Da amizade surgiu uma parceria. Desta parceria nasceu Marité

O novo livro de Stela Vale e Alair Coêlho foi lançado no último dia 9 de julho em Resende Costa


Cultura

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A escritora Stela Vale com familiares de Alair Coêlho (foto arquivo pessoal)

Marité, de Stela Vale Lara e Alair Coêlho de Resende, selo da Academia de Letras de São João del-Rei, 2022, 172 páginas, R$30,00, nasceu da vivência de dois escritores amigos (“Manos”, como eles se tratavam) que cultivaram profunda amizade e dela nasceu uma literatura inspirada pela sensibilidade, parceria e criatividade. “Marité consiste num romance ‘de época’ passado aqui nas Vertentes, idealizado por duas pessoas que se conheceram na estação madura de suas vidas, de onde nasceu uma amizade fraterna”, disse Stela Vale.

O lançamento do romance Marité aconteceu no sábado, 9 de julho, no C&M Festas e Eventos em Resende Costa. O evento contou com a presença de convidados, familiares e amigos dos autores, além de membros da Academia de Letras de São João del-Rei, da qual Alair Coêlho, falecido no dia 26 de abril de 2021 aos 90 anos, fazia parte. A ausência de Alair no lançamento do seu mais novo livro foi uma página difícil de ser lida, conforme conta Stela. “E pensar que, juntos, ansiávamos por esse grande dia... Quando me vi só, tentei... preparei o melhor. Só que não conseguia. Eu olhava, sentada ao lado da sobrinha e amiga Regina Coelho, por mim escolhida para dirigir a cerimônia, aquele salão repleto de amigos e familiares que atenderam ao convite feito. Queria dar o melhor de mim, mas meu momento era saudade e glória, no qual a saudade doía mais. Sequer ouvi a primeira pergunta; pedi que a repetisse.”

 

Amizade parceira

A parceria Stela/Alair começou com a escrita do livro “Resende Costa – A Flor das Vertentes”, 2019, selo da Academia de Letras de São João del-Rei. De lá para cá, a afinidade intelectual e a amizade entre ambos, regadas pela seiva da paixão por Resende Costa, fizeram brotar mais uma semente que germinou em Marité. “Nossa parceria literária teve origem através de minha amizade com Sônia Reis. Ela possuía vários escritos meus e Alair, sendo seu primo, ia a sua casa. Lá nos tornamos amigos”, contou Stela.

Escrever um romance a quatro mãos demanda total desapego si para deixar aflorar uma simbiose de ideias. Mas nem sempre o processo da escrita elimina divergências. “Escrever um romance a quatro mãos envolve, sim, certas dificuldades, pois nem sempre os estilos se harmonizam, além de outros inúmeros detalhes. Só que mano Alair era autor de peças teatrais e também havia trabalhado como ator, de que muito se orgulhava. Tal fato lhe deu muito, muito embasamento no trabalho com o romance. Fazia a diferença, ainda, o dom da didática de que era portador. Sabia criar e ensinar. Fui muito privilegiada nesse convívio Stela/Alair”. E os embates, aconteceram? “Claro que houve embates entre nós, mas sempre os vencemos. Aliás, sempre fomos imitadores um do outro. Eu apaixonada com o estilo dele e ele com o meu”, disse Stela.

De acordo com a autora, na elaboração da primeira obra dos dois, “Resende Costa – A flor das Vertentes”, a adaptação foi mais difícil. “Mas foi só o período de adaptação, até nos conhecermos. No início tudo é mais difícil”. Stela comenta sobre a técnica usada por ela e Alair para escrever a quatro mãos uma obra fictícia. “Foi uma iniciativa do mano Alair, por ser mais experiente que eu. Ele desenvolveu a personagem masculina e eu a personagem feminina. Então nossa obra ficou estabelecida que assim seria: todos os personagens coadjuvantes, secundários que surgissem seriam apresentados ao outro imediatamente, para que a trama não se sentisse prejudicada”. Ainda segundo Stela Vale, ajustar datas e enredo não foi uma tarefa fácil na elaboração do romance. “O maior desafio das partes está relacionado ao tempo cronológico. Lidar com datas e enredos não foi tão fácil”.

 

Lembrança de Guimarães Rosa

O enredo de Marité envolveu os autores numa trama de época que inspira saudade e um sentimento bucólico do interior. Aliás, saudade e sensibilidade encantam os autores, conforme relata Stela. “As personagens foram fluindo e, aos poucos, nos dominando com uma capacidade incrível de mudar o enredo a que nos havíamos proposto na sinopse. Nesse momento, lembramos Guimarães Rosa, em Grande Sertão: Veredas. Digo – ‘O real não está na saída nem na chegada; ele se dispõe para a gente é no meio do caminho’”. E completa: “Trata-se aqui de todo o processo da trama, dos percalços da obra. E, assim, Stela e Alair deixaram-se desfolhar e viram a obra florescer”.

Os perfumes das flores e a curiosidade dos casos deram lugar ao inusitado. Stela e Alair ousaram ir além, criaram e sonharam. Deste sonho nasceram Vó Adelina, Bernardo, Tonho e...Marité. O “porreta” Alair e a “levada” Stela, como eles se referiam carinhosamente um ao outro, além de mano e mana, presentearam Resende Costa e os resende-costenses com uma obra literária que revela sensibilidade, bom gosto e inteligência.

Comentários

  • Author

    Por mais que doa a sempre presença da ausencia do nosso pai, existe a alegria (é certo) de ver lançado o último livro. A parceria com a sua “mana” foi prolífica e com base no respeito e amizade no mais pleno apego à recíprocidade, só possível quando a intelectualidade se encontra com a humildade, que diga-se de passagem, é a marca dos dois autores. Parabéns.


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