As flechas de São Sebastião e o ataque da peste na Europa

Muito apropriado para este tempo de pandemia do vírus covid-19


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José Venâncio de Resende0

Cidade do Porto, norte de Portugal.

Entre os séculos VII e XVIII, nos meios eclesiásticos sensíveis ao aspecto punitivo das epidemias, o ataque da peste chegou a ser comparado ao das flexas que se abatem de improviso sobre vítimas, resultando assim na promoção de São Sebastião na piedade popular. “Porque São Sebastião morrera crivado de flechas, as pessoas convenceram-se de que ele afastava de seus protegidos as das peste”, diz Jean Delumeau em “História do medo no Ocidente” (Companhia de Bolso, Editora Schwarcz, 2019).

Desde o século VII, São Sebastião foi invocado contra as epidemias, prossegue o autor. “Mas foi depois de 1348 que seu culto ganhou grande impulso. E no universo católico, desde então até o século XVIII inclusive, quase não houve igreja rural ou urbana sem uma representação de São Sebastião crivado de flechas.”

Delumeau cita um padre português, que descreveu em detalhe uma igreja do Porto em 1666, não deixando de mencionar a figuração de São Sebastião:

A imagem do santo mártir tem também uma chave suspensa a uma flecha que lhe traspassa o coração; essa chave lhe foi remetida pelo senado municipal durante a peste que grassou há setenta anos – Deus nos proteja de seu retorno – a fim de que o santo livre esta cidade de tão grande mal, como o fez desde então até o presente. Desse modo, ninguém ousa retirar-lhe essa chave”.

A escritora portuguesa Isabel Maria Lago Barbosa, residente no município de Matosinhos na grande Porto, considera “natural que haja no Porto alguma imagem de S. Sebastião. É um santo com muita devoção local sobretudo nas comunidades piscatórias da beira rio e beira-mar”.
Isabel até estaria disposta a fazer um tour pela cidade para fazer uma pesquisa, mas está em quarentena por causa do coronavírus covid-19. “Nós (os idosos) não podemos sair de casa.”

 

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