Belmonte, terra de Cabral, propõe acordo de cooperação entre Portugal e Brasil


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José Venâncio de Resende, de Lisboa0

Castelo onde morou a família Cabral

Lideranças de Belmonte – terra natal de Pedro Álvares Cabral e de uma das mais antigas comunidades judaicas de Portugal – estão discutindo com a Embaixada do Brasil um acordo de cooperação entre os dois países, no qual a cidade ocuparia papel de destaque. Belmonte já é cidade-irmã de Porto Seguro e de Santa Cruz de Cabrália, na Bahia.

O acordo, que deve envolver ainda a Federação das Câmaras de Comércio Luso-Brasileira entre outras entidades, vai abranger as áreas cultural, social e econômica, de acordo com o jornalista José Levy Domingos, coordenador do Gabinete Judaico/Museu Judaico de Belmonte.
Este acordo já nasce precedido de iniciativas, como por exemplo a concessão, a cada ano, de prêmio aos melhores alunos de Belmonte, que consiste numa estadia em Porto Seguro. Mas a ideia é que haja contrapartida, com a vinda de alunos brasileiros igualmente premiados, o que ainda não está ocorrendo, segundo José Levy.

Além disso, Belmonte está criando uma biblioteca luso-brasileira, com o apoio da Embaixada brasileira. “Estou sugerindo que seja criado em Belmonte o prêmio literário Pedro Álvares Cabral, com o objetivo de celebrar o descobridor do Brasil e promover o reforço dos laços culturais entre os dois países”, revela José Levy. O prêmio seria constituído de uma quantia em dinheiro e da publicação do livro do vencedor.

Região turística

Belmonte é uma histórica vila portuguesa de 6859 habitantes, na Beira Interior, que liga memórias do passado e do presente, numa coexistência rica de culturas e tradições. Sua história remonta ao século XII, quando o concelho municipal recebeu carta foral do rei D. Sancho I em 1199, segundo o Wikipedia.

O turismo em Belmonte tem crescido nos últimos anos, de acordo com José Levy. Entre os locais mais visitados, destacam-se o Museu dos Descobrimentos, o Ecomuseu, Museu do Azeite, Museu Judaico e Igreja de Santiago.

Em 2013, a cidade recebeu 69.270 mil turistas, dos quais a maior parte de Portugal (54.613 mil inclusive residentes locais), conforme números da Empresa Municipal de Promoção e Desenvolvimento Social (EMPDS). A Espanha aparece em segundo lugar, com 4.408 turistas, seguida do Brasil (3.397) e de Israel (2.477).

Em 2014, até Setembro, foram 60.399 turistas, dos quais 47.599 oriundos de Portugal. A novidade foi o aumento no número de visitantes de Israel, para 3.941, passando a ocupar a segunda posição. O Brasil subiu para a terceira posição (com 2.576 turistas), seguido da Espanha (2.163). Também visitaram a cidade turistas de França, Estados Unidos, Inglaterra, Canadá, Alemanha, Holanda e Itália, entre outros.

Belmonte localiza-se numa região onde é possível fazer roteiros turísticos interessantes, proporcionados pelo rico patrimônio de 12 aldeias históricas, das Beiras Alta e Baixa, e pelos antigos castelos distribuídos por várias cidades.

Comunidade judaica

Uma inscrição de 1297 pertencente a uma primitiva sinagoga atesta a presença da antiga comunidade judaica (judiaria) de Belmonte, organizada em torno das ruas Direita e Fonte da Rosa. Os judeus eram sobretudo artesãos e comerciantes.

O número de judeus aumentaria ainda mais com a expulsão de sefarditas da Espanha em 1492, decretada pelos reis católicos Fernando e Isabel. Poucos anos depois, em1496, o rei D. Manuel I obrigaria os sefarditas a se converterem ao catolicismo ou deixarem Portugal.

Muitos deles abandonaram Portugal, por medo de represálias da Inquisição. Outros converteram-se oficialmente ao cristianismo, mas mantiveram em segredo o seu culto, tradições e costumes. Um terceiro grupo, porém, decidiu isolar-se, cortando o contato com o resto do país e seguindo suas tradições à risca (os chamados "marranos").

Durante séculos, os marranos de Belmonte mantiveram as suas tradições judaicas quase intactas. Somente nos anos 1970 a comunidade estabeleceu contato com os judeus de Israel e oficializou o judaísmo como sua religião.

Em 1996, foi aberta a Sinagoga, que comprova a existência de uma comunidade judaica numerosa e ativa em Belmonte. Desde 2001, os judeus tem o seu cemitério. E em 2005 foi inaugurado o Museu Judaico, o primeiro em Portugal, que mostra a riqueza dos artigos religiosos judeus, bem como as tradições e rituais específicos.

José Levy destaca a importância que a comunidade judaica teve no passado e tem no presente da vida social, cultural e econômica de Belmonte e da região. Trata-se, pelas suas características, da única no mundo sefardita totalmente constituída por portugueses.
Na onomástica da comunidade judaica, destacam-se os apelidos Sousa, Dias, Henriques, Fernandes, Mendes, Diogo e Rodrigues, entre outros.

Terra de Cabral

Belmonte também está ligada diretamente aos descobrimentos marítimos portugueses, por ser a terra natal do descobridor do Brasil Pedro Álvares Cabral. O navegador português teria nascido em 1467 ou 68 no Paço dos Cabrais, castelo medieval construído nos séculos XII e XIII que foi concluído por D. Dinis em 1466, quando foi doado a Fernão Cabral a título hereditário. Foi então alterado de castelo fortificado para residência senhorial onde passou a viver a família Cabral.

Cabral morreu em 1520 ou 26, tendo sido sepultado na Igreja da Graça, em Santarém. Apenas na segunda metade do século XX as suas cinzas foram transferidas para o Panteão dos Cabrais, em Belmonte. Trata-se de uma capela edificada anexa ao corpo central da Igreja de Santiago (construção provável de 1240), para sepultar ilustres membros da família Cabral.

Estas e outras informações sobre Cabral estão disponíveis no Museu dos Descobrimentos – que enfatiza a história do Brasil, por meio de recursos audiovisuais interativos -, visitado por este repórter em companhia de Joaquim Feliciano da Costa, presidente da EMPDS.

Outra atração de Belmonte é a Igreja Matriz, que conserva até hoje a imagem de Nossa Senhora da Esperança que teria acompanhado Cabral na descoberta do Brasil.

Ecomuseu e azeite

O Ecomuseu do Zêzere foi instalado na antiga Tulha dos Cabrais, edifício do século XVIII onde eram armazenadas as rendas da família Cabral. O museu tem função didática e pedagógica, permitindo estudar o percurso do rio Zêzere, desde a sua nascente até à foz, assim como sua fauna e flora. Também no museu ocorrem exposições temporárias.

Já o Museu do Azeite encontra-se num lagar construído no final do século XIX e início do século XX, para processar a azeitona de pequenos produtores que recebiam em troca uma percentagem de azeite. Com o fim das suas atividades, este espaço foi abandonado e, mais tarde, recuperado para a instalação do Museu. Este Museu foi organizado com o propósito de mostrar o processo de produção de azeite que já teve grande importância na economia local. O visitante pode fazer uma espécie de “tiborna”, ou seja, provar pão molhado no azeite, assim como adquirir vários tipos de azeite da região.         
  

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