitantes na cidade. Na maioria das vezes, não se hospeda nenhuma noite em Resende Costa. Predomina o turismo conhecido como “bate-volta” e, com grande frequência, o turista que está inserido em outros roteiros regionais, que envolvem principalmente Tiradentes e Bichinho, mas também Prados, São João del-Rei e outras cidades, reservam sua vinda a Resende Costa para a estrita finalidade de conhecer e comprar o artesanato produzido e comercializado na cidade. Hospedar-se não está no planejamento.

É nesse ponto que a Asseturc (Associação Empresarial e Turística de Resende Costa) e parte do empresariado local já estão percebendo que precisam atuar: o fortalecimento do turismo de permanência, que completa o nosso tripé. No entanto, há grandes desafios para o estabelecimento efetivo desse tripé econômico, que envolve negociação do artesanato no atacado, turismo de compra e turismo de permanência.  Obviamente, um lugar para o turista permanecer precisa de atrativos, de programação, de identidade cultural, de originalidade, de diferencial, de história, de patrimônios preservados.

Resende Costa precisa ser mais eficiente em oferecer atrações para o visitante. O artesanato é capaz de trazer o turista, mas é insuficiente na tarefa de fazê-lo permanecer na cidade. O que fazer então? Cabe à sociedade e ao poder público, além dos empresários, construir uma política municipal de preservação e valorização dos patrimônios culturais e naturais que possam se configurar como atrativos e sejam estratégicos para o fomento do turismo de permanência.

Se Resende Costa quer mesmo investir em um projeto de expansão e consolidação do turismo no médio e no longo prazo, ocupando também o nicho do turismo de permanência, é preciso desenvolver a consciência patrimonial, com ações concretas que garantam a proteção e valorização do espaço público. É preciso transformar a mentalidade e a cultura de naturalização da apropriação do público pelo privado. Essa cultura perpassa o poder público e a sociedade.  Deve haver a compreensão de que a identidade cultural e urbana de Resende Costa é um bem valiosíssimo que pertence à coletividade. A riqueza cultural, a originalidade urbanística, o equilíbrio paisagístico de Resende Costa são bens preciosos que podem contribuir para maior pujança turística e econômica da cidade.

Não é apenas o imóvel particular ou a propriedade privada que necessitam da defesa aguerrida do cidadão. Aquilo que nos dá nome e história, que nos diferencia, que distingue o espaço urbano resende-costense e que é o substrato elementar para a construção de um projeto sustentável e duradouro de turismo cultural, está definhando. Sem uma política pública de proteção e valorização do espaço urbano, ficará cada vez mais difícil a aventura de construção de Resende Costa como um destino turístico de permanência.

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