ESPECIAL ANIVERSÁRIO: O primeiro Solar da Família Rezende no Brasil

Primeiro de dois textos sobre (1) o surgimento dos Resendes em Minas Gerais e (2) a fundação de Resende Costa.


Especiais

José Venâncio de Resende0

Fazenda do Engenho Velho dos Cataguazes (fotos cedidas por Dauro Buzzatti).

A antiga Fazenda do Engenho Velho dos Cataguazes é o primeiro Solar da Família Rezende no Brasil. Edificada no território da então Capela de Santo Antônio de Lagoa Dourada, na época pertencente administrativamente à Freguesia de Prados, a fazenda foi fundada pelo casal de açorianos João de Rezende Costa e Helena Maria de Jesus, diz o engenheiro, professor e escritor Dauro Buzzatti*. “Vasta propriedade com várias construções, ao longo dos anos sofreu desmembramentos pelos processos de vendas, permutas e inventários.”

Depois de analisar documentos antigos, “verificamos que a sede primitiva (seguramente reformada e melhorada) chegou, ao século 21, na posse dos herdeiros do grande fazendeiro, o Coronel Eduardo José de Resende (conhecido como ´Eduardão´), grande comprador de terras”, garante o autor ao contestar aqueles que acreditam que a antiga sede foi demolida.

Buzzatti utilizou documentos avulsos originais de compras, permutas, transações e arrematações de herdeiros, bem como a “espetacular obra” da Genealogia Mineira de Arthur Vieira de Rezende e Silva (parte 5, volume 3), para fundamentar seu trabalho.

Diogo e João

Primeiro, veio Diogo Garcia, da Ilha do Faial, arquipélago dos Açores, atraído por notícias de descobertas de ouro no Brasil e oportunidades de riqueza. Depois de algum tempo no Rio de Janeiro, Diogo deslocou-se para o Sertão dos Cataguases – região das minas de ouro - instalando-se na Freguesia de Nossa Senhora do Pilar, da Vila de São João del Rei.

Depois, veio João de Rezende Costa, filho de Manoel de Rezende e nascido na Ilha de Santa Maria, nos Açores, em janeiro de 1695. No Brasil, deslocou-se também para o Sertão dos Cataguases em busca de prosperidade. Radicou-se, então, no território da então Capela de Santo Antônio da Lagoa Dourada, pertencente à Freguesia de Nossa Senhora da Conceição de Prados.

Diogo e João progrediram aproveitando-se das oportunidades e entregando-se ao trabalho, relata Buzzatti. E passaram a enviar notícias a parentes e amigos, estimulando-os a virem para a nova terra.

Um desses convidados foi o amigo de Diogo, Manuel Gonçalves Corrêa, conhecido pelo apelido de “Burgão”. Ele, também natural da Ilha do Faial, era filho de João Gonçalves e Inês Corrêa.

Três Ilhoas

O convite a “Burgão” foi feito por volta de 1722 e 1723, mas ele faleceu antes da viagem ao Brasil. Deixou viúva a esposa Maria Nunes, que já era órfã, com os filhos Antônia da Graça, Antônio Nunes, Júlia Maria da Caridade e Helena Maria de Jesus, a caçula.

Dificuldades financeiras levaram a viúva a aceitar o convite do amigo do marido, e por volta de 1723 ela desembarcou no Rio de Janeiro. Chegou acompanhada do genro Manoel Gonçalves da Fonseca, casado com a filha Antônia, de duas netas (Maria Teresa e Catarina) e das filhas Júlia e Helena. Recebidos por Diogo, foram morar na casa dele.

Os laços entre Diogo e a família de “Burgão” estreitaram-se ainda mais e, em 1724, ele se casou com Júlia Maria da Caridade – ele com 34 anos e ela com 16.

João de Rezende Costa, que frequentava a casa do amigo Diogo, acabou por se casar com Helena Maria de Jesus, aos 3 de outubro de 1726, na igreja Matriz de Nossa Senhora da Conceição de Prados. Sua sogra, Maria Nunes, passou então a morar com o casal, até o seu falecimento em 1742.

Helena era uma das três filhas de “Burgão” que se tornaram “importantes matriarcas de famílias tradicionais de Minas Gerais e ficaram sendo conhecidas como ´As Três Ilhoas´”, resume Buzzatti. “Segundo o ministro (do Supremo Tribunal Federal) Francisco de Paula Ferreira de Resende elas tornaram-se, pelo casamento, os ´troncos das três grandes famílias dos Resendes, Carvalhos e Junqueiras´. Com o passar do tempo elas se notabilizaram pela distinta e numerosa descendência que deixaram...”

João e Helena

O casal João de Rezende Costa e Helena Maria de Jesus passou a viver na Fazenda do Engenho dos Cataguazes. Ali nasceram os seus filhos, entre eles Antônio Nunes de Rezende que foi batizado na primeira Capela de Santo Antônio de Lagoa Dourada aos 13 de novembro de 1731, “apesar das possíveis condições rudimentares” da capela, assinala Buzzatti. “Os demais foram batizados na Igreja Matriz de Nossa Senhora da Conceição, em Prados.”

A filha do casal, Maria Helena de Jesus, casou-se em setembro de 1749 na “nova” Capela de Santo Anônio de Lagoa Dourada (inaugurada em 1734) com o Capitão José Antônio da Silva. O casal foi morar na Fazenda do Engenho dos Cataguazes, uma vez que “seus pais teriam se transferido para a localidade de Prados”, segundo Roberto de Andrade Pinto, citado pelo autor. A nova moradia é confirmada no testamento de João de Rezende Costa, de 7 de abril de 1758, “assinado no seu Sítio do Carandaí” (Livro 3, fls 24v da Matriz de Nossa Senhora da Conceição de Prados).

O Capitão José Antônio da Silva, que faleceu em 07/07/1779, deixou em inventário a Fazenda dos Cataguazes, entre outros bens. Já Maria Helena, falecida em 09/08/1812, deixou como inventariante e administrador da fazenda o seu filho Capitão Manoel Antônio da Silva.

Quanto aos outros filhos do casal José Antônio e Maria Helena – Antônio Castório da Silva Rezende, Maria Antônia do Rosário, Luciana Maria de Jesus (nascida “da Silva Rezende”), Pe. Julião Antônio da Silva Rezende e Pe. José Antônio da Silva Resende – Buzzatti apresenta duas particularidades. A primeira é de que teriam vendido suas partes ao irmão, Capitão Manoel Antônio da Silva, “aparentemente por consenso”. A segunda é, “incontestavelmente, que a Ermida da Fazenda dos Cataguazes ou Engenho dos Cataguazes era da invocação de Nossa Senhora do Rosário…”, uma vez que alguns deles se casaram nesta Ermida. Trata-se da “mesma invocação da atual Fazenda do Engenho Grande. E não se tem conhecimento de duas capelas ou ermidas com a mesma invocação naquela região!”.

Manoel Dutra

O Capitão Manoel Antônio da Silva Rezende morreu solteiro, aos 74 anos, e em seu testamento (25/02/1815) instituiu herdeiro o sobrinho Manoel Dutra Gonçalves de Rezende.

Aos 39 anos de idade, o Alferes Manoel Dutra, casado com Maria Rosa de Jesus, então com 28 anos, começou a administrar a Fazenda do Engenho dos Cataguazes. Mas ele não teve sucesso no empreendimeno, de acordo com Buzzatti. “As dívidas assumidas por ele tiveram como consequência a necessidade de desmembramentos das suas terras com vendas e arrematações sucessivas. O fato de ter-se casado duas vezes (a segunda mulher foi Maria Balbina da Silva, sobrinha de Maria Rosa) também deve ser considerado como um fator importante, causador desses desmembramentos, devido ao processo de inventário e partilhas.”

Os processos de penhora, hipotecas e levantamento de dívidas se arrastaram por anos. O patrimônio do então alferes foi ficando cada vez mais comprometido, prossegue Buzzati. Por meio de Carta de Arrematação, foi feito levantamento da totalidade das dívidas a credores, pagamentos de impostos e demais obrigações a serem quitadas por Manoel Dutra. O desfecho ocorreu no final de dez anos através do Auto de Arrematação de 12/10/1850.

Pulverização

O Major Antônio Vieira da Silva Pinto arrematou a maioria das terras e benfeitorias da Fazenda do Engenho ou Fazenda dos Cataguazes, conforme Carta de Arrematação de 30 de agosto de 1851, diz Buzzati. “Poucos dias antes desta data, ou seja, em 11 de agosto de 1851, a sua filha Ana Antônia de Rezende casou-se com o seu primo, o Coronel Eduardo José de Rezende.

A Carta de Arrematação e documentos avulsos mostram “claramente a pulverização dos bens do Alferes Manoel Dutra Gonçalves, com penhora de praticamente tudo”, observa Buzzatti. Foram penhorados o “Sobrado da Fazenda dos Cataguazes”, as “Casas de Sobrado”, “Bens de raiz”, entre outros bens de extensa lista. “Na Carta de Arrematação de 1851 menciona-se a existência de ´Sobrado´ e ´Casas de Sobrado´, o que permite concluir que existiam, na Fazenda dos Cataguazes, várias construções, o que era bastante comum nas fazendas em geral.”

O processo de Arrematação encerrou-se em 12/08/1861. O Major Antônio Vieira da Silva Pinto fez o pagamento da totalidade da Fazenda dos Cataguazes, tornando-se o seu proprietário majoritário. Mas continuou residindo em Queluz (atual Conselheiro Lafaiete) e cuidando de seu vasto patrimônio em Miraí.

Coronel Eduardo

O jovem Eduardo José de Rezende, com sua visão de futuro e espírito empreendedor, e com “recursos advindos de herança do seu pai”, adquiriu a propriedade do seu cunhado, o Major Antônio Vieira, de acordo com Buzzatti. Assim, pela sua capacidade empreendedora, é provável que o Coronel Eduardo tenha adquirido, “gradativamente”, “quase a totalidade das terras e as benfeitorias da antiga Fazenda ´dos Cataguazes´”, “sendo incorporadas à sua Fazenda do Engenho Grande”.

O novo proprietário rebatizou a Fazenda do Engenho dos Cataguazes como Fazenda do Engenho Grande. Ali iniciou a criação da raça de jumentos “Pega”, que ganhou destaque nacional.

Eduardo José de Rezende, já coronel, faleceu com 82 anos de idade “e deixou um vasto latifúndio, declarando em seu testamento ser possuidor de nada menos do que três grandes fazendas: do Engenho, do Mendanha e da Boa Esperança”.

Tavares de Melo

A Fazenda do Engenho Grande foi herdada por Joana Rezende Tavares de Melo, casada com o médico José Tavares de Melo, político influente no Rio de Janeiro e em Minas Gerais, onde foi deputado e senador estadual, de acordo com Buzzatti. “O casal manteve a fazenda e a criação (de ´Pega´) iniciada pelo Coronel Eduardo. Após alguns anos, a propriedade passou às mãos do seu filho, homônimo do pai, José Tavares de Melo (Filho), que se tornou grande criador e fazendeiro regional”.

Ele se tornou o maior incentivador da criação dos jumentos da raça “Pega” – animais reconhecidamente resistentes e dóceis -, cuidando da Fazenda do Engenho Grande até a sua morte, em 29/09/1996. Houve várias tentativas por parte da família para operacionalizar a fazenda, sem êxito. Em 2015, a fazenda foi colocada à venda mas não se sabe que destino teve a propriedade.

*Fazenda do Engenho Velho dos Cataguazes, eBook Kindle, 2016, Lagoa Dourada. Disponível em https://www.amazon.com.br/

 

 

 

 

 

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