Em Barroso, trajetórias política e industrial se misturam


Política

José Venâncio de Resende2

Réplica da capela de Sant Ana, do século 18

A ascensão de Barroso à categoria de distrito deve ter ocorrido no período de 1830/1831, época em que a localidade já estava provida de Juiz de Paz, de acordo com Geraldo Napoleão de Souza (Barroso – Subsídios para a História do Município, Editora Folha de Viçosa Ltda., 1979). Assim, Barroso foi distrito de Barbacena até 1890, quando, junto com Dores de Campo, passou a integrar o recém criado município de Prados. A partir de 1894, o distrito foi transferido para o município de Tiradentes. E, a partir de 1º de janeiro de 1939, Barroso passou a integrar o município de Dores de Campos, criado no ano anterior.
 
A primeira tentativa de emancipação de Barroso ocorreu em 1948, diz Napoleão de Souza em seu livro. A causa de Barroso tinha, na Assembleia Legislativa, o patrocínio do deputado Amadeu Andrada, mas, às vésperas das decisões, houve cisão do bloco majoritário que apoiava Barroso e, em conseqüência, o distrito não conseguiu a sua emancipação na época. 
 
Nova tentativa foi feita cinco anos depois, em 1953. A comissão pró-emancipação foi constituída por Geraldo Napoleão de Souza (presidente), Brasilino dos Reis Melo, Silvano Albertoni, José da Silva Pinto, José Pio de Souza, José Augusto de Souza e Epifânio Barbosa. “Desta vez, havia a colaboração do Dr. Tancredo de Almeida Neves, ministro da Justiça do Governo Getúlio Vargas, que conseguiu persuadir os políticos pessedistas de Dores de Campos a apoiarem a criação do município de Barroso.”
 
Depois de idas e vindas como, por exemplo, a resistência de vereadores de Dores de Campo, a emancipação foi aprovada pelo plenário da Assembléia Legislativa. De acordo com Napoleão de Souza, o deputado Último de Carvalho resolveu pedir que a emancipação fosse vetada pelo governador Juscelino Kubitschek. O então ministro Tancredo Neves explicou a JK que o pedido de veto “se tratava de uma represália do deputado Último de Carvalho por ter sido o seu adversário, Amadeu Andrada, quem dera publicidade ao pronunciamento da Câmara de Dores Campos”. Com “os sentimentos de revolta das lideranças políticas e do próprio povo de Barroso contra a intromissão de Último de Carvalho numa área fora de sua influência política”, foi sancionada em 12 de dezembro de 1953 a lei 1.039 que outorgava autonomia político-administrativa a vários distritos mineiros, entre eles Barroso. 
 
 
Primeiro prefeito eleito
                
Com o decreto de emancipação, o funcionário de carreira do Estado, Salomão Barroso, foi nomeado intendente (espécie de prefeito), em 1º de janeiro de 1954, pelo governador JK. Escolhido por eleição direta, Geraldo Napoleão de Souza (PSD) assumiu a prefeitura em 1955, cumprindo mandato de quatro anos. O candidato de Geraldo, que era José Pio de Souza, perdeu a eleição seguinte para João Alves de Macedo Couto (UDN), que administrou Barroso no período 1959-62 e foi sucedido por outro udenista, Inimá Rodrigues Pereira (1963-66). “Predominantemente, eram duas correntes políticas: o Partido Social Democrático (PSD), liderado por Geraldo, e a União Democrática Nacional (UDN), chefiada por João Alves de Macedo Couto, um dos dois farmacêuticos da cidade”, observa o ex-seminarista, licenciado em filosofia, poeta e funcionário aposentado da Companhia de Cimento Portland Barroso (CCPB) Paulo Terra.
 
Com a morte de Macedo Couto, em maio de 1967 em acidente no trevo de entrada de Barroso, os udenistas ficaram órfãos de uma liderança forte. E, com o surgimento da Aliança Renovadora Nacional (ARENA) em substituição à UDN, Geraldo Napoleão ocuparia o espaço ao aderir ao novo partido que apoiava o regime militar. “Quando os adeptos do PSD, liderados por Geraldo Napoleão, aderiram à ARENA, não restou alternativa aos antigos udenistas, para continuar na oposição municipal, se filiarem ao MDB (Movimento Democrático Brasileiro), oposição nacional”, diz Terra. Foi o caso do ex-prefeito Inimá Pereira.     
 
 
Emancipação econômica
 
A década de 1950 foi fundamental para Barroso por quatro motivos, segundo Terra. Além da emancipação política, ele cita as emancipações econômica, com o início do funcionamento em agosto de 1955 da fábrica de cimento (até então, havia a produção quase artesanal de cal e duas olarias de telhas e tijolos); da educação (criação em 1959 do Ginásio São José); e da saúde (criação do primeiro hospital do Instituto Nossa Senhora do Carmo).
 
A instalação da empresa cimenteira em Barroso teve a intervenção direta do então deputado federal Tancredo Neves, relata Terra. “Ele convenceu o empresário pernambucano Severino Pereira da Silva, que já tinha fábrica no Estado do Rio, a desviar dois dos quatro novos fornos que pretendia instalar em Italva, distrito de Campos. A interferência de Tancredo resultou na compra, por parte de Severino, da mina Mata do Ribeirão, que tinha calcário com índice de pureza superior a 95%.”
 
O político são-joanense era então o advogado de Francisco Lopes, proprietário da Mata do Ribeirão, no município de Prados, conta Terra. “Desde essa época, Tancredo passou a fazer parte da CCPB, constituída e licenciada como empresa de mineração por meio de decreto de 1951 de Getúlio Vargas, ocupando cargos como os de conselheiro, diretor e vice-presidente.”
 
Houve na época pressão para se instalar a fábrica em Antonio Carlos, próximo de Barbacena, às margens da Estrada de Ferro Central do Brasil, continua Terra. “A fábrica em Antonio Carlos ficaria sob a influência de políticos de Barbacena (Andrada da UDN e Bias Fortes do PSD). Já em Barroso ficaria sob a influência de Tancredo Neves e da família Napoleão (PSD).”
 
Visto pelo aspecto econômico, em Barroso a matéria-prima (calcário, argila e areia) estava praticamente nas portas da fábrica. Já a distância de Antonio Carlos (40 km) não seria percorrida, em condições normais, em menos de 4 horas por rodovia de terra. Assim, prevaleceu a escolha por Barroso, não apenas por questões políticas como também porque transportar a matéria-prima da Mata do Ribeirão até Antonio Carlos seria antieconômico.      
 
A fábrica tinha capacidade inicial de produção diária, em dois altos-fornos, por via úmida, de 500 toneladas de clinquer, ou seja, o pré-cimento composto por calcário (85%), argila (12%) e areia (3%). Aqui, Paulo Terra apresenta breve explicação técnica sobre a obtenção do clinquer. Trata-se de produto granulado resultante desta mistura, submetida a calcinação (à temperatura entre 1300 e 1500 graus centígrados). No processo de via úmida de fabricação do cimento, as matérias-primas eram misturadas na proporção de 65% de material sólido e 35% de água, mistura a que se dava o nome de “pasta”. Dos cerca de 1500 graus centígrados da temperatura do forno, cerca de 30% eram consumidos na evaporação dessa água, o que representava custo maior de energia.        
 
O clinquer é moído e, após a adição de gesso na proporção de 3%, se obtém o cimento portland (padrão), que é comercializado. Assim, a produção inicial de cimento portland era pouco superior às 500 toneladas (97% de clinquer mais 3% de gesso). O combustível usado era o “óleo preto” (resíduo das várias etapas do refinamento do petróleo), que duraria até o final da década de 80, quando se implantou a queima simultânea de carvão mineral e outros combustíveis.
 
Nesse período (até 1969), existia sobre Barroso uma nuvem espessa de poeira, equivalente a 15% do material sólido introduzido no forno que eram expelidos pelas chaminés, subindo para a atmosfera e caindo, de acordo com o vento, ora em cima da cidade, ora no entorno. Em outras palavras, este pó representava perda de 15% na produção, observa Paulo Terra que trabalhou 38 anos na fábrica. “Não há estudos científicos que comprovem que este pó seja tóxico, mas apenas representava incômodo e sujeira para a população.”                     
 
Com a entrada em funcionamento do terceiro forno em via úmida em 1962, a capacidade da fábrica duplicou e com isso também a presença do pó, informa Terra. “Aí começou a pressão sobre a empresa para instalar filtros de pó, o que só veio a ocorrer em 1968, com o início de operação em 1969.”   
 
 
Candidato por acaso
 
A administração municipal de 1967-70 foi comandada por Genésio Graçano (ARENA), que voltaria à prefeitura em 1973, após o mandato-tampão de dois anos (outra invenção do regime militar). Baldonedo Arthur Napoleão, sobrinho de Geraldo, estudava pós-graduação nos Estados Unidos, quando se discutiam nomes de candidatos para a sucessão de Graçano. José Bernardo Meneghim (ARENA), candidato forte, estava no páreo. Paulo Terra e Lucindo Filho, o Sindico, sugeriram a Meneghim que desistisse em favor do Baldonedo, visto que seria queimar uma candidatura competitiva num mandato mais curto. E Meneghim aceitou abrir mão da candidatura.
 
Terra e Sindico procuraram Adenor Simões Coelho Filho, diretor do jornal são-joanense “Ponte da Cadeia”, com a proposta de publicar reportagem sobre as eleições em Barroso. Com base nas informações dos dois, Adenor publicou a edição seguinte do jornal com a manchete “Baldonedo: futuro prefeito de Barroso”, distribuindo 5000 exemplares em Barroso. As lideranças políticas da ARENA entenderam o recado e providenciaram às pressas a filiação por procuração de Baldonedo, que era um “barrosense ausente” (estudou fora a maior parte de sua vida). Ele foi eleito para o período 1971-72 e, “diga-se de passagem, fez uma boa administração”, opina Terra. Mesmo com esta manobra, Meneghim foi preterido na eleição seguinte por Genésio Graçano (1973-76). Meneghim ainda se elegeu vereador pela ARENA, mas a seguir se filiou ao MDB, passando a fazer oposição à família Napoleão.    
 
”Na minha opinião, o Genésio foi o melhor prefeito que Barroso já teve, tanto do ponto de vista político quanto administrativo”, afirma Terra. “E foi um sortudo porque a cidade, que tinha receita baixíssima, passou a ter uma das maiores arrecadações do Estado de Minas, por causa do antigo ICM criado no governo do marechal Castelo Branco. Rendeu até estátua para Castelo na praça principal da cidade.” 
 
 
Capital suíço
 
Paulo Terra conta que, em 1966, a CCPB firmou contrato de parceria (meio a meio) com o grupo suíço Holderbank. Aparentemente, contrariava a legislação brasileira que não permitia que empresa estrangeira tivesse capital igual ou majoritário em empresa nacional. Mas o Holderbank era empresa financeira com a razão social “Holderbank Financiére Glaris AG”, que atuava em diversos setores. Assim, o Holderbank adquiriu 48% da CCPB; a Sacomex (que pertencia ao grupo) comprou 1%; e a Eternit do Brasil (também do grupo) ficou com 1%, “daí o meio a meio, já que a Eternit era brasileira”.
 
A parceria durou até setembro de 1969, período em que houve redução de 10% da mão de obra e acréscimo de 30% na produtividade da empresa, além de aumento acentuado da remuneração dos empregados mediante nova política de avaliação funcional. Também nesta época foram instalados os filtros dos fornos, eliminando assim o pó das chaminés, com o resultante aumento da capacidade de produção, relata Terra. “O contrato assinado pelas duas empresas era válido por 50 anos, com a opção de um dos sócios adquirir a parte do outro. A parceria se desfez por acordo entre as partes, voltando ao proprietário original a totalidade das ações.”
 
O empresário Severino Pereira aproveitou projeto de ampliação da fábrica elaborado na vigência da parceria, dando andamento na construção da segunda unidade da CCPB. Com isso, a produção da fábrica aumentou em mais duas mil toneladas de clinquer por dia. Esta nova unidade, em via seca (não mais havia adição de água, de modo que todo o combustível gasto era aproveitado na clinquerização das matérias-primas), foi inaugurada em junho de 1972, na gestão de Baldonedo e com a presença do governador mineiro Rondon Pacheco. Assim, a capacidade nominal de produção da fábrica passou a três mil toneladas de clinquer por dia (mais o equivalente a 3% de gesso), embora as melhorias técnicas e tecnológicas depois feitas permitissem chegar a 3.400 toneladas de clinquer/dia, com os quatro fornos em operação.
 
Assim, na década de 1970, a Barroso era a maior produtora de cimento de Minas e a segunda maior do Brasil. A cidade de Barroso era a 15ª maior arrecadadora de ICM (Imposto sobre Circulação de Mercadorias) em Minas. Em meados da mesma década, o grupo Severino Pereira da Silva (formado pelas empresas Paraíso, Barroso, Goiás e Alvorada) tinha vários políticos na diretoria geral, como Tancredo Neves, Hélio Beltrão, José Hugo Castelo Branco, Guilherme Mazzilli e Ovídio de Abreu. De acordo com Terra, a soma da folha de pagamento dos empregados das quatro fábricas era menor do que o total dos honorários pagos aos diretores, o que explica os problemas financeiros que o grupo viria a ter.      
 
 
A fábrica e a política  
 
Em 1962, Inimá Rodrigues Pereira foi eleito prefeito pela UDN, com o apoio explícito (inclusive financeiro) da CCPB, segundo relato de Terra. Empregado da fábrica, Pereira foi licenciado para concorrer nas eleições municipais, com a garantia de retorno à empresa. “Ocorre que, quando ele concluiu o mandato, a fábrica já fazia parte da parceria com o Holderbank. De maneira que, para ele reassumir o posto na fábrica, foi necessário uma ratificação da promessa da CCPB por parte do preposto do grupo financeiro suíço.”
 
Segundo Terra, a eleição de Inimá não foi o único caso em que a CCPB envolveu funcionários com candidatos à prefeitura local. Na campanha eleitoral de 1982, Baldonedo teve com companheiro de chapa Antonio Strauss Marques, que era engenheiro-chefe de manutenção e vice-gerente da fábrica. Baldonedo era candidato a prefeito pela ARENA (situação) enquanto Tancredo Neves concorria na eleição para governador de Minas pelo MDB (oposição).
 
O candidato ao executivo municipal recebeu o apoio explícito da CCPB, por meio do seu diretor superintendente Carlos Alberto Moura Pereira da Silva (filho do presidente da empresa) e do gerente da fábrica Francisco Dias Ferreira Filho, que participaram ativamente da campanha, inclusive pressionando os empregados a votarem na chapa de Baldonedo. Além de apoio financeiro, a empresa colocou nas passeatas pré-eleitorais todos os equipamentos móveis (caminhões, tratores, pás-carregadeiras etc.) e o gerente da fábrica fazia discursos nos palanques.    
 
Antes das eleições, recorda Terra, havia uma decisão administrativa de demitir 400 empregados (cerca de 25% do quadro de empregados), mas o corte foi suspenso e adiado em virtude da campanha eleitoral municipal. “As demissões só foram efetivadas na quinzena imediatamente posterior às eleições, ocorridas em 15 de novembro de 1982.”
 
Na eleição estadual, a CCPB não fez campanha política para Tancredo Neves. Mas o candidato a governador, que era membro da diretoria do grupo empresarial, recebeu apoio financeiro do seu presidente, Severino Pereira da Silva.
 
 
Fenômeno político  
 
O sistema bipartidário (com até três sublegendas de cada partido para acomodar os vários grupos políticos) durou até o final da década de 1980, de um lado com a família Napoleão, que migrou do antigo PSD para a situação, e de outro com a corrente liderada por Meneghim. Com o fim do bipartidarismo, os “Napoleão” ingressaram no PSDB (e partidos coligados) e os liderados de Meneghim foram para o PMDB (e partidos coligados).       
 
Adelmo Graçano, sobrinho de Genésio, foi vice-prefeito de Meneghim em 1989, mas rompeu com ele e se tornou vice de Baldonedo em 1992. Vitorioso pela terceira vez, Baldonedo tomou posse em janeiro de 1993 e renunciou no mesmo mês em favor de Adelmo, para, na condição de suplente, assumir uma cadeira na Assembléia Legislativa mineira. Depois de cumprir integralmente o mandato, Adelmo disputou duas eleições consecutivas como vice de Eika Oka de Melo (2000) e, ao romper com ela, de Arnaud Baldonero Napoleão (2004). Em 2008, foi candidato a prefeito, sendo derrotado. A importância política de Adelmo é que seus votos são subtraídos do candidato perdedor, observa Paulo Terra. “Ele tem um eleitorado cativo (com 600 a 900 votos) e a diferença entre o ganhador e o perdedor das eleições está sempre nesta faixa. A conclusão é que ele é o fiel da balança.”
 
Em 2009, Arnaud (PSDB) assumiu por quatro meses (até abril) com base em decisão da juíza da Comarca, que “impugnou” a candidatura de Eika do Partido Popular (PP), apesar de manter seu nome e número nas urnas. Ela recorreu ao Tribunal Regional Eleitoral (TRE-MG) cujos desembargadores consideraram “insanáveis” as suas contas referentes ao ano de 2001. Mas o Tribunal Superior Eleitoral (TSE) reverteu a decisão por 7x1, “desempossando” Arnaud e devolvendo o mandato a Eika. Com isso, Arnaud tornou-se inelegível nas eleições de 2012.       
 
Eika Oka de Melo – descendente de imigrante japonês, produtor de hortigranjeiros, e casada com Nilo Armando de Melo, sobrinho de Meneghim - lançou-se na política como “free-lancer”, com o apoio das forças adversárias dos Napoleão, depois de ter sido uma “boa diretora” do Colégio Francisco Antonio Pires, recorda Terra. Tornou-se fenômeno político na cidade especialmente depois da vitória no TSE.
 
O Partido dos Trabalhadores (PT) tem pouca influência em Barroso, embora faça barulho, diz Paulo Terra. “Atua como partido satélite.” Atualmente, o partido tem apenas uma vereadora, que deixou o PP no ano passado. Trata-se de Vera Aparecida Rodrigues Pereira, filha do ex-prefeito Inimá, que era presidente da Câmara Municipal em 2011.
 
 
Chegada da Holcim
 
Depois da morte do empresário Severino Pereira da Silva, em 1986, o ramo cimenteiro separou-se do segmento têxtil. Dez anos depois, o setor cimenteiro foi vendido para o grupo suíço Holcim (maior do mundo na atividade), enquanto a área têxtil foi à falência.
 
A Holcim, conta Terra, desmontou os fornos antigos de via úmida, construídos nas décadas de 1950 e 60, mantendo a parte mais nova, que entrou em funcionamento na década de 70. A empresa priorizou a atividade-fim, “que é fabricar cimento, terceirizando as demais atividades, inclusive o ensaque. O relacionamento da Holcim com a cidade tornou-se menos paternalista e mais racional”. A empresa apoia entidades beneficentes, como a APAE e associações comunitárias de bairros, mediante apresentação de projetos sustentáveis, utilizando para isso recursos alocados pelo Instituto Holcim por intermédio da ONG Associação Ortópolis Barroso (AOB).
 
 
Desafios
 
Investimento na criação e manutenção de cursos técnicos profissionalizantes de níveis médio e pós-médio é um desafio de Barroso na área da educação, de acordo com Paulo Terra. Dessa forma, a cidade teria um desenvolvimento sustentável, sem depender excessivamente (como aconteceu no passado) de empregos oferecidos pela fábrica de cimento e pela Prefeitura Municipal. Tais cursos, fruto da ação do poder público e das empresas privadas, “certamente atrairão alunos de Barroso e de cidades do nosso entorno, e virão propiciar a formação de novos empreendedores habilitados para a criação de micros e pequenas empresas regionais”.
 
Terra vê ainda terreno fértil para a abertura de "campi" de universidades vizinhas (UNIPAC de Barbacena, UFSJ de São João del Rei e mesmo as Universidades de Lavras e Juiz de Fora). A existência de cursos superiores em Barroso poderia diminuir o êxodo de alunos (para as universidades das cidades vizinhas, com passagens subsidiadas pelo Município), até mesmo invertê-lo. “Por que não se buscar parceria com essas universidades, abrindo em Barroso outros cursos não existentes em suas sedes?”
 
Na área profissionalizante, Terra lembra que, ainda hoje, não existem cursos profissionalizantes especializados na formação profissional de operadores de equipamentos do parque industrial cimenteiro. Assim, a Holcim empresa vai ter que formá-los. “Mesmo na hipótese de eventual aproveitamento de profissionais cimenteiros já aposentados, esses terão que ser retreinados, pois os novos equipamentos já são resultado de novas tecnologias, mais avançadas do que as do século XX. Tenho informações de que a Holcim já tem programas de treinamento elaborados, e exigirá que seus prestadores de serviço também preparem seus próprios profissionais.”
 
Na área social, o poder público deveria utilizar, de forma profissional e mais eficaz, o Centro de Esporte, Cultura e Lazer Artidônio Pereira da Silva (CECLANS), defende Terra. A idéia é criar atividades para crianças e adolescentes, ocupando-os nos horários não-escolares e nos fins de semana, “o que certamente os manterá longe das drogas e do ócio”. Esse espaço municipal poderá também ser palco de atividades para idosos aposentados, em número cada vez maior. Para isso, também poderá ser buscada parceria do município com entidades públicas ou privadas especializadas nessa área.
 
Na área de infraestrutura, o principal gargalo está no setor de transporte rodoviário, observa Terra. Barroso contou com o transporte ferroviário, embora em bitola estreita (0,76 m entre trilhos), entre 1955 (início da fábrica) e 81. “Grande parte da produção era escoada por esse meio, seja para o Sul de Minas, seja para bitola larga em Barbacena. Mas, a partir de 1972, o transporte ferroviário de cimento para Barbacena cessou, passando a ser feito por carretas graneleiras para o Terminal de ensaque que lá foi construído.”
 
Com a ampliação da Holcim a partir de 2014, prossegue Terra, o trânsito rodoviário na BR 265 entre Barroso e as BR 040 em Barbacena e a Fernão Dias em Lavras, “que hoje já é assustador e causa de muitos acidentes (cerca de 300 caminhões e carretas diariamente transportando cimento), passará a ser infernal, passando para cerca de 800 caminhões e carretas por dia transportando o cimento Barroso”. O transporte será feito por empresas transportadoras, que terão de ter seus cursos de treinamento de caminhoneiros, “já que os cursos de formação autorizados não terão condição de fazê-lo e no mercado há falta dessa mão de obra altamente especializada”.
 
Por outro lado, “o DNIT e os políticos terão que sofrer forte pressão para duplicar a BR 265 entre Barbacena e Lavras, sob pena de ocorrência de freqüentes engarrafamentos, com aumento assustador do número de acidentes com perdas materiais e pessoais”, conclui Terra.

Comentários

  • Author

    Prezados senhores,
    Ótima matéria. Somente um detalhe.
    O sr. Adelmo nunca foi vice-prefeito com o sr. José Meneghim. Em 1989 o vice-prefeito de Barroso, era o sr. Mazinho.
    Espero ter contribuido com o este espaço.
    Abraços,


  • Author

    Considerei bastante interessante a matéria, existe um artigo publicado na Revista de Estudos Políticos da Universidade de Minas Gerais que poderia enriquecer este apanhado, justamente porque trata-se da politica e do desenvolvimento industrial em Barroso. Um fato interessante ocorreu em meados da década de 1930 nas eleições indiretas por duas vezes ocorreu empate entre os antagonistas, na ocasião, Barroso era distrito do município de Tiradentes.
    No entanto, o professor Paulo Terra acompanha o desenrolar de nossa Historia Politica, só esclareço que a vereadora Vera que atualmente pertence ao PT, ate o ano passado era integrante do PT do B e não PP.
    Quanto aos "desafios" vejo a população barrosense deslumbrada com o projeto de expansão da multinacional e convictos dos empregos possivelmente gerados e dos impostos que integrarão as receitas municipais, e quanto ao diminuto território do município de Barroso, sera que nenhum gestor publico não visualiza a possibilidade de reaver esta antiga questão territorial ?


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