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Setembro amarelo e a morte autoinfligida

17 de Setembro de 2019, por João Magalhães

A Associação Internacional para a Prevenção do Suicídio e a Organização Mundial de Saúde (OMS) criaram em 2003 o Dia Mundial de Prevenção do Suicídio – dia 10 de setembro – com o objetivo de prevenir o ato, por meio de estratégias de trabalho com os países que participam da OMS.

 

Por que a cor amarela? Segundo a Associação Catarinense de Psiquiatria, a cor da campanha foi adotada por causa da história que a inspirou. Em 1994, um jovem americano de apenas 17 anos, chamado Mike Emme, tirou a própria vida dirigindo seu carro amarelo. Seus amigos e familiares distribuíram no funeral cartões com fitas amarelas e mensagens de apoio para pessoas que estivessem enfrentando o mesmo desespero de Mike. E a mensagem foi se espalhando mundo afora. O carro era um Mustang 68, restaurado e pintado pelo próprio Mike. Os pais de Mike, Dale Emme e Darlene Emme, iniciaram a campanha do programa de prevenção do suicídio fita amarela, ou yellowribbon, em inglês.

 

Por que as pessoas se matam? Resposta difícil. As causas são inúmeras e multifatoriais: propensão genética, distúrbios emocionais, transtornos psiquiátricos, traumas familiares, bulling generalizado e muitas mais. O ato decisivo, ou seja, o aperto do gatilho, pode ser motivado por uma causa, ou mistura de várias. Cada suicida tem seu histórico.

 

Crescem os casos. A maior frequência continua entre os idosos, mas observa-se um aumento significativo na faixa jovem. As crescentes estatísticas apontam para um caso de saúde pública muito sério. Portanto, a prevenção é muito importante.

 

Como prevenir? O psiquiatra Jairo Bouer resume: “Para prevenir o suicídio é fundamental quebrar tabus em relação à saúde mental, fazendo pessoas e familiares reconhecerem problemas emocionais graves e quadros psiquiátricos, como depressão, esquizofrenia e abuso de substâncias como ameaças concretas à vida. Essa questão é ainda mais sensível na população masculina, em que cobranças sociais e a margem para lidar com eventuais crises são tão estreitas. O desafio é vencer o silêncio que cerca a vida emocional de boa parte de nós. É importante estar alerta e oferecer suporte para quem precisa.”

 

Assunto tabu. Ainda permanece em nossa sociedade a ideia: quem vai a psiquiatra é doido. Há que se desfazer tal conceito. E a voz agora é do doutor Paulo Chapchap, referência mundial em transplantes de fígado e diretor do complexo hospitalar Sírio Libanês, em São Paulo, comentando a contribuição do fator emocional para a doença: “Estamos em uma época em que poderíamos falar em epidemia de doenças mentais, distúrbios de ansiedade e de depressão. O uso de remédios para isso é cada vez maior. Sabe-se que o índice de suicídios vem aumentando em algumas sociedades, em especial entre jovens. É preciso lidar com isso de forma mais preventiva, quanto ao distúrbio e também quanto à consequência do distúrbio. Às vezes isso leva à perda de vidas por falta de tratamento adequado.”

Quanto ao tratamento adequado, cabem perguntas: Quantos psiquiatras atendem pelos planos de saúde? “Onde no Brasil você consegue marcar consulta com psiquiatra em menos de três meses na rede pública?” (Pergunta do presidente da Associação Brasileira de Psiquiatria (ABP) em 2016). Onde você encontra pronto atendimento em psiquiatria? Quantos têm condições financeiras de comprar os remédios psiquiátricos, a maioria muito caros?   

Voltando à prevenção e “pósvenção”, entendendo por “pósvenção” a preocupação com os familiares e conviventes após a tragédia, acredito que atuações positivas de grupos presentes nas redes sociais, como, por exemplo, no Facebook, no WhatsApp etc., ajudam muito. Trata-se de usar a mesma arma contra influências negativas do mesmo jaez.

Por fim, mais uma estatística: 2017, Estados Unidos:  39.733 mortes por arma de fogo (Viva! Vamos liberá-las!). Destas, 60% suicídios, portanto: 23.839! Em 3 anos, os assassinatos por armas cresceram 32% e em uma década os suicídios cresceram 41%. O malogro de suicídio por arma de fogo é bem mais difícil de acontecer. Portanto, favorecer armas é colaboração. Pode ser indireta, mas é.

O psiquiatra João Romildo Bueno informa: “Cerca de 70% das pessoas avisam de alguma forma que vão tentar se matar.” Ficar alerta para alguma sinalização de tal tipo, mobilizar e agilizar sistemas de ajuda, é uma atitude humanitária de extrema grandeza.

É o que penso. E você?

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