SUSTENTABILIDADE: Aquecedor solar, economia e contribuição com o clima


Economia

José Venâncio de Resende0

Como funciona um aquecedor solar (fonte: Solarem)

“Comprar aquecedor solar é igual casamento: se começar errado, vai errado até o fim”, comenta bem-humorado Elcio Euler Caldas Braga, da Eletro Braga de São João del-Rei. O primeiro (e grande) erro que se comete ao decidir pela compra de um aquecedor solar é pensar em número de pessoas na casa. O correto é pensar em número de banhos diários, alerta Elcio para começar a conversa.

Embora pareça uma “gota d´água no oceano”, outra contribuição de cada aquecedor solar é que ajuda a combater o aquecimento global. Os efeitos da crise climática (inundações, furacões, aumento do nível do mar, desgelo dos polos da Terra, escassez de água, aumento da temperatura nos diferentes continentes etc.) já estão presentes na nossa vida diária e nas várias partes do mundo. O objetivo não deve ser apenas economizar energia, mas também auxiliar no enfrentamento ao aquecimento global. Uma questão grave que muita gente ignora ou dá pouca importância.

Os governos dos países mais avançados estão preocupados em adotar políticas energéticas que priorizem energias renováveis (solar, eólica, pequenas hidrelétricas, nuclear, hidrogênio etc.), substituindo gradualmente os combustíveis fósseis (petróleo e carvão) altamente poluentes. Pouca gente se lembra que, quando falta água nos reservatórios das hidrelétricas, os governos acionam as termelétricas (movidas a diesel ou a carvão), muito mais caras e danosas por aumentar a emissão de gases poluentes (que elevam a temperatura da Terra). A invasão da Ucrânia pela Rússia veio mostrar que, além da questão ambiental, a excessiva dependência do petróleo é muito grave em termos econômicos. 

Dimensionando o aquecedor

Voltemos ao aquecedor solar. Pensem num desnível onde na parte superior fica a caixa d´água; logo abaixo vem o boiler (reservatório térmico) e mais abaixo ainda os coletores (placas) solares. Há boilers de vários tamanhos, com capacidade para 200, 400, 500, 600 litros.

Um tubo transporta a água da caixa d´água ao boiler; outro tubo liga o boiler aos coletores e um terceiro tubo leva a água de volta ao boiler. “O desnível entre a caixa d´água e o boiler tem de ser proporcional ao desnível entre o boiler e o coletor; também a distância tem de ser proporcional ao desnível”, observa Elcio Braga. “O que define esse conjunto é o consumo: a quantidade de água consumida.”

Ao comprar um aquecedor solar, a pessoa precisa levar em conta (1) o número de banhos diários e a vazão do chuveiro, (2) se há crianças em casa, (3) se há idosos que dependem de banho com frequência, (4) se é apenas o chuveiro ou se vai incluir cozinha e lavatório e (5) se tem empregada (o) ou é só pessoal da casa.

O chuveiro indicado para o aquecimento solar é aquele sem resistência elétrica (ou o chuveiro destinado a complementar o aquecimento), observa Elcio Braga. “Imaginemos um chuveiro de vazão de 10 litros por minuto. Num banho de 10 minutos, são 100 litros de água aquecida a menos, abrindo espaço para entrar no boiler 100 litros de água fria. Assim, o boiler passa a ter água cada vez mais fria, afetando o conforto dos banhos seguintes.” Em outras palavras, se cada pessoa tomar um banho de 100 litros, a água tende a ficar de morna para fria nos banhos seguintes.

Capacidade do boiler

Um boiler de 400 litros é o ideal para quatro pessoas que tem um consumo de 100 litros cada por banho, evitando assim que baixe a temperatura da água. Mas, se alguém tomar mais de um banho no dia, aumenta o número de “consumidores” e, como consequência, a água esfria mais depressa. A presença de criança ou idoso na família muda tudo, alerta Elcio. Por exemplo, um casal que toma um banho diário e tem uma criança deve optar por adquirir um aquecedor de 300 a 400 litros.

Se a ideia for incluir cozinha e lavatório, é preciso ficar atento porque o consumo nesses locais é constante e alto, observa Elcio Braga. “Isso reflete diretamente no volume de água quente estocada, o que muda totalmente os cálculos de dimensionamento do equipamento (boiler e coletores).”

Elcio Braga lembra ainda que o equipamento depende da incidência solar, teoricamente de 8h a 18h quando há sol. Assim, é preciso levar em conta que a folga de maior ou menor incidência solar deve ser compensada pela quantidade de coletores solares (o equipamento que absorve o calor do sol). “Na nossa região, é indicada a relação de 1x1, ou seja, 1 m2 de coletor para cada 100 litros de água, por causa da posição do sol; isto numa situação normal e desde que não haja qualquer interferência (árvores, por exemplo).” É o caso de Resende Costa que é um lugar alto e tem boa incidência solar.

Assim, quando a pessoa ou uma família for comprar um aquecedor solar, deve considerar uma folga “porque há dias em que há mais ou menos incidência solar; ou se tem visitas; ou ainda alguém que tome mais de um banho”.

Selo do Inmetro

Outro cuidado no momento da compra do aquecedor solar é verificar se existe o selo de qualidade do INMETRO (Instituto Nacional de Metrologia, Qualidade e Tecnologia), “porque o produto deve ter eficiência tanto na geração da água quente quanto na sua conservação”, assinala Elcio Braga. Também é preciso conferir os níveis de classificação para que a pessoa compre o produto de acordo com o melhor padrão estipulado pelo Inmetro para as suas necessidades. Aqui vale o dito popular de que o mais barato não é a melhor solução. 

As vendas de aquecedor solar vem aumentando de maneira gradativa nos últimos anos. No caso da Eletro Braga são-joanense, por exemplo, de dois equipamentos de 200 litros, em 2019, dobrou-se para quatro unidades vendidas em 2021. O mesmo aconteceu com os aquecedores de 400 litros. Quanto aos equipamentos de 600 litros, as vendas aumentaram de quatro unidades em 2019 para seis nos anos seguintes.

Tributação verde

No Brasil, uma das dificuldades para incentivar o uso do aquecedor solar está na falta de política pública. Falta uma “tributação verde”, por meio de impostos e incentivos na aquisição de equipamentos e veículos, que fomente a transição para a chamada “economia de baixo carbono”. Energia solar e outros setores considerados “limpos”, ou seja, que emitem menos carbono, deveriam ser favorecidos pela carga tributária. Ao mesmo tempo, os grandes poluidores deveriam ser punidos com taxas mais altas. 
   
   
       
       
 

 

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