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Culpa perdão e responsabilidade

15 de Outubro de 2013, por Carlos Alexandre de Resende

“A culpa foi minha”; “Não consigo tirar isso da cabeça”; “Por que fui fazer uma coisa daquelas?”; “Não devia ter dito o que eu disse”; “Não deveria ter feito o que eu fiz”; “Não deveria ter entrado nessa”; “Por que deixei que os outros escolhessem por mim?”; “Por que deixei que fizessem isso comigo?”; “Devia ter lutado pelos meus sonhos?”; “Por que não disse o que queria ter dito?”; “Não deveria ter gastado tanto”; “E se eu tivesse escolhido outro caminho?”; “Por que não aproveitei mais os momentos com quem amo?”; “Por que não pensei melhor?”; “Por que não arrisquei?”; “Por que não fui bom (boa) o suficiente?”; “Se eu tivesse trabalhado mais...”; “Se eu tivesse estudado só mais um pouquinho”; “Nossa, como engordei. Por que fui comer tanto?”; “Não deveria ter deixado aquele amor escapar. Devia tê-lo vivido”; “Não deveria ter bebido tanto”; “Não vi meus filhos crescerem”; “Por que sinto uma coisa dessas. Isso não é certo”; “Mas, uma boa mãe não sente uma coisa dessas pelo seu filho”; “Como pude gostar de alguém que me faz tão mal?”; “Por que não me assumi antes?”; “Se eu pudesse voltar atrás faria tudo diferente”.

Provavelmente, o leitor já disse ou sentiu algo parecido com alguma dessas falas. Poderia passar o resto do texto escrevendo outras parecidas. São frases soltas, que, evidentemente, não identificam ou expõem as pessoas que as falaram. É o que escuto praticamente todos os dias, no consultório. Angústia: sofrimento, pesadelos e insônias, transtornos de ansiedade e depressões, quase sempre a culpa (consciente ou inconscientemente) está presente. Seja por algo feito, realizado, ou ainda por uma omissão, algo que se deixou passar. Muitas vezes as pessoas sofrem semanas, meses, anos e até uma vida inteira, sendo vítimas do arrependimento, de ressentimentos (ressentir: sentir de novo, ruminar tristezas e frustrações), remoendo coisas, se culpando. Sentem que falharam com os outros e, principalmente, consigo mesmas.

Nesse ponto a questão do perdão é central. Não falo aqui do tão defendido perdão ao próximo (também libertador de ressentimentos), mas sim do perdão a si mesmo. Nunca escutei alguém angustiado, que não precisasse se perdoar de algo, deixar passar e seguir em frente.

 

Mas o que seria o perdão a si mesmo? Não é esquecer o que se fez ou deixou de fazer (de algumas coisas nunca se esquece), mas, sim, “pegar leve comigo mesmo” e dar um novo significado para o que foi ou deixou de ser vivido, ver com outros olhos, com uma nova perspectiva, livrar-se dos ressentimentos. É o desafio de reescrever sua história longe das ruminações e das amarras da culpa. Encarar a situação de frente, assumir e aceitar seus sentimentos. Como costumamos dizer nos consultórios, a culpa não serve para absolutamente nada a não ser nos fazer sofrer. Perdoar-se é, em última análise, trocar a culpa pela responsabilidade: “Já está feito. Preciso me responsabilizar pelas consequências de meus atos ou omissões”. Na maioria das vezes um processo lento, difícil e até doloroso, mas que no fim é curativo e libertador.

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