Desde que comecei a participar do JL através desta coluna, sempre disse que a nova música estava acontecendo em caminhos não tradicionais. O rádio, a TV ou mesmo as prateleiras de lojas de CD não irão nos mostrar nada de inédito a não ser o “novo” disco ao vivo de uma dupla sertaneja ou de alguma cantora de axé. Ou o disco acústico de clássicos reciclados de alguma banda de rock. Então, estava em dívida e precisava falar um pouco sobre onde circula a boa música que vem sendo produzida.
Os tempos digitais democratizaram, em um primeiro instante, o acesso à gravação. O que era restrito aos estúdios por conta dos caros equipamentos, de repente estava acessível em computadores pessoais e foi possível transformar um quarto da casa em um estúdio de gravação. Nesses estúdios caseiros hoje são produzidos desde pré-produções – que reduzem o tempo em estúdio e, logo, os custos de gravação – até discos inteiros. Uma vez gravado o trabalho vem o desafio: como divulgar e distribuir? Nessa outra frente a internet abriu novos canais para os artistas independentes, que podem explorar diversas alternativas: desde a divulgação de novas músicas até a venda direta dos álbuns em sites próprios. Para o ouvinte a internet também trouxe novidades. Hoje diversas rádios virtuais (Rádio UOL e RadioTunes, só para citar algumas) nos dão acesso a canais temáticos onde podemos ao menos escolher um estilo que nos agrada.
Para aqueles que ainda curtem ouvir um disco na íntegra, a divulgação eletrônica também foi boa. As gravadoras fogem dos altos custos de prensagem e lançamento físico de álbuns e nos dão acesso a clássicos que estavam fora de catálogo. Há quem questione – e com razão – a qualidade do formato digital, mas ainda assim acho melhor poder conhecer o trabalho do que deixar a música perdida nos arquivos das gravadoras. A plataforma comercial mais famosa hoje é o iTunes, da Apple, que possui um acervo enorme e se tornou até um dos canais preferenciais para lançamentos de artistas consagrados. Outra modalidade comercial que vem despontando são os serviços de execução on-line como o Deezer, Rdio ou Spotify. Essas plataformas possuem a opção de ora se ouvir gratuitamente com algumas limitações, como só acessar on-line ou com propagandas comerciais. Por uma assinatura mensal você pode até baixar discos para ouvir off-line no tablet ou celular. É uma ótima opção para consumidores vorazes de discos como eu, já que a assinatura custa menos que um lançamento.
Por fim, os artistas independentes têm se valido também de plataformas de acesso gratuito como blogs e redes sociais para divulgação. Há inclusive redes sociais destinadas à música como o Soundcloud (www.soundcloud.com), a mais popular depois do Youtube. Além disso, vários artistas investem em sites próprios para divulgar trabalhos e até disponibilizar o download gratuito dos discos. O violeiro e produtor musical Ricardo Vignini, por exemplo, usa todos esses canais para aumentar o alcance do seu trabalho: Soundcloud, Deezer e iTunes. De acordo com ele, o iTunes propicia ao artista um retorno financeiro comparável à venda do disco físico. O Deezer por sua vez dá pouco retorno financeiro, porém, ajuda a divulgar. Curiosamente, até a distribuição gratuita traz retorno financeiro e Vignini conta que quando disponibilizou o download de álbuns mais antigos da sua banda, o Matuto Moderno, acabou gerando interesse e incrementou as vendas dos discos atuais. Vignini, porém, não abre mão de lançar o álbum físico, pois diz que é exigência do seu público. E eu me incluo neste: gosto de ter em mãos o disco e ler o encarte e a ficha técnica. A pergunta é se esse formato vai sobreviver. Veremos.
Como se vê, os novos caminhos beneficiaram as duas pontas: o artista independente e sem espaço nas grandes mídias e nós ouvintes, que não somos mais obrigados a ouvir somente aquilo que nos é imposto. Podemos escolher o que ouvir e quando, e assim ir descobrindo um universo de boa música que está circulando ao nosso alcance.