Câncer: esforços para aplicação na clínica da técnica de Raman, de diagnóstico precoce

Pesquisas na luta contra o câncer recebem prêmio Nobel de Medicina de 2018; descoberta de prêmio Nobel de Física de 1930 ainda é pouco aplicada.


Saúde

José Venâncio de Resende0

Equipe de investigadores da Unidade de I&D “Química-Física Molecular” (Foto: divulgação).

A descoberta de uma terapia contra o câncer por inibição da regulação imunológica negativa acaba de dar aos pesquisadores James P. Allison, dos EUA, e Tasuku Honjo, do Japão, o prêmio Nobel de Medicina ou Fisiologia de 2018. A descoberta é considerada um marco na luta contra o câncer por estimular a capacidade do sistema imunológico de atacar as células cancerígenas, soltando os freios destas células.

Enquanto isso, a técnica de espectroscopia de Raman, descoberta pelo cientista indiano Chandrasekhara Venkata Raman, Prêmio Nobel da Física em 1930, ainda é pouco aplicada na clínica, talvez por desconhecimento, embora considerada muito vantajosa para o diagnóstico precoce de múltiplas patologias, inclusive o câncer (cancro em Portugal). Na Europa, apenas alguns hospitais da Holanda, Alemanha e Reino Unido a utilizam.

Com o objetivo de introduzir esta técnica na clínica, mais de 150 pesquisadores (investigadores) europeus formaram uma rede de colaboração, denominada Raman4Clinics, no âmbito das Ações COST - Cooperação Europeia em Ciência e Tecnologia. A reunião final da Raman4Clinics, seguida de uma Summer School, vai realizar-se entre os dias 7 e 12 de outubro na Faculdade de Ciências e Tecnologia da Universidade de Coimbra (FCTUC), que é membro da rede através de uma equipe de investigadores da Unidade de I&D “Química-Física Molecular”, liderada por Luís Batista de Carvalho e Maria Paula Marques.

Nesta reunião científica, os vários grupos de trabalho da Ação vão apresentar e discutir os avanços obtidos nos últimos três anos, bem como o impacto da aplicação da técnica junto dos utilizadores finais – médicos e pacientes, em meio hospitalar. Já a Summer School tem como foco principal investigadores em início de carreira. Assim, jovens investigadores, designadamente estudantes de mestrado e de doutoramento, irão ter oportunidade de aprender com os especialistas internacionais mais reputados da área da espectroscopia de Raman aplicada à Química Medicinal e Diagnóstico. Além de palestras, os participantes irão também ter sessões práticas “hands-on”.

Técnica “não invasiva”

A espectroscopia de Raman é uma técnica ótica de alta resolução que através da incidência de radiação (luz) sobre uma qualquer amostra consegue obter informação química em poucos segundos. Ou seja, fornece informação acerca dos compostos presentes na amostra analisada.

É uma técnica «não invasiva, muito útil e vantajosa para a clínica, especialmente para o diagnóstico precoce de múltiplas patologias, nomeadamente doenças infecciosas, vários tipos de cancro de baixo prognóstico e bactérias hospitalares resistentes a antibióticos. Trata-se de uma técnica muito rigorosa que fornece informação imediata. Os doentes não têm assim que aguardar dias ou semanas pelos resultados de biópsias», asseveram os pesquisadores Luís Batista de Carvalho e Maria Paula Marques.

É igualmente uma ferramenta «muito versátil e vantajosa do ponto de vista econômico», reforçam estes especialistas em Raman da FCTUC. «Pode ser muito útil em cirurgias extremamente delicadas, como, por exemplo, uma cirurgia para remover um tumor no cérebro, em que é imprescindível ter informação em tempo real que guie o neurocirurgião, indicando-lhe exatamente o que é tecido doente e deve ser totalmente removido, e o que é tecido são e deve ser poupado.»

Desconhecimento

Questionados sobre as causas que travam a translação da técnica para a clínica, Luís Batista e Maria Paula alegam «desconhecimento. É preciso quebrar barreiras e explicar aos clínicos que a espectroscopia de Raman evoluiu muito nos últimos anos. Por exemplo, existem atualmente aparelhos de Raman portáteis, muito versáteis para utilizar em ambiente hospitalar e no teatro operatório, e as imagens obtidas são de fácil interpretação.»

Nesse sentido, a equipe de Luís Batista e Maria Paula tem já em curso um projeto de investigação pioneiro em Portugal, em parceria com o IPO de Coimbra. Intitulado Vibs on Cancer. O projeto, financiado pela Fundação para a Ciência e a Tecnologia (FCT) e FEDER, visa à aplicação da espectroscopia de Raman em diagnóstico médico, especificamente na deteção precoce de tipos de câncer de baixo prognóstico.

Ainda com vista à divulgação da técnica de Raman, os responsáveis pela organização da Reunião Final da Ação Raman4Clinics promovem uma palestra, no dia 7 de outubro, às 18 horas, no Museu da Ciência da Universidade de Coimbra. A palestra, aberta à comunidade, é proferida pelo Prof. Peter Gardner, da Universidade de Manchester, responsável pela translação da espectroscopia de Raman para a clínica na deteção de câncer de próstata.

FONTE: Assessoria de Imprensa da Universidade de Coimbra

LINK RELACIONADO:

Ação Europeia Raman4Clinics - https://www.raman4clinics.eu/

Vídeo sobre as barreiras que obstam a aplicação da técnica - https://www.raman4clinics.eu/wp-content/uploads/2016/07/16_043_ipht_Raman4Clinics-Explainer-2-18.mp4

 

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