Autor do plano de recuperação econômica de Portugal defende economia do mar

Antonio Costa Silva propõe o uso de novas tecnologias para a utilização sustentável das riquezas do mar português, 40 vezes o território continental.


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José Venâncio de Resende0

Fundo do mar e suas riquezas (foto de vídeo: Manuel Silveira).

Tão logo o Conselho Europeu (que reúne os governantes de 27 países) bateu o martelo, no dia 20 de julho, sobre o plano de recuperação econômica, que vai injetar 750 bilhões de euros (R$ 4,5 trilhões) nos países do bloco (cerca de 45 bilhões de euros em Portugal) nos próximos anos, o engenheiro Antônio Costa Silva, autor do programa de recuperação econômica do governo, deu uma longa entrevista à TVI. Soma-se a isso a aprovação, na mesma reunião, do quadro financeiro plurianual da União Europeia (2021-2027), o que eleva o valor total para 1,7 trilhão de euros (dos quais Portugal receberá cerca de 58 bilhões de euros).

O programa de recuperação econômica vai, assim, para além da crise provocada pela pandemia do novo coronavírus, com um horizonte de 10 anos. É uma dinheirama, tanto que já se começa a ouvir vozes na imprensa e nos meios acadêmico, empresarial e político alertando para a responsabilidade sobre a boa aplicação destes recursos.

O plano prevê investimentos em modernização e ampliação de infraestruturas (rede ferroviária, comunicações, digitalização, “hub aéreo” em Lisboa etc.), aumento da produtividade (principalmente de empresas estratégicas exportadoras) e a descarbonização (substituição da energia fóssil por fontes renováveis de energia).

Economia do mar

Embora o plano não inclua a economia do mar, Antônio Costa Silva deixa um alerta sobre a importância desse setor estratégico. Com a inclusão do mar, a extensão da plataforma é de quatro milhões de quilômetros quadrados sob jurisdição do Estado português. É 40 vezes o território continental. Por isso, Antonio Costa Silva considera o mar “absolutamente indispensável, é o nosso grande ativo. Eu gostava que a economia do mar tivesse um impacto forte”, disse, mas… “Essa parte cabe ao governo definir as prioridades”.

Silve defende que Portugal passe a adotar tecnologias internacionais como as boias de sensor colocadas no oceano, que em ciclos de 10 dias fornecem registros de pressão, temperatura, significação e volume dos recursos biológicos e dos plásticos. Além disso, ele cita “uma descoberta extraordinária”: nos três metros da camada superficial, a energia acumulada nas últimas décadas é equivalente a um bilhão de vezes a energia das bombas atômicas jogadas em Nagasaki e Hiroshima. “E se conseguirmos descobrir mecanismos que levem à libertação dessa energia para a atmosfera, isto é uma informação que vale biliões (trilhões) de dólares.”

O conselheiro do governo português considera que “os Açores são os melhores sítios do mundo para estudar a interação entre o oceano e a atmosfera, a terra e o ar”. Por isso Antônio Silva defende uma grande Universidade do Atlântico nos Açores, com polo na Madeira, a trabalhar em rede com as universidades do continente.

Salmão e tecnologia

Outro segmento importante é a chamada “camada mesoplágica do oceano”, entre os 200m e os 1000m de profundidade, prossegue Silva. “Os recursos biológicos que estão nessa camada são 10 vezes superiores a tudo o que pensávamos.” Ele cita o exemplo da Noruega que usa essa informação para atuar ao nível dos cardumes de salmão, que estavam em reversão, aplicando a inteligência artificial para definir as alturas ideais de pesca para sustentar os cardumes. “Imagine se nós temos um programa bem desenhado e bem articulado para renovar as nossas frotas de pesca, para fazer o que os noruegueses fizeram?”

Assim, Antonio Silva defende a intervenção no mar com base no conhecimento, na ciência e na tecnologia. “No paradigma anterior, nós estabelecemos uma relação predatória com o mar; transformamos o mar numa espécie de casa de banho (banheiro) do planeta. Com a ciência, podemos mudar isto completamente.”

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