Com a pandemia da Covid-19, projetos foram suspensos e sonhos precisam ser reinventados

Trajetórias de vidas que compartilham a interrupção dos planos de 2020: casamentos, viagens e outros planos tiveram que ser repensados


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Vanuza Resende0

Doraci e Fernando receberam a surpresa da família e de amigos no dia 02 de maio (foto arquivo pessoal)

Beatriz não se encontra com o namorado há três meses; Victor não executou o projeto pessoal de colocar um site de viagens no ar; Josi teve suas férias adiantadas; Paula deixou de ir ao show de umas das suas bandas favoritas; Juliana não começou no emprego novo; Ana Luiza cancelou a viagem internacional e Larissa não iniciou as aulas no mestrado. Todos esses planos e histórias são reais e foram adiados em virtude da pandemia da Covid-19, que virou de cabeça para baixo a vida de todo mundo.

Quem tinha planos elaborados para 2020 se vê, agora, às voltas com possíveis cancelamentos, adiamentos ou, no mínimo, incerteza sobre se de fato eles poderão se concretizar.

 

Amizades e demonstrações de carinho em tempos de pandemia

Alguns puderam ser apenas suspensos, repensados e reestruturados para algum dia no futuro, mas em alguns casos não é possível nenhuma dessas opções: a gestação. Os exames de pré-natal precisam continuar sendo feitos, o berço precisa ser comprado e vai chegar o momento de ir até a maternidade para voltar com os filhos nos braços. Como é o caso de Doraci Resende Vieira e Fernando Vieira, grávidos da Maitê em meio à pandemia. A auxiliar administrativa de 28 anos, mãe de primeira viagem, fala sobre como a pandemia acabou afetando a gestação: “Com toda certeza, a pandemia trouxe transtornos para todos. Sou muito ativa e ter que ficar em casa não é algo fácil. Tive uma fratura no pé que me forçou a ficar em ‘quarentena’ desde o final de janeiro, logo muita coisa ainda estava por ser feita. Com a chegada da pandemia, acabei o enxoval realizando compras pela internet e também graças ao comércio local. Sempre que eu precisava, mandava mensagem para os comércios e eles enviavam os produtos à minha casa. Assim consegui concluir tudo que faltava para a chegada da Maitê”, conta Doraci.

Entre os planos, estava o de reunir a família e os amigos para o chá de fraldas. “Era um dos meus sonhos da gravidez, sempre adorei reunir família e amigos e minha intenção era fazer o chá bem no final porque falava para todos que queria estar com uma barriga bem grande. Até a roupa que queria usar no dia do chá eu comprei com apenas dois meses (de gravidez) e estava guardada, só esperando agendar a data”, diz. 

Com a chegada da pandemia, não foi possível realizar o evento, pelo menos não na forma que o casal planejou. Mas os amigos e a família resolveram inovar e conseguiram que a Maitê sentisse todo o carinho que espera por ela aqui de fora: um chá montado na casa do casal, sem a presença dos amigos e da família.  A ausência física foi compensada com mensagens em cartas. “Sou muito desconfiada, mas essa surpresa foi totalmente inesperada. O Fernando deu um jeito de me tirar de casa, pois não tenho saído. E como iríamos tomar os cuidados, decidi ir. Quando retornamos, desci do carro, ouvi uma música que fala de gestação, que adoro escutar, e quando percebi, vinha da minha casa. Ao olhar para a garagem, vi tudo tão lindo e feito com tanto carinho. Foi muito emocionante e não contivemos a emoção. Nós dois começamos a chorar, estava tudo tão lindo, feito com muito amor por pessoas queridas por nós”, lembra Doraci.

Toda essa emoção só foi possível graças à prima e amiga Daiane Pinto, que não quis deixar que o momento fosse esquecido. “A ideia foi da minha amiga e prima Daiane, que viu uma ‘charreata’ na internet e não quis deixar a minha gravidez passar em branco. Ela agitou as nossas famílias e amigos especiais que colaboraram tanto para que tudo fosse realizado. Eles foram conversando e se organizando, recolheram fraldas e lenço umedecido. Montaram o Chá de Fraldas da Maitê com uma decoração linda, doces deliciosos e algo que, para nós, teve o maior significado de todos: cartinhas de quem participou da surpresa com mensagens de carinho de todos que, assim como nós, estão ansiosos com a chegada da Maitê”, descreve a mamãe.

A conclusão disso tudo? “Nós temos os melhores amigos e a melhor família do mundo, que fizeram um sonho se tornar realidade, pois não acreditávamos mais que seria possível realizar o chá e dividir com eles nossa alegria da gravidez, devido ao isolamento social. Mas, pelo contrário, foi possível e ainda recebemos o carinho através das cartinhas.”

E por mais que as coisas não tenham saído como o planejado, o amor envolvido compensou as adversidades. “A lição que tiramos é que nem sempre tudo será como planejamos e que está tudo bem. Agora por um motivo triste, estamos tendo que abrir mão de tanta coisa para garantirmos que estaremos o mais rápido possível longe desse vírus que tanto tememos. Temos que aceitar as coisas como elas são e não nos frustrarmos pelo que não está sendo feito. É hora de agradecermos pelo que temos de maior valor: nossas vidas, famílias e amigos. Se cada um fizer sua parte, logo estaremos nos abraçando de novo.”

Por fim, Doraci brincou sobre as mudanças no corpo e a emoção de ser mãe.  “Quem me conhece sabe o quanto estou feliz com a chegada da Maitê. Desde o dia que descobri que estava grávida, costumo dizer que estou radiante de alegria e sou muito grata a Deus por ter me dado o dom de poder ser mãe. Acho que nós mulheres temos sorte de poder viver e sentir cada sensação da gravidez. Brinco com minhas amigas que queria ter desfilado mais meu barrigão por aí e escuto dos meus amigos e familiares o quanto eles queriam ter aproveitado mais minha gravidez. Mas o que mais desejo é que tudo passe e que Maitê possa distribuir e receber amor”, diz Doraci.

 

Enlaces matrimoniais

Tem gente que sonha desde criança; algumas pessoas nunca pensaram muito nisso, simplesmente aconteceu; outros se emocionam a cada cerimônia, imaginando quando vai chegar o dia do seu casamento. O dicionário Aurélio traz uma definição muito simples da palavra: ato ou efeito de casar(-se). Mas, certamente, quem já passou por essa situação sabe que há muito mais coisas por trás da palavra. São tantas decisões: os trajes, o local, os padrinhos, o buffet, a decoração e, em cada detalhe, uma série de decisões pensadas e planejadas por meses, anos.

No entanto, desde o final de março 2020, os casais brasileiros precisaram adiar o dia escolhido para a união.  Foi o caso da professora Fernanda Resende e do engenheiro Bruno Valente, que se casariam em 18 de abril e precisaram adiar o grande dia. A noiva conta que inicialmente não imaginou que a pandemia iria afetar a data escolhida. “Nunca imaginei que teria que adiar meu casamento por conta de uma pandemia. Decidimos adiar o casamento 25 dias antes, quando compreendemos que não haveria nenhuma possibilidade de a cerimônia acontecer”, relata Fernanda.

Fernanda e Bruno fazem parte dos 28 casais resende-costenses que adiaram seus casamentos religiosos na Paróquia de Nossa Senhora da Penha de França, entre os meses de abril a dezembro de 2020. De acordo com informações levantadas pela reportagem do JL, alguns casais do mês de novembro ainda estão mantendo a data, mas a grande maioria já marcou uma nova data em 2021. O próximo ano será movimentado com as celebrações de casamentos, no tradicional horário das 20h e 30min aos sábados. Em determinados meses, já não é possível encontrar datas disponíveis.

Fernanda fala sobre a frustação de adiar a celebração matrimonial: “Foi uma sensação horrível. Sonhamos com o dia que escolhemos. Já tínhamos entregado todos os convites, já tínhamos fechado com todos os fornecedores e já estávamos na contagem regressiva e, de repente, ter que adiar, sem previsão de uma nova data, foi muito frustrante.” O casal ainda não definiu a nova data por questões pessoais, mas sabe que será em um momento seguro. “Acredito que possam ocorrer cerimônias ainda neste ano, principalmente a partir de outubro, mas a minha acho que não será possível devido ao trabalho do meu noivo e a dificuldade de se conciliar uma nova data. Esperamos conseguir uma nova data para o início de 2021”, planeja. Mesmo não ocorrendo como planejado, Fernanda faz uma reflexão sobre o contexto: “Apesar do momento triste pelo qual estamos passando, precisamos cuidar da nossa saúde e isso vem em primeiro lugar. As comemorações deixamos para quando tudo estiver normalizado. Mas agora o momento é de ter consciência e manter o isolamento social. Dias melhores virão”, conclui.

Outro casal que precisou adiar o casamento foram Thays Miranda e Cássio Resende. Eles moram em outros estados, mas se casariam no civil, dia 11 de abril, em Resende Costa. “Dia 11/04/20 era para ser um dia muito especial para mim, para meu noivo e nossos familiares. Iríamos nos casar no civil, em Resende Costa. O principal motivo de ser em Resende Costa é pela minha avó, que está bastante velhinha e não conseguirá vir a Curitiba para a celebração do casamento. Então, eu e meu noivo planejamos um casamento mais simples, no civil, e um almoço em casa para os nossos familiares”. Além do casamento, Thays e Cássio também teriam uma despedida de solteiros no mesmo dia. “Estava tudo arrumado, nossos amigos empolgados enviando mensagens de ansiedade e nossa família feliz porque iríamos oficializar nossa união perante a leis dos homens. Porém, os planos mudaram devido à pandemia”, afirma Thays.

A realidade de adiamento também aconteceu de forma inesperada. “Até então, por ser muito recente, eu não tinha noção a fundo do quão grave era (a Covid-19), até uma amiga minha que trabalha em hospital me relatar. Eu e meu noivo conversamos e decidimos deixar em stand by até que as coisas melhorem.” O casal remarcou o casamento pela segunda vez devido à pandemia. “O casamento era em junho, porém adiamos para setembro, com a esperança de nos casarmos ainda esse ano. Mas adiamos mais uma vez, e agora, para o ano que vem. É um pouco frustrante, triste, um misto de sensações, mas o que nos mantém fortes é o nosso amor, a nossa vida de casados que já levamos e, também, poder proteger quem nós amamos. Temos certeza de que será ainda mais especial, feliz e alegre!”, garante Thays.

Maitê nasceu no final do mês de maio. O JL deseja muita saúde e luz na vida da nova resende-costense. Muitas alegrias para a família Vieira. E aos casais que adiaram a cerimônia, assim como a repórter, que também adiou a celebração do matrimônio que aconteceria no último dia 06 de junho, um alento: o “sim” no altar vai precisar esperar mais algum tempo, mas os votos de na saúde e na doença já estão sendo cumpridos.

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