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O lado oculto da Lua

11 de Marco de 2019, por Rodrigo Silva

Foto tirada pela sonda Chang’e 4 na superfície do lado oculto da Lua

É senso comum que a Terra realiza dois movimentos: o movimento de rotação em torno do próprio eixo (responsável pela alternância entre dia e noite) e o movimento de translação em torno Sol (responsável pelas estações do ano – primavera, verão, outono e inverno). Além disso, também é do conhecimento de todos que, de forma semelhante, a Lua (satélite natural do nosso planeta) possui o movimento de translação em torno da Terra (responsável pela ocorrência das fases lunares – nova, crescente, cheia e minguante). Não obstante, há um fato que muitos desconhecem: a Lua também possui movimento de rotação em torno de si mesma; o que proporciona uma curiosa consequência: nós terráqueos vemos somente um único lado da Lua!

Se a Lua não girasse em torno de si mesma, poderíamos ver toda a superfície lunar à medida que a mesma dá uma volta completa ao redor da Terra. Mas o que de fato acontece com a Lua (algo muito curioso, inclusive) é que as velocidades de rotação em torno de si mesma e de translação em torno da Terra estão em perfeita sincronia entre si, de forma que um observador que esteja na Terra verá sempre o mesmo lado do satélite, nunca verá o lado oposto.

O “lado oculto” da Lua foi, por muito tempo, alvo de grandes teorias da conspiração, como a engraçada afirmação de que lá seria o território de bases alienígenas que nos observam e nos estudam constantemente. A curiosidade acerca de tal conjuntura permaneceu até 7 de Outubro de 1959, quando a sonda soviética Luna 3 nos forneceu a primeira fotografia desse território até então nunca visto. A tecnologia espacial utilizada para a captura de imagens ainda possuía algumas limitações, portanto a primeira fotografia do lado oculto da Lua não apresenta alta resolução.

 Explorando o lado oculto da Lua

Nas últimas décadas, a Lua foi objetivo de estudo em diversas missões tripuladas e não tripuladas – a grande maioria foi feita somente em órbita (sem pousar na superfície lunar). Após a última missão tripulada (Apollo 17, realizada em Dezembro de 1972), a última missão não tripulada a pousar na superfície do satélite foi a sonda chinesa Chang’e 3, em dezembro de 2013. O fato é que todas essas missões haviam pousado somente na parte visível da Lua, até o presente ano de 2019.

A sonda chinesa Chang’e 4 (nome recebido em homenagem a uma deusa da mitologia chinesa que, segundo a crença, habita a Lua) pousou no lado oculto do satélite no dia 3 de janeiro de 2019, portando um veículo cujo objetivo é o estudo da composição do terreno e o relevo da área, a fim de proporcionar pistas a respeito das origens e da evolução da Lua. A Change 4 levou consigo (num pequeno recipiente lacrado) sementes de algodão, colza (planta utilizada na produção de biodiesel), batata e arabidopsis (uma semente da família das Brassicaceae, a que também pertencem as couves e mostardas), bem como ovos da mosca da fruta e algumas leveduras; tudo isso para fins de análise quanto à germinação, o crescimento e a respiração desses espécimes em condições de baixa gravidade na superfície lunar. As leveduras serviriam para regular o dióxido de carbono e oxigênio do recipiente, enquanto as moscas seriam consumidoras do processo de fotossíntese das plantas.

 O que foi descoberto até o presente momento: o lado oculto da lua é bem mais frio do que se pensava

Devido às características naturais próprias, a Lua apresenta extremos quando o assunto é temperatura: valores extremamente altos quando a luz solar incide sobre o satélite e extremamente baixos quando não há luz. A temperatura mais baixa até então conhecida foi registrada pelos equipamentos norte-americanos durante a missão Apollo na década de 1970 – um valor de 170º C negativos. A sonda chinesa registrou um recorde de 190º C negativos, o que provavelmente se dá devido às diferenças na composição do solo lunar entre um lado e outro.

 Algodão semeado na lua

Na “mini biosfera” montada pelos chineses, que continha sementes, ovos de moscas-de-fruta e leveduras, somente as sementes de algodão germinaram. Porém, por pouco tempo. Com a chegada da noite lunar e a brusca queda de temperatura, o veículo explorador entrou em modo de dormência, momento em que os chineses anunciaram o fim do experimento com as plantas e a morte da plantinha de algodão.

 O que vem por aí

A Administração Nacional Espacial da China evidenciou que vem por aí a Chang’e 5, que será lançada por volta de Dezembro de 2019. A missão da Chang’e 5 será a obtenção de amostras do solo da superfície do lado oculto da Lua, que serão trazidas para a Terra. Esta será a primeira vez que amostras do solo lunar serão trazidas para a Terra desde que a sonda soviética Luna-24 trouxe amostras da superfície da Lua em 1976. Porém, será a primeira vez que serão trazidas amostras do lado oculto da Lua!

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