Desde que me entendo por gente, ouço reclamações sobre a qualidade da música brasileira. Bons eram os artistas do passado, mas, pelo visto, nem eles eram poupados nos comentários, pois já não produziam no mesmo nível. E o tempo passa e o comentário não muda. De tempo em tempo uma nova moda surge na mídia – funk carioca, sertanejo universitário e outras tantas que chegam e somem na mesma velocidade – e as críticas ganham força, lamentando a decadência da música. Porém, discordo do fato de que a qualidade da música brasileira esteja caindo. Afinal, se assim o fosse, ela teria se extinguido há tempos. O fato é que a produção continua em alto nível.
Vamos aos fatos: artistas populares – aqueles que caem no gosto da massa – sempre existiram. Em todos os tempos sempre houve um grupo de artistas que movimentava a maior parte da população em oposição a um grupo pequeno, dito “de qualidade”. Se hoje se reclama do funk carioca ou algo que o valha, no passado os criticados foram o Sidney Magal, o Agnaldo Timóteo, algum grupo de lambada ou mesmo o Waldick Soriano. Então me parece que o gosto popular sempre andou descompassado de um gosto supostamente sofisticado. Mas ainda assim boa música continuou sendo produzida.
Essa sensação de queda da qualidade, porém, não é sem razão. Ao ligar o rádio ou assistir a programas de TV vemos cada vez mais os espaços tomados por artistas populares e pela moda da época. A tecnologia digital na música afetou profundamente a indústria fonográfica e a acertou em cheio com a pirataria. Primeiro com o CD e a facilidade de se fazer cópias. Depois veio o mp3 e similares e, a partir de então, qualquer música ou álbum ficou ao alcance de um download. A partir daí, as apostas em novos artistas ficariam restritas, com raríssimas exceções, àqueles nos quais o retorno comercial fosse garantido. Por outro lado, a revolução digital também traria benefícios, facilitando a gravação e a divulgação do trabalho de vários artistas fora do circuito comercial.
Em um passado não muito distante, a gravação de um disco era um trabalho hercúleo para qualquer artista ou banda independente. Poucos e caros estúdios disponíveis e a dificuldade de distribuição eram grandes empecilhos para criação e divulgação. O barateamento da tecnologia permitiu montar em casa estúdios de vários canais e de boa qualidade, o que permite ao músico fazer uma boa pré-produção ou mesmo toda a gravação no próprio estúdio. A divulgação também ficou mais fácil e o mesmo download que facilita a pirataria permite ao artista independente divulgar seu trabalho, seja através de site ou blog próprio, plataformas como o Youtube e redes sociais focadas em música como o MySpace ou o SoundCloud. Plataformas comerciais permitem não só divulgar, mas também ganhar com o trabalho e artistas independentes têm se valido do iTunes e Deezer para vender de músicas a discos completos ou ganhar por acesso às suas músicas.
Então o problema seria com a música ou com a falta de bons artistas? Não creio. É a falta de espaço no rádio ou TV para trabalhos que não sejam estritamente comerciais. Precisamos ficar de olho no que rola na grande rede para pescar boa música. E ainda por cima com a conveniência de escutar o que se quer e quando se quer, sem nada imposto por gravadora, canal de TV ou rádio.
Após diversas colaborações com o Jornal das Lajes, fui honrado com um convite para assumir a produção de uma “coluna musical”. Espero nas próximas edições provar, como afirmo na abertura dessa coluna, que não só a música brasileira, mas também o rock e o pop continuam em forma e ainda podem nos emocionar. E espero a contribuição do leitor, afinal, o universo da música é muito grande para que alguém sozinho consiga estar antenado em tudo. A contribuição pode vir através do espaço para comentários no site do jornal ou no perfil do JL no Facebook, enviando sugestões de artistas e músicas. Não faltará espaço para os clássicos também, afinal, nossas vitrolas não podem sobreviver sem eles. E é nessa mistura do novo com suas origens e influências que vamos falando de música. Até a próxima.