Feminicídio em RC: dois casos “numa lamentável coincidência”

Júri popular condenou José Nicodemos Neto, o Tonho, a 23 anos e 3 meses de prisão pelo assissanato, a facadas, da jovem Luciana dos Reis


Cidades

Da redação0

Protesto pacífico em frente ao Fórum de Resende Costa durante julgamento de autor de crime de feminicídio (foto Fernando Chaves)

Feminicídio! O problema é mundial, nacional, estadual, local. Como não é uma ilha, Resende Costa não é exceção. Dois casos chocantes, “numa lamentável coincidência: nas vésperas do julgamento de um caso de feminicídio que ocorreu em Resende Costa há quase quatro anos, um novo feminicídio aconteceu na cidade”. Assim o jornalista Fernando Chaves inicia a transmissão do canal no youtube RCTV, em 6 de dezembro, diante do Fórum da cidade. Um grupo de mulheres reuniu-se no local para manifestar “silenciosamente o seu luto, a sua indignação e o seu clamor por justiça”.

 

Caso 1

Na noite de sábado (4), a Polícia Militar foi acionada pelo SAMU, cuja equipe atendia,uma emergência numa residência no bairro Bela Vista. A aquipe encontrou a porta da suíte arrombada e marcas de sangue no chão. No banheiro, dois corpos caídos: Maria Sueli Pinto, 49 anos, já sem vida, vítima de dois golpes de faca no tórax, e o marido dela, A.J.M., 48 anos, inconsciente por tentativa de suicídio; foi socorrido, atendido no hospital local e, em seguida, preso. Um dos três filhos do casal contou que, ao chegar à casa, ouviu a mãe pedindo socorro. O casal estava trancado na suíte. Depois de várias tentativas, o filho conseguiu arrombar a porta, mas já não deu mais tempo de socorrer a mãe. O casal estava em fase de separação, mas foi “um caso atípico” porque não havia registro policial nem indício de alcoolismo e ambos eram ministros da eucaristia, disse o tenente Gabriel Nascimento em entrevista a Fábio Silva, do Pop News. Posteriormente, o marido disse à polícia que brigou com a esposa e acabou por dar duas facadas no peito dela, tentando suicidar-se em seguida.

 

Caso 2

Em 29 de abril de 2018, Luciana dos Reis, 28 anos, foi vítima de um golpe de faca no abdome pelo ex-companheiro José Nicodemos de Jesus Neto, o Tonho, após intensa discussão entre ambos, de acordo com reportagem do JL. Eles tinham uma filha de apenas três anos. Luciana foi socorrida por vizinhos que passavam pelo local. O SAMU foi acionado, mas ela não resistiu aos ferimentos. Neto fora denunciado três vezes por Luciana em 2017: por lesão corporal e duas ameaças, que teriam sido o motivo da separação. Fugitivo, o autor do feminicídio foi capturado pela Polícia Militar, com a colaboração da família dele. Foi encontrado escondido numa mata às margens da estrada de acesso à cidade de São Tiago. Preso, Neto foi levado para São João del-Rei, onde foi autuado pelo delegado de plantão e encaminhado para o presídio de Resende Costa. No último dia 6 (segunda-feira), Tonho foi condenado por um júri popular, realizado no Fórum da Comarca de Resende Costa, a 23 anos e 3 meses de pena.

 

Reações

A assistente social Raquel Azevedo, presente a uma manifestação realizada pacificamente em frente ao Fórum, no dia 6 de dezembro, enquanto o júri popular acontecia, destacou o caráter mundial da violência doméstica. “Nós sabemos que o índice de feminicídio hoje é muito alto.” No Brasil, a cada seis horas e trinta minutos, uma mulher é morta por um homem por violência doméstica. Ela acrescentou: “Nós viemos aqui pedir justiça pelas mulheres que vêm sendo violentadas, porque é um crime hediondo, é um crime desumano, é um crime absurdo e que continua acontecendo. Nós estamos aqui pedindo justiça pela Luciana, pela Sueli, por mulheres que são vítimas próximas a nós.”

A artesã Rosely Antunes referiu-se à triste coincidência dos dois casos e pediu que a pena fosse proporcional ao “sofrimento (que) é muito grande”. “Nós, mulheres, estamos muito cansadas. Só pedimos: dê espaço pra gente.” Janete Helena, servidora municipal, foi no mesmo sentido, pedindo que “parem de nos matar” e que “as penas não sejam leves porque a misoginia e o machismo são culturais”.

A assistente social Clébia Resende enfatizou que “infelizmente” muitas mulheres sofrem caladas no mundo inteiro, mas em Resende Costa “nós nos sensibilizamos por causa do caso recente que coincidiu com esse júri popular”. Por isso, espera que “ninguém admita mais a violência contra a mulher” e pede que as pessoas denunciem pelo 180, ainda que anonimamente, para a ajudar uma eventual vítima.

 

Conselho

Desde agosto, tramita na Câmara dos Vereadores a proposta de criação do Conselho Municipal de Direitos da Mulher (CODIM) ou então uma comissão da mulher, dentro do Conselho de Assistência Social. A iniciativa é da jovem Itane Batista, do movimento Pretas Presentes, e foi subscrita pelo vereador Fernando Chaves.

Segundo Chaves, este é um movimento que está ocorrendo na região, com vários municípios discutindo o assunto e criando o seu Conselho. “É uma forma de dar espaço à mulher e oferecer um local de participação, um lugar de voz para a mulher.” O vereador destaca o fato de a Câmara Municipal de Resende Costa ser cem por cento masculina.

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