Capela do Barro Vermelho pede socorro


Notícia

André Eustáquio1

Fachada da capela do Sagrado Coração de Jesus, no Barro Vermelho, Foto Emanuelle Ribeiro

Hoje não se pode mais falar que o Barro Vermelho, localizado a sete quilômetros da zona urbana de Resende Costa, seja um povoado, uma vez que quase a totalidade dos seus moradores migrou para a cidade. Do antigo povoado não restam mais do que poucas casas espalhadas nas proximidades do riacho e a capela do Sagrado Coração de Jesus.

A capelinha foi construída num terreno de aproximadamente meio alqueire de terra que pertenceu à antiga Fazenda do Barro Vermelho, propriedade de dona Teresa Emídia de Jesus, filha do capitão José Procópio de Resende e sobrinha paterna do primeiro vigário da paróquia de Nossa Senhora da Penha, padre Joaquim Carlos de Rezende. “Foi a minha bisavó que doou o terreno e liderou toda a construção da capela”, conta Camilo Tristeza, um dos zeladores da capela. Dona Teresa era neta de Gervásio Pereira do Carmo e viúva do fazendeiro Francisco Machado Pinto. Pelos vínculos de parentesco, o casal provinha da mesma linhagem da família Rezende Costa.

A construção da capelinha foi iniciada no dia 15 de junho de 1942 pelo senhor Messias de Resende Pinto, filho da dona Teresa Emídia. Foi o casal Teresa e Francisco que, além da doação do terreno, decidiu pela consagração do templo ao “Amorável Coração do Divino Mestre”. As informações obtidas por essa reportagem revelam que enquanto os alicerces ainda eram construídos, um altar foi improvisado para a celebração de uma missa pelo então delegado paroquial padre Oscar Ferreira da Silva. Finalmente, no dia 26 de setembro de 1943 o templo foi solenemente inaugurado, com a bênção do coadjutor da paróquia de Resende Costa, padre Geraldo Coelho de Resende. A ereção canônica se deu no dia 9 de setembro do mesmo ano.
 
O fim do povoado e a decadência da capela
 
O estado de decadência em que se encontra, atualmente, a capela do Sagrado Coração de Jesus é também fruto do fim do povoado do Barro Vermelho. A historiadora Ana Paula Mendonça de Resende publicou no JL, em novembro de 2005, artigo sobre a história do Barro Vermelho, destacando o início da povoação e o auge da mineração. “... além da agricultura, uma outra atividade econômica começa a fazer parte da vida do povoado: a mineração. A extração do minério de cassiterita foi iniciada por uma empresa de Santa Rita (atual Ritápolis) que utilizava como equipamento um motor a óleo. Logo após, nos anos 60 e 70, a empresa Companhia Estanífera do Brasil levou o maquinário necessário para a extração do minério de cassiterita empregando cerca de 50 homens”.

Ainda de acordo com a professora Ana Paula, “com o fim da mineração, o povoado foi perdendo seu dinamismo e então poucos moradores permaneceram no local. Atualmente, esse dinamismo vem sendo retomado, com a volta de descendentes das primeiras famílias que buscam no Barro Vermelho um local para descansar e continuar sua história em Resende Costa”.

São justamente alguns dos descendentes das primeiras famílias do povoado que lutam pela preservação da capela, entre eles Fábio do Valdir, Camilo Tristeza, Nelson do Virgílio e Paizinho. Mas quem visita o templo, hoje, sente, logo na entrada, o calafrio provocado pelo abandono. A porta lateral da sacristia adjacente à nave central está escorada por uma mesa, facilitando a entrada de quem chega lá. No interior da capela vê-se um cenário de total decadência: bancos totalmente cobertos pela poeira do reboco que cai da laje; várias das antigas telhas de barro estão quebradas ou fora do lugar, causando sérias infiltrações que põem em risco a segurança da capela. O antigo altar de madeira ainda está em seu lugar, porém coberto por muita poeira e exposto às infiltrações e goteiras. No altar se encontram as imagens do padroeiro Sagrado Coração de Jesus, Imaculado Coração de Maria, São Dimas e Nossa Senhora Aparecida.

Na sacristia o estado de abandono é assustador. O armário onde são guardadas as sagradas alfaias (vasos e objetos litúrgicos) está aberto, empoeirado e coberto por teias de aranha, assim como o antigo confessionário. Do lado de fora da capela a situação do banheiro é também de abandono: Os marimbondos escolheram justamente o local para construir suas caixas, colocando em risco as pessoas que dele se aproximam.

O zelador Camilo Tristeza disse que ainda neste mês uma reforma será iniciada na capela: “vamos reformar toda a capela, desde o telhado até a pintura e o banheiro. Já vendemos os eucaliptos para arrecadar dinheiro para a reforma, e o pessoal da comunidade também ajudará”. Camilo informou que a capela é aberta para missa apenas uma vez no ano, em junho, mês do Sagrado Coração de Jesus. Na ocasião, as pessoas ligadas ao antigo povoado se reúnem para a celebração. “A última missa celebrada lá foi no ano passado. Neste ano, não teve”, disse Camilo.

O Barro Vermelho possuía características comuns aos demais povoados de Resende Costa. Além das propriedades, como casas, fazendas e capela, lá havia um campo de futebol e escola. Naqueles tempos, na capela do Sagrado Coração de Jesus aconteceram os momentos mais importantes da vida social da comunidade, como casamentos, batizados e missas. Nos domingos, em seu entorno, as pessoas se reuniam para as quermesses após a missa e para os leilões – tradição comum na zona rural.

Hoje só restam lembranças de uma época, que as forças implacáveis do tempo insistem em corroer. Porém, certamente os remanescentes do antigo povoado, seus filhos e netos não deixarão que o último marco da comunidade desapareça. A capela do Barro Vermelho não pode entrar na triste lista dos inúmeros imóveis (capelas, casas, sobrados, fazendas...) de Resende Costa que desapareceram ao longo do tempo, ou foram seriamente descaracterizados. A reforma da capela, portanto, deverá ser minuciosa, visando à preservação do seu estilo.

Comentários

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    Parabéns pela matéria. É muito importante que as autoridades políticas e também os cidadãos de Resende Costa sejam alertados quanto à preservação e restauração dos patrimônios históricos da cidade.


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