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Tempos Modernos

13 de Setembro de 2013, por Carlos Alexandre de Resende

Em 1908, Sigmund Freud, o criador da psicanálise e um dos pilares da psicologia como campo de conhecimento e de aplicação clínica, escreveu um breve e denso artigo: Moral Sexual Civilizada e Doença Nervosa Moderna. Longe de nos prendermos à teoria da psicanálise, o que mais me chama atenção na reflexão sobre o texto é que, quanto mais a humanidade avançava em sua civilização, maiores ficavam as exigências e restrições sobre as satisfações do sujeito e, consequentemente, maior a incidência de doenças nervosas.

Freud já se atentava para uma nova e gritante realidade, a sensação de que a vida estava mais complexa e exigente, passando mais rapidamente, e o tão precioso tempo parecia insuficiente e escorria por entre os dedos. Invenções que deveriam ser facilitadoras da vida moderna, como por exemplo, o domínio da eletricidade e a possibilidade da luz elétrica, a rapidez na viagem de trem a vapor, a eficiência da comunicação pelo telégrafo, a complicaram e aceleraram. A tecnologia aumentou a carga de trabalho e de compromissos, ao invés de diminuí-los.

O que ele pensaria se pudesse observar nosso dia-a-dia mais de 100 anos depois? Hoje, no século XXI, o avanço tecnológico é muito maior e a sensação de que a vida corre mais rápida é quase generalizada: “Nossa! Já é setembro?”.

Vivenciamos experiências com os mais recentes facilitadores da vida contemporânea, meios de transporte, carros e aviões mais rápidos, computadores, telefones celulares cada vez mais sofisticados e outros dispositivos ligados à internet, e cada vez mais ao alcance da população em geral. É extraordinário podermos nos comunicar em segundos com amigos que estão do outro lado da cidade ou do mundo, pagar contas e fazer compras sem sair de casa, na tela do computador. Em um dia obter informações e conhecimentos em jornais e sites da internet, que um homem do século XIX levaria uma vida inteira para conseguir.

Ironicamente, toda essa rapidez que deveria ser aliada, acaba muitas vezes nos sobrecarregando e preenchendo cada vez mais o nosso tempo, com mais coisas a fazer e expectativas a suprir. O próprio corpo acelera junto. Não por acaso temos tantos quadros de solidão, estresse, depressão e ansiedade.

Podemos falar com quem e quando quisermos, mas o que vemos com frequência são pessoas conectadas a aparelhos, colecionando centenas e até milhares de “amigos” em redes sociais, sem, às vezes, trocar palavras com outros seres humanos ao nosso redor fisicamente e sem aprofundar vínculos.

Trata-se de um processo sem volta. Ao que parece, as tecnologias vão continuar se desenvolvendo, a velocidade da vida aumentando e, se não tomarmos cuidado, junto com ela mais restrições e falta de tempo para nós mesmos e para o outro.

Precisamos aprender a “desconectar para conectar”. Ou seja, usarmos, sim, as maravilhosas ferramentas desenvolvidas pela nossa civilização, mas aprendermos a separar um tempo para nós mesmos, pensar em nossa própria satisfação pessoal. É preciso olhar ao redor e sentir a vida, ouvir quem está ao nosso lado, construir relações reais, parar e simplesmente olhar pela janela e sentir a brisa (que em Resende Costa, em especial, nos presenteia tanto), observar e refletir sobre as pequenas e saborosas coisas ao redor, ter de fato uma qualidade de vida.

Podemos, desde já, começar a exercitar nossa capacidade de aproveitar melhor o tempo, conciliando as novas tecnologias e uma insubstituível e boa conversa frente a frente.

 

(*Psicólogo e Mestre em Psicologia pela Universidade Federal de São João del-Rei. Especialista em Dependência Química pela Universidade Federal de São Paulo).

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