Espetáculos de cavalos lusitanos atraem cada vez mais turistas em Lisboa

O público das apresentações no Picadeiro da Ajuda, Belém, da Escola Portuguesa de Arte Equestre, chegou a 16 mil pessoas em 2016.


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José Venâncio de Resende0

Apresentação na mini-gala do dia 12 de junho.

Na Escola Portuguesa de Arte Equestre (EPAE), o aluno não é o cavaleiro, mas sim o cavalo “porque é ele que vai aprender a arte equestre portuguesa”. A afirmação de Paulo Manuel Rebelo Candoso, diretor da Escola, pode parecer surpreendente à primeira vista. Mas está relacionada com o objetivo da EPAE, desde o seu surgimento, que é o de divulgar a arte equestre tradicional portuguesa e difundir o cavalo lusitano.

Os cavalos, todos garanhões com pelagem castanha, são trazidos da Coudelaria de Alter aos 4 anos de idade, depois de uma pré-seleção. Passam por uma fase de adaptação – levam 6 a 7 anos para entrar no espetáculo - e os habilitados permanecem na Escola até o término do tempo útil. Embora a “idade de reforma” (aposentadoria) seja 16 anos, a maior parte dos que participam dos espetáculos tem idade de cerca de 22 anos, um já com 26 anos, conta Paulo Candoso. “Respeita-se o ritmo de cada um.”

São quase todos cavalos reprodutores destinados a manter a raça. “A maior parte dos cavalos que estão na Escola passou pela prova de apuramento de garanhões”, explica Paulo Candoso. No período apropriado, são levados à Coudelaria onde permanecem uma semana para as cobrições das éguas. Em futuro próximo, será adotada a coleta de sêmen na própria Escola, evitando assim que os animais tenham de viajar 200 km até a Coudelaria.

Atualmente, a EPAE tem 55 cavalos, dos quais 47 animais de espetáculo no Picadeiro Henrique Calado, na Calçada da Ajuda/Belém – Lisboa, e 8 potros em treinamento na sede da EPAE, nos jardins do Palácio Nacional de Queluz, em Sintra, local que também serve de período de repouso para os cavalos. A intenção é que o número de potros na sede seja aumentado para 18 animais, revela Paulo Candoso.

Cavaleiros

A EPAE tem atualmente 15 cavaleiros profissionais, entre os quais uma mulher, Mariana. Ao ingressar na Escola, o candidato passa por um estágio de adaptação com duração de nove meses. Aprovado, tem mais um período de dois anos quando aprende propriamente a arte equestre e então se torna cavaleiro.

Em futuro próximo, um dos objetivos da EPAE será o de formar cavaleiros em nível superior, conta Paulo Candoso. Para isso, a Escola já está tratando com o Ministério da Educação sobre o processo de reconhecimento do curso, que tão logo seja aprovado vai conferir licenciatura aos futuros alunos.

Além dos cavaleiros, trabalham nas instalações do Páteo da Nora, à frente do Picadeiro na Calçada da Ajuda, 14 tratadores dos animais, dos quais metade são mulheres. Eles são responsáveis por tratar, lavar e alimentar os cavalos.

Espetáculos

Nas instalações do Páteo da Nora estão localizados os boxes e o picaceiro para aquecimento e treino. Os cavalos aprendem a fazer todos os exercícios, mas cada um faz melhor determinado exercício, observa Paulo Candoso.

Os cavalos participam de dois espetáculos mensais. As galas que acontecem normalmente na última ou penúltima sexta-feira do mês, com duração de hora e meia. Já as mini-galas ocorrem na primeira quinzena do mês e tem 45 minutos de duração. Também os treinos diários são abertos ao público.

Uma curiosidade na preparação dos animais para estes espetáculos é o chamado enfitamento. Cada cavalo leva uma hora a ser preparado para entrar no picadeiro, entre a saída do boxe, passando pela limpeza, e o enfitamento (confecção da trança a portuguesa, colocação da fita e topete). Depois de enfitado, o animal é aparelhado com a sela portuguesa.

Tanto os cavaleiros quanto os cavalos da EPAE levam para os espetáculos a tradição da Real Picaria encerrada no século XIX – academia equestre da corte portuguesa do século XVIII – ao usar réplicas dos trajes, arreios e acessórios da época. “A Escola recupera, ainda, exercícios da equitação Barroca, tais como os Ares Altos”, segundo a publicação “Parques e Palácios de Sintra”.

O exercício dos Ares Altos foi um dos apresentados na mini-gala presenciada por este repórter no dia 12 de junho a convite da EPAE, entre outros como Cavalo a mão, Passo 3, Rédeas longas e Carrossel.

Novas instalações

Em 2016, os espetáculos da EPAE receberam um público total de 16 mil pessoas. A expectativa de Paulo Candoso é que, com as novas instalações da Calçada da Ajuda em pleno funcionamento, este público aumente, principalmente devido ao maior fluxo turístico verificado em Portugal. “Desde 23 de junho deste ano, a Escola entrou em nova dinâmica com o fim das obras.”

As obras do Picadeiro Henrique Calado tiveram início em 2015 e foram concluídas em junho último, permitindo o regresso dos espetáculos a Belém, seu local de origem. Foram investidos cerca de 2,3 milhões de euros em obras de recuperação do Picadeiro e restauração/modernização de todo o espaço do Páteo da Nora.

O Picadeiro Henrique Calado é equipado com duas bancadas, com capacidade para 282 pessoas, localizadas em cada um dos topos e ainda alberga loja, cafetaria e bilheteira. A área de exibição tem 18m de largura e 49m de comprimento e piso em areia e fibra. Destacam-se ainda as modernas soluções de iluminação cênica.

As novas instalações do Páteo da Nora, onde se encontra o edifício das cavalariças, passaram a ser dotadas de condições adequadas ao desenvolvimento das atividades envolvendo funcionários e cavalos. Também podem receber visitas guiadas do público que assiste aos espetáculos no Picadeiro Henrique Calado, à semelhança do que acontece noutras escolas europeias.

O projeto de recuperação do Páteo da Nora envolveu pisos (escritórios e áreas de serviço e de exposição) e compartimentos para boxes (aumento do número de alojamentos para cavalos) entre outras melhorias.

Breve histórico

A EPAE foi fundada em 1979 e tem sua sede nos jardins do Palácio Nacional de Queluz, em Sintra. Recuperou, assim, a tradição da Real Picaria, academia equestre da corte portuguesa do século XVIII, que usava o Picadeiro Real de Belém, hoje Museu Nacional dos Coches.

Em seu reinado, D. João V reuniu os melhores cavalos do país e formou uma mini-coudelaria que, em 1748, se tornou a Coudelaria de Alter, com a finalidade de fornecer os cavalos lusitanos à Casa Real e a sua academia equestre.

A gestão da EPAE foi entregue pelo Governo à Parques de Sintra – Monte da Lua S.A. (PSML), empresa de capital público. Segundo Paulo Candoso, a EPAE é considerada uma das quatro melhores escolas de arte equestre do mundo - as outras três são as de Jerez (Espanha), de Saumur (França) e de Viena (Áustria).

 

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