Energia solar fotovoltaica avança na região dos Campos das Vertentes

Os paineis espalham-se em telhados de residências e prédios, mas falta uma visão estratégica dos governos em relação a esta energia do futuro.


Economia

José Venâncio de Resende 0

Sistema de energia solar do Museu de Arte Sacra, SJDR.

Paineis (ou placas) de energia solar fotovoltaica, limpa, sustentável e barata, vão gradativamente ocupando telhados de casas e prédios em regiões como Campos das Vertentes e Centro-Oeste de Minas. São mais de 230 quilowatts pico (kWp) instalados nestas duas regiões, apenas pelas empresas Solarmig-JRL e Impacto Engenharia, contemplando residências, pequenas empresas, orgãos públicos e consumidores industriais. Quilowatt pico significa a potência máxima gerada (melhor cenário, com dia sol, tempo limpo, sem nuvens).

A Solarmig, atuando há cerca de dois anos na região, já computou 28 projetos vendidos (24 instalados e quatro em fase de instalação) nos municípios de São João del-Rei, Tiradentes, Santa Cruz de Minas e Carandaí. Isto equivale a uma potência instalada de aproximadamente 100 kWp, o que corresponde a cerca de 300 módulos ou paineis (entre 265 e 325 Watts) espalhados pela região, de acordo com a engenheira de energia Priscilla Azevedo.

A maioria dos projetos da Solarmig são residenciais, variando entre 6 e 8 paineis (de até 320 W), com capacidade de gerar entre 240 e 320 quilowatts (kW) por mês de energia.  Além dos projetos residenciais para geração na própria unidade consumidora, a empresa possui sistemas de autoconsumo remoto, por meio do qual a unidade consumidora gera energia e compensa o excedente na conta de outro local de mesma titularidade (CPF/CNPJ).  É o caso de um projeto instalado em São João del-Rei, que compensa na conta de energia da pousada do mesmo dono em Tiradentes.

Outro projeto de destaque da Solarmig é o sistema de energia solar do Museu de Arte Sacra, em São João del-Rei, que possui 3,2 kWp de potência instalada. A usina é constituida de dez módulos ou paineis de 320W, com capacidade de gerar aproximadamente 400 kW/mês de energia.

Já a Impacto Engenharia contabiliza entre 130 e 150 kWp de potência instalados nos Campos das Vertentes e no Centro-Oeste de Minas, segundo o engenheiro eletricista Anderson Ubaldo. São projetos que abrangem basicamente órgãos públicos e construções industriais, distribuídos entre Governador Valadares (33 kWp), Lavras (24 kWp), Araújo (dois de 16 kWp cada), Nova Serrana (dois sistemas no total de 14 kWp), Divinópolis (quatro sistemas somando 11 kWp) e Antônio Carlos (3,74 kWp).

O projeto de Governador Valadares, com 130 paineis e geração de 4000 kW/mês em média, foi implantado pela Polícia Militar. Teve como inspiração o sistema da 6ª Companhia Independente de Meio Ambiente e Trânsito da Polícia Militar, em Lavras, com cerca de 3000 kW/mês, inaugurado no início de 2017.  

Em Antônio Carlos, a novidade é a geração de energia compartilhada, explica Anderson. Quatro consumidores residenciais juntaram-se e montaram um sistema de 11 paineis, suficiente para atender o consumo de energia das suas casas. “As placas foram instaladas em apenas uma residência com base em parâmetros técnicos, como localização e capacidade de injeção de energia na rede. O investimento em grupo possibilitou a cada um deles reduzir o investimento individual em mais de 50%, com capacidade de geração suficiente para suprir suas necessidades.”

Expectativa

Anderson diz que, para este ano, já tem negociados um projeto de 9 kWp, com um cliente comercial de Divinópolis, e um sistema de 63 kWp com um cliente industrial de Nova Serrana. “Nossa expectativa é chegar no final de 2018 com 500 kWp (2000 paineis) instalados, a maior parte nas regiões Vertentes e Centro Oeste de Minas.

Priscilla também está otimista em relação ao futuro. “A gente espera que a expansão regional acompanhe o crescimento nacional, cujo número de instalações anuais mais que dobrou (houve caso em que até triplicou), nos últimos anos.” Assim, a sua expectativa é de que a Solarmig alcance entre 200 e 300 kWp instalados até o final de 2018.

O investimento num projeto de energia solar fotovoltaica vai depender do tamanho do sistema (dimensionado em relação ao consumo) e das características da instalação e dos equipamentos, explica Priscilla. O interessado pode buscar financiamentos específicos em bancos (Santander, Sicoob Vertentes, Caixa e Banco do Brasil) e financeiras, que podem chegar até 72 parcelas. “O retorno do investimento é geralmente de três a cinco anos, mas os equipamentos tem garantia muito além desse período.”

Para produzir a própria energia, são necessários módulos fotovoltaicos que convertam a luz do sol em energia elétrica. Já o inversor de frequência converte essa energia obtida na forma de corrente contínua para corrente alternada. Esta energia é conectada à energia que vem da rede no quadro de distribuição de cargas. Assim, a energia pode ser utilizada pelos equipamentos elétricos.

Segundo folheto de instruções distribuído pela empresa, o medidor bidirectional registra a quantidade de injeção e de consumo. O eventual excedente gerado de energia representa um crédito que poderá ser utilizado em até 60 meses ou compensado em outras unidades consumidoras de mesma titularidade.

Setor público

Anderson espera que o exemplo da Polícia Militar, em Lavras e Governador Valadares, se multiplique em Minas e no Brasil. Está mais do que na hora de os governos e seus órgãos começarem a incluir no orçamento recursos para investimentos em energia solar e outras ações sustentáveis.

Infelizmente, estamos longe disso. Basta ver que, recentemente, foi construído um prédio novo para o curso de Medicina na UFSJ (campus Dom Bosco) e foi reformado um prédio municipal para a instalação de um Centro de Especializações Médicas e Odontológicas, em parceria com o Uniptan, sem a previsão de sistemas de energia solar.

Imaginemos um município cujo departamento de água e esgoto gaste, por exemplo, R$ 500 mil reais por mês de energia elétrica. Se a prefeitura conseguisse recursos federais para investir na construção de uma usina de energia solar para suprir a demanda deste departamento, a economia de 95% na conta mensal de energia elétrica liberaria recursos para serem destinados à melhoria do saneamento básico.

De um lado, temos uma oferta fantástica de energia solar e, de outro, taxas cada vez mais elevadas na conta de energia elétrica, inclusive com incidência de impostos, observa Anderson. Por isso, na sua visão, o planejamento orçamentário deveria contemplar o investimento em energia solar em prédios públicos. Com um detalhe: essa energia não precisa ser gerada nos locais de consumo. Por exemplo, um casarão tombado pelo Patrimônio poderia gerar à distância a energia necessária ao seu consumo.

Tanto Anderson quanto Priscilla defendem que os municípios poderiam promover incentivo fiscal, como redução do IPTU (Imposto Predial e Territorial Urbano), para donos de residências (e mesmo projetos de autoconsumo remoto e de geração compartilhada) que investissem em sistemas de energia solar fotovoltaica.

Na Câmara Municipal de São João del-Rei, tramita um projeto de lei de iniciativa do vereador Francisco Eduardo César de Paula, que institui o “Programa de incentivo à sustentabilidade urbana nos imóveis do Município”. A proposta estabelece desconto progressivo no IPTU de imóveis que adotarem medidas de redução de impacto ambiental e eficiência energética, entre outras providências. A medida contemplaria proprietários de imóveis residenciais, comerciais, mistos, industriais ou institucionais.

Entre as práticas de sustentabilidade consideradas na proposta do vereador, cita-se o sistema de conversão da energia solar em energia elétrica – utilização de energia solar captada com paineis fotovoltaicos para reduzir parcial ou integralmente o consumo de energia elétrica do imóvel.

LINKS RELACIONADOS:

- Placas de energia solar começam a chegar à região dos Campos das Vertentes - https://www.jornaldaslajes.com.br/integra/inedito-placas-de-energia-solar-comecam-chegar-a-regiao-das-vertentes/2105

- Projetos de energia solar multiplicam-se na região - https://www.jornaldaslajes.com.br/integra/projetos-de-energia-solar-multiplicam-se-na-regiao-dos-campos-das-vertentes/2173

- Energia solar: uma opção ecológica - https://www.jornaldaslajes.com.br/colunas/meio-ambiente/energia-solar-uma-opcao-ecologica/1143

 

 

 

 

 

Deixe um comentário

Faça o login e deixe seu comentário