Curralinho dos Paulas recebeu visita do superintendente de Povos e Comunidades Tradicionais da Subsecretaria de Estado de Direitos Humanos

A comunidade foi reconhecida em 2011 como remanescente quilombola


Educação

André Eustáquio0

Superintendente de Povos Tradicionais (centro) visitou a Escola Professora Rosa na comunidade do Curralinho dos Paulas (Foto Ângelo Márcio)

No dia 12 de agosto de 2011, o então prefeito municipal de Resende Costa Adilson Avelino de Resende (PT), durante uma solenidade, entregou à comunidade do Curralinho dos Paulas o certificado de reconhecimento da comunidade como “Comunidade de Remanescentes Quilombolas”. Com este reconhecimento, o Curralinho dos Paulas, cuja população é de grande maioria negra, tornara-se apto a concorrer a recursos do Governo Federal especialmente destinados às Comunidades Remanescentes Quilombolas.

O Curralinho dos Paulas, localizado a 19 quilômetros da cidade de Resende Costa, é uma típica comunidade rural do interior de Minas Gerais. A capela dedicada a Nossa Senhora da Conceição é uma das referências do povoado, que se destacou no passado pela extração do minério. O esporte e as tradições culturais de origem negra, como o congado e a festa em honra a Nossa Senhora do Rosário, estão presentes na cultura da comunidade.

No intuito de preservar e divulgar a cultura do Curralinho dos Paulas, alguns projetos estão sendo desenvolvidos na comunidade. Nos dias 28 e 29 de agosto último, o superintendente de Povos Tradicionais da Subsecretaria de Estado de Direitos Humanos, João Carlos Pio de Souza, visitou a comunidade acompanhado do vereador Ângelo Márcio Resende (PT) e da secretária municipal de Educação, Cultura, Esporte e Lazer, Silvanda Maria de Resende. Segundo o vereador Ângelo, o objetivo da visita foi “promover o desenvolvimento e resguardar os direitos dos povos quilombolas”. “No final do ano passado, estive em Belo Horizonte juntamente com Djalma Augusto da Conceição, o Tuquinha, vice-presidente do Conselho Comunitário do Curralinho dos Paulas, e agendei uma visita com o superintendente, a fim de tratar deste tema, pois a comunidade foi certificada como quilombola em 2011 e de lá para cá quase nenhuma ação efetiva havia sido feita”, diz o vereador.

De acordo com Ângelo Márcio, o resultado da visita do superintendente de Povos Tradicionais ao Curralinho dos Paulas foi positivo: “Ele achou a visita muito proveitosa. Elogiou a infraestrutura da comunidade e da escola rural. No entanto, salientou que falta fazer uma adequação no projeto pedagógico, de modo que a grade curricular possa trabalhar as tradições e temas voltados à história dos remanescentes quilombolas. Disse também que precisamos desenvolver todas as potencialidade da comunidade, por exemplo, um agricultor da comunidade, por ser quilombola, tem prioridade em fornecer seus produtos para a merenda escolar. Um aluno do Curralinho que for aprovado em vestibular de universidade federal tem direito a uma bolsa de R$900,00. Há, também, a necessidade de serem tombados bens antigos como o cruzeiro, o cemitério, a antiga capela e os muros de preto, como forma de preservar a identidade cultural”, explica o vereador.

 

Expectativa

O Curralinho dos Paulas entrou oficialmente no mapa nacional de povos reconhecidos como remanescentes quilombolas. O vice-presidente do Conselho Comunitário espera que isso traga benefícios reais à comunidade: “a partir de agora, espero que sejam desenvolvidas políticas públicas às quais a comunidade tem direito, como dentista, médicos, visitas de psicólogos e assistentes sociais. Estamos em busca de nossa identidade”, afirma Tuquinha.

Conforme o vereador Ângelo Márcio, “o poder público local ainda não tem participado de forma efetiva” de ações que visam a preservar a cultura quilombola, trazendo benefícios à comunidade do Curralinho dos Paulas. O presidente do Conselho Comunitário, Luís Carlos de Resende Miranda, o Preto, destaca a necessidade de mais investimentos em projetos importantes para o desenvolvimento da comunidade: “grandes são as expectativas de conseguirmos melhorar nossa comunidade. Precisamos de apoio para as oficinas de teatro e para a agricultura familiar".

 

Tradições

A Festa do Rosário, realizada anualmente no dia 7 de agosto, é o principal evento religioso/cultural da comunidade. Na ocasião, reúnem-se congados e folias de reis de diversos lugares numa celebração, na qual a religiosidade promove e confirma a igualdade dos povos através da fé e da cultura. “Neste ano, se apresentaram seis ternos de congado de diferentes localidades. Havia [na comunidade] a cultura de samba de roda e alguns capoeiristas, hoje não mais praticada. Acho que uma das questões mais importantes e que precisam ser trabalhadas é a autoestima e a valorização da cultura negra, suas tradições, suas histórias, seu passado”, sugere o vereador Ângelo Márcio.

 

Poder público

A secretária municipal de Educação, Cultura, Esporte e Lazer, Silvanda Maria de Resende, comentou a visita de João Carlos Pio de Souza ao Curralinho dos Paulas: “Conforme conversa em reunião realizada com o vereador Ângelo Márcio e o superintendente de Povos Tradicionais do Estado, discutimos a viabilidade de repensar o currículo e as práticas pedagógicas e ainda legalizar a situação da rotatividade dos professores da escola local para que possam ter formação continuada e especializada, a fim de dar sequência ao trabalho. Esse é um passo muito importante”.

Questionada sobre a necessidade de realizar algumas adequações na grade curricular da escola, de modo a inserir temas voltados às tradições e história dos remanescentes quilombolas, Silvanda informou que em setembro último aconteceu uma conversa na comunidade do Curralinho dos Paulas, durante a qual foi abordado o tema “Currículo e Proposta Curricular Pedagógica diferenciada para a Escola Professora Rosa”.

A secretária de Educação disse que existem problemas que dificultam o desenvolvimento de projetos pedagógicos específicos e destacou ainda a necessidade de investir na formação dos professores: “Acredito ser necessário, apesar dos entraves, que se olhe para a educação em comunidades quilombolas, de forma especial. Um desses entraves é a rotatividade de professores no município. É preciso investir nos professores, os qualificar, mas, no ano seguinte, eles acabam trocando de escola. Isso é um ponto negativo”. Ainda segundo a secretária, “o processo de discussão da Política Pública de Educação Quilombola deve levar em consideração a reestruturação do currículo escolar - que depende da aprovação da Superintendência Regional de Educação - formação de professores, elaboração de materiais didáticos e participação da própria comunidade”.

Sobre a infraestrutura da Escola Professora Rosa, elogiada pelo superintendente de Povos Tradicionais, Silvanda destacou os investimentos realizados pela atual administração: “avançamos muito nos últimos anos em relação à infraestrutura de toda a rede municipal. A infraestrutura tem um papel essencial na formação das crianças e adolescentes, além de garantir conforto e bem-estar não apenas aos alunos, mas também aos professores, funcionários e toda a comunidade escolar. Acredito que temos uma boa estrutura e estamos interessados em rever o currículo escolar, para darmos tratamento diferenciado à escola da comunidade quilombola”, conclui a secretária de Educação Silvanda Maria de Resende.

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