A pandemia dos não vacinados

A ignorância ainda insiste em medir forças com a ciência


Saúde

André Eustáquio0

fotoThais Socorro Pena recebe dose da vacina contra Covid-19 em Resende Costa durante a fase de imunização dos adolescentes (foto arquivo pessoal)

Chegamos ao final de 2021 comemorando o controle da pandemia no Brasil. O avanço da campanha de vacinação possibilitou atingirmos percentuais que demonstravam que o número de novos casos e de óbitos estava desacelerando de forma consistente. Até que... surgiu uma nova cepa, a Ômicron, identificada originalmente na África do Sul, e o jogo começou a virar novamente. Nas primeiras semanas de 2022, novos casos suspeitos de Covid-19 começaram a se multiplicar subitamente, causando preocupação e acendendo o alerta na comunidade científica.

Além das medidas de segurança sanitária recomendadas desde o início da pandemia, e que ainda não caíram em desuso, como uso de máscara, distanciamento social e higienização das mãos, a amplitude da cobertura vacinal é essencial para o controle definitivo da pandemia. Graças às vacinas, especialmente a partir do segundo semestre de 2021, casos graves de Covid-19 diminuíram consideravelmente, assim como o número de internações em UTIs e óbitos. De vilão da pandemia, devido à lamentável postura negacionista de figurões da República, o Brasil tornou-se exemplo para o mundo em se tratando de cobertura vacinal – graças ao SUS (Sistema Único de Saúde).

Ainda que o Brasil já tenha atingido um patamar elevado em sua cobertura vacinal – diferentemente de países europeus que estão experimentando uma quarta onda de Covid, atribuída em grande parte aos negacionistas que se recusam a se vacinar –, ainda há um número expressivo de pessoas que não querem se proteger.

O juiz de direito da Comarca de Resende Costa, Donizetti Nogueira Ramos, postou em sua página no Facebook um desabafo ao constatar que um percentual de resende-costenses ainda se recusa a se vacinar. Na postagem, ele discute a importante questão do conflito entre o interesse público e o particular no que tange à decisão de se vacinar ou não. “Muitas pessoas têm se recusado a se vacinar contra o coronavírus. Fui informado que na cidade onde moro e trabalho cerca de 3% da população não se vacinou. Nessa questão da vacina contra a Covid-19, reconhecida como uma pandemia (quase ninguém reconhece a importância que a palavra contém), o interesse público prevalece sobre o particular. Para mim, em todos, absolutamente em todos os lugares públicos, e aí incluo logicamente as ruas, praças etc., deveria ser exigido o comprovante de vacinação para quem quiser frequentar. E quanto a quem não quer se vacinar? É simples: fique em casa e não use nenhum local público. Vão dizer: mas isso é cerceamento de direitos, cabe até habeas corpus, mandado de segurança…”.

Contra esses argumentos, dr. Donizetti opina: “Por exemplo, se alguém tem uma doença contagiosa, também está impedido de frequentar locais públicos, exatamente para proteção dos demais. E nem por isso caberia habeas corpus, mandado de segurança etc. Não querer se vacinar é ‘direito’ do cidadão, mas esse mesmo cidadão tem o ‘dever’ de não colocar o resto da população em risco”. O juiz reforça sua opinião sobre o conflito entre o interesse público e o individual. “Volto a dizer: o interesse público, nesse particular, se sobrepõe ao interesse individual.”

 

A vacinação em Resende Costa

O JL entrou em contato com o Serviço de Imunização da Secretaria Municipal de Saúde para atualizar as informações sobre a campanha de vacinação em Resende Costa. De acordo com as informações obtidas pela reportagem, da população alvo no município, ou seja, pessoas acima de 12 anos, estimada em 9.706 indivíduos, 165 ainda não tomaram nenhuma dose da vacina contra a Covid-19, o que representa cerca de 1,7% da população alvo. “Essas 165 pessoas foram contatadas através de seus agentes comunitários de saúde, e 127 desses indivíduos afirmaram que não iriam se vacinar, representando, assim, 1,3% do total da população alvo”, informou o serviço de imunização.

Além do negacionismo ignorante e da tentativa inaceitável de desconstrução da ciência, indivíduos que não querem se vacinar apresentam argumentos religiosos, de acordo com o serviço de imunização da prefeitura de Resende Costa. Medo, insegurança e crença política são outras justificativas apresentadas pelos resende-costenses contrários à vacina.

Para chegar às pessoas – consequentemente, atualizar a estatística – que ainda não procuraram o centro de saúde para se vacinar, a secretaria cruzou informações do município com dados do SUS. “Foi realizado um cruzamento de dados nos sistemas usados pela Secretaria de Saúde no cadastro da população no SUS com os dados da população vacinada. Posteriormente foi feita uma busca ativa dos faltosos com a ajuda dos agentes comunitários de saúde para saber o motivo da não vacinação.”

 

Os números não mentem

O melhor argumento para convencer quem não quer se vacinar e ao mesmo tempo comprovar a eficácia e a segurança das vacinas é a constatação da queda na estatística de óbitos e de casos graves de Covid. “Não existe nada mais convincente do que a diminuição no número de internações e até mesmo de casos positivos”, responde o serviço de imunização, ao ser questionado sobre se há uma estratégia da Secretaria Municipal de Saúde para convencer aqueles que ainda se recusam a receber as doses (ou a dose única) da vacina.

 

Condições para receber a vacina contra Covid-19

  • Não ter contraído Covid-19 nos últimos 30 dias.
  • Não apresentar sintomas gripais.
  • Quem se vacinou contra gripe ou recebeu outra vacina do calendário nacional de vacinação deve esperar 14 dias para ser vacinado contra Covid-19.

 

Segunda dose e dose de reforço

  • Para quem recebeu a dose única da vacina da Janssen, a dose de reforço (segunda dose) será também com Janssen, após dois meses ter recebido a dose única.
  • Para quem recebeu a primeira dose da Astrazeneca, a segunda dose também será com a Astrazeneca, dois meses após a primeira dose. A dose de reforço será aplicada com o imunizante da Pfizer, quatro meses após a segunda dose.
  • Para quem recebeu a primeira dose da Pfizer, a segunda também será com Pfizer, 21 dias após a primeira dose. O reforço será com Pfizer, quatro meses após a segunda dose.
  • Para quem tomou a primeira dose da Coronavac, a segunda dose também será da Coronavac, 28 dias após a primeira dose. A aplicação do reforço será com a vacina Pfizer, após quatro meses de aplicação da segunda dose;
  • Pessoas com imunossupressão recebem a dose adicional da vacina Pfizer, 28 dias após a segunda dose. Essas pessoas receberão a dose adicional de reforço também com o imunizante da Pfizer.

 

Gestantes, puérperas e adolescentes

De acordo com o serviço de imunização do município, gestantes e puérperas receberão a segunda dose, preferencialmente da vacina Pfizer, 21 dias após a primeira dose. A aplicação do reforço acontecerá cinco meses após a segunda dose, exclusivamente com a vacina Pfizer. Para adolescentes entre 12 e 17 anos ainda não está disponível a dose de reforço.

 

Surto de Influenza H3N2

O final de 2021 também foi marcado por outro surto que lotou hospitais e prontos-socorros de quase todas as cidades do país. Uma nova cepa do vírus Influenza, a H3N2, vem se disseminando rapidamente e aliando-se ao coronavírus, atingindo especialmente quem? Os que também não se vacinaram contra o Influenza, o popular vírus da gripe.

O serviço de imunização do município informou que não há vacina disponível contra gripe e que a campanha acontece geralmente entre os meses de março e abril. Ainda não há orientações acerca da campanha de imunização contra Influenza em 2022.

 

O que fazer para se vacinar em Resende Costa

Para receber as vacinas Coronavac, Astrazeneca e Janssen, é necessário agendar-se presencialmente na sala de vacinação do Centro de Saúde ou através do telefone (32) 3354-1657. Para se imunizar com a vacina da Pfizer, seja a primeira dose, a segunda ou a dose de reforço, basta comparecer ao Centro de Saúde de segunda a sexta-feira, de 8h às 11h e 30min e das 13h às 14h e 30min. É necessário apresentar o cartão do SUS e o cartão de vacinas.

 

Fonte: Serviço de Imunização da Secretaria Municipal de Saúde de Resende Costa.

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