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Na pandemia, cuide mais de sua saúde mental!

14 de Junho de 2020, por João Magalhães

Os problemas de saúde mental vêm aumentando durante a pandemia da Covid-19 com o isolamento social forçado, segundo estudo da Universidade Estadual do Rio de Janeiro (UERJ), publicado on-line pela Lancet, revista cientifica das mais conceituadas do mundo.

De acordo com o artigo, ainda em revisão pela comunidade científica, percebe-se um aumento exponencial no número de atendimento psiquiátrico nesta crise. É o que relatam os especialistas. Mas se dá também o contraponto: é significativo o número de pacientes que abandonaram o tratamento por falta de condições. Uma abordagem dos dados com consequente reflexão sobre eles, levada a sério, poderá contribuir para reforçar o zelo pela nossa saúde mental. O levantamento feito pela UERJ revelou que os casos de ansiedade e estresse mais que dobraram, enquanto os de depressão tiveram aumento de 90%.

Mulheres são mais propensas a sofrer ansiedade e depressão durante epidemia. As que trabalham fora ainda mais, sobrecarregadas que são pelos trabalhos domésticos e cuidados com os filhos e, frequentemente, também com seus ascendentes, em grande parte, idosos.

Fala o doutor Alberto Filgueiras, do Instituto de Psicologia da UERJ, coordenador do trabalho: “Trabalhadores que precisam sair de casa durante a quarentena, entregadores, pessoas que trabalham no transporte público, ou supermercados, profissionais de saúde, todos apresentam indicadores mais elevados quando comparados aos que estão em casa. Eles se veem mais vulneráveis à contaminação e, por isso, mais ansiosos e estressados.”

Para Filgueiras, no caso de depressão, as principais causas em tais circunstâncias são idade avançada, o baixo nível de escolaridade e o medo de passar a infecção para pessoas mais vulneráveis. E completa: “A presença de um idoso em casa, que são pessoas mais vulneráveis e que têm um maior potencial de letalidade, gera um nível de estresse aumentado pelo temor de passar o vírus.”

E o doutor Louza, psiquiatra do Hospital das Clínicas/SP, resume: “Eu diria que o fator mais importante é o medo e a incerteza de algo que você não tem controle. São vários fatores, mas acho que o principal é esse receio, esse medo de uma doença potencialmente fatal.”

 

Dados do estudo. Entre 20 de março e 20 de abril últimos, 1.460 pessoas de 23 Estados responderam a um questionário on-line com mais de 200 perguntas. Trabalho coordenado por Filgueiras e Mattew Stults Kolehmainen, do Hospital Yale New Haven, nos EUA. Os resultados sugerem um agravamento preocupante da situação desde o início da epidemia.

Na primeira rodada (20 a 25 de março), sintomas de estresse agudo em 6,9% dos entrevistados; na segunda rodada (15 a 20 de abril), os sintomas aumentaram para 9,7%.

Nos casos de depressão, o salto foi de 4% para 8% e a crise de ansiedade pulou de 8,7% para 14,9%. Mais ou menos conforme previsão da Organização Mundial de Saúde (OMS), que é de 8,5% – 7,9% – 3,9% para estresse, ansiedade e depressão, respectivamente.

De acordo com a pesquisa, quem recorreu à terapia on-line e praticou exercícios físicos apresentou índices menores de estresse e depressão. Da mesma forma, aqueles que puderam continuar praticando exercícios aeróbicos tiveram melhores resultados do que os sedentários e aqueles que não praticam exercícios de força.

Porém, o doutor Filgueiras alerta: “A pressão social para exercitar, por exemplo, pode acabar impondo ainda mais estresse às pessoas. Respeita seu estilo de vida e limites”!

Os profissionais orientam as pessoas a pedirem ajuda quando sintomas que julgam preocupantes aparecem. Sintomas fisiológicos como insônia – taquicardia – falta de energia para executar tarefas (lentidão psicomotora) e cognitivos como irritabilidade – solidão – melancolia – insegurança – pensamentos negativos – desesperança.

Esses estudos trazem um alerta: o risco de uma onda de doenças mentais. Elas seriam o resultado da reação das pessoas diante da impossibilidade de voltar a viver no mundo que existia antes da pandemia. Por ora, uma realidade que se impõe e irá testar a capacidade de adaptação de cada um de nós.

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