Influenciadoras digitais ganham espaço no mercado de Resende Costa

Cidade conta com várias mulheres de diferentes idades na divulgação de lojas, produtos e compartilhamento do dia a dia


Vanuza Resende


Influencers da cidade foram convidadas para 2 live da Pizzaria e Buteco da Maura (foto - PK Fotografias - Paula Karoline)

Eles estão nas redes sociais, dando bom dia, falando das últimas novidades, divulgando marcas, produzindo diversas enquetes e se posicionando sobre os mais diversos assuntos, por vezes até entrando em polêmicas: os influenciadores digitais, ou como são mais chamados – os influencers.   

Entre os mais famosos influencers do Brasil, são centenas de milhares pessoas curtindo, assistindo e repostando. Todo o sucesso, que já é realidade no mundo virtual, chegou às pequenas cidades, como é o caso de Resende Costa, que assiste a um aumento expressivo de mulheres trabalhando com as ferramentas das redes sociais. O JL conversou com algumas, que trabalham também como influencers, e elas comentaram sobre a rotina diária de vida e trabalho.

Isabela Fernandes, 23, é bacharel em direito, trabalha em uma clínica credenciada no DETRAN e, desde 2015, realiza diversos trabalhos de divulgação, quando começou a fazer fotos para lojas em Resende Costa. “Eu sempre amei o mundo do Instagram, sempre gostei de acompanhar as blogueiras, apreciar os vídeos e fotos. A partir disso, com os convites que recebia das lojas e também com o apoio das pessoas mais próximas, eu comecei a postar mais coisas no meu perfil. Comecei a dar dicas, postar vídeos com montagens de looks, abrir caixinhas de perguntas, incentivar as pessoas e também mostrar o meu dia a dia.”

Mônica Cristina de Oliveira, 32, Servidora Pública Estadual, também está nas redes como influencer. O trabalho dela começou de forma despretensiosa. “Eu comecei em meados de 2020, quando uma seguidora do Acre pediu pra eu abrir a conta (modo público) porque ela queria compartilhar um vídeo meu. A partir daí, fui ficando mais desinibida e as coisas começaram a fluir.”

Paula Sheylla dos Santos, 26, microempresária, é uma das pioneiras na cidade. “Sempre gostei de postar vídeos, fotos e conteúdos na internet, porém tornou-se um trabalho em março de 2020. As pessoas ao meu redor sempre ficavam falando para eu tornar meu Instagram fonte de trabalho. No início eu não acreditava que poderia dar certo pelo fato de Resende Costa ser uma cidade pequena. Até que um dia eu decidi começar a fazer pequenas divulgações e, assim, uma coisa foi levando a outra. Posso dizer que foram as pessoas do meu convívio que me fizeram ser influencer.”

Isabele Silva Ribeiro, 19, trabalha no comércio local e faz publicidade, lives e serviços de divulgação através do Instagram. A jovem explica como iniciou sua atividade nas redes. “Comecei a aparecer no Instagram há um ano, em agosto de 2020. Sempre fui uma pessoa comunicativa, isso ajudou meus serviços no aplicativo a fluírem, fazendo com que eu trouxesse credibilidade tanto a quem me segue quanto aos comerciantes que me procuram.” O sonho de trabalhar com as ferramentas e canais das redes sociais começou ainda criança: “Sempre gostei de redes sociais. Na minha infância, possuía um canal no YouTube, o “Mundo Charmoso”, mas na época não prossegui com ele. Quando o Instagram começou a ser um meio para esse tipo de serviço, a minha tia começou a me influenciar e assim eu fiz”, declara.

Quem também começou na infância foi Maiara Maia, 15, que hoje cria conteúdos para diferentes plataformas digitais. “Eu sempre adorei gravar vídeos e, como comecei muito nova, estava sempre por dentro das trends do momento. Eu mudei meu estilo de vídeo e comecei a postar em novas redes sociais. Desde então, venho alcançando bem mais pessoas.”

Em uma edição de 2017, o JL publicou reportagem especial sobre a “Era Digital na Infância”. Maiara foi uma das entrevistadas. Na época, a adolescente já havia postado vídeos que acumulavam cinco mil visualizações – uma estatística considerada expressiva nas redes. Hoje, ela possui mais de 800 mil seguidores no TikTok. Questionada sobre o que levou a esse expressivo aumento, ela acredita que é fruto do trabalho aliado à diversão. “Com o passar do tempo, os aplicativos foram mudando, atualizando-se e eu fui me adaptando. E como fiquei mais velha, comecei a levar isso mais a sério e a me dedicar mais, apesar de tudo ainda ser uma grande diversão para mim.”

 

Ganhos com as redes sociais

Maiara diz que nem sempre ganhou dinheiro com o trabalho na web, mas hoje consegue ter lucro com as postagens. “Em alguns casos, recebo da própria marca, mas meu maior retorno vem das redes para as quais crio conteúdo. Atualmente posto vídeos com frequência no Instagram, TikTok e Kwai. Tenho maior alcance no TikTok, já que ele é um dos aplicativos queridinhos do momento. Meu público é bem diferente em cada plataforma, mas grande parte deles tem entre 14 e 24 anos. Apesar de ter uma grande quantidade em Minas, tenho pessoas de todos os cantos me acompanhando”, conta Maiara.

Isabele considera sua atividade nas redes sociais como um segundo emprego. “Com aparição no Instagram, me surpreendi com tanto apoio e engajamento. Eu não esperava por isso na velocidade em que foi. Atualmente, tenho 6.500 seguidores e um milhão e meio de alcance, sendo distribuídos em 43,3 % de Resende Costa, 13,6% em São João del-Rei e o restante em cidades vizinhas. Tenho um retorno financeiro que considero ótimo e já conquistei coisas de valores consideráveis através das publicidades que faço e, principalmente, com as lives para comércios.”

Paula explica que trabalhar como influencer ajudou-a a divulgar a sua própria loja. “Em termos de rede social, o que mais me ajuda hoje em dia é o Instagram, apesar de eu ter o TikTok com mais seguidores, mas são mais pessoas de outras cidades. A plataforma me ajuda até mesmo em questão da divulgação da minha loja country. Inclusive, uma das maiores divulgações que faço hoje é pra mim mesma. O Instagram me gera uma renda extra, principalmente agora em época de lives, porém não é uma fonte fixa, já que em cada mês posso estar ganhando um valor diferente. Ganho muitos ‘recebidos’, que são quando o estabelecimento me envia algo para ser divulgado. Foi pensando nisso que resolvi começar com a loja para aproveitar essa minha fase e torná-la uma coisa da qual eu posso ter mais controle financeiro. Mas de qualquer forma acabo, sim, ganhando muito sendo influencer porque na maioria das vezes não preciso pagar nem por um lanche ou para arrumar meu cabelo. É só ir nos stories do Instagram e divulgar em troca. Eu amo!”, declara Paula.

Mônica diz que, por já ter uma renda fixa, o valor que ela recebe das redes sociais é baixo. “As divulgações que mais compensam (monetariamente falando) são menos frequentes e pontuais, até pelo motivo de não ter a agenda 100% disponível. Não é tudo que consigo fazer, pois tenho que trabalhar todos os dias, durante o dia todo. Todas as minhas parcerias são daqui da cidade. Cerca de 45% do meu público é de Resende Costa; o restante se divide em São João e Belo Horizonte, mas tem gente de vários lugares do Brasil. A maioria das divulgações é de lojas de roupas e comida.”

A maioria do trabalho realizado por Isabela é de divulgação de lojas de roupas. “Consigo alcançar, em média, 1.100 contas. Apesar de ser pequeno o número de contas, são pessoas que estão ali todos os dias me apoiando e me incentivando. A maioria das pessoas é de Resende Costa, mas ainda não consigo viver somente com o dinheiro das redes. As divulgações são contratadas de acordo com a preferência do estabelecimento/parceiro”, conta a influencer.

 

A era do cancelamento

Numa época em que quase todos têm opinião e vocalizam isso de forma pública – principalmente no que se refere às questões de raça, gênero, discurso político, aspirações profissionais, entre outros temas delicados –, é preciso ter cuidado com os conteúdos abordados nas redes.

Paula Sheila revela que isso já foi um problema, mas que hoje contorna a situação. “Desde quando comecei a expor minha vida na internet, sempre recebi críticas maldosas, principalmente por perfis fakes. Apesar de eu não ligar, às vezes as pessoas pegam pesado demais e desestabilizam um pouco o meu emocional. Porém, sou uma pessoa que sofre na hora, mas logo passa e eu volto com tudo a fazer o que amo. Principalmente hoje em dia, em que aprendi muito com as experiências passadas. Eu sofria demais com críticas e hoje faço o que gosto de fazer e ponto final. Não me importo com o que o povo vai falar e, sim, com o meu bem-estar.”

De acordo com Mônica, a sua atividade profissional não deixa de “intimidar” algumas pessoas. “A aceitação diretamente a mim? Perfeita (risos)! Nunca recebi nenhum comentário ruim ou crítica, até brinco que queria um hater, pois acredito que quem tem é porque está fazendo sucesso. Mas acredito que não devo agradar todo mundo, as pessoas só não me atacam por causa da minha profissão (risos). Elas têm medo, mas eu juro que nunca moveria o Estado (na forma da Polícia Civil) para agir contra haters. Juro. Gente, pode xingar, tá? Não vou fazer B.O. nem nada disso, vou avaliar o xingamento, ver o que posso tirar de bom e seguir o baile.”

Apesar de não ter recebido ataques, tão comuns nas redes, Mônica é consciente do papel que deve cumprir. “Já dispensei parcerias nas quais não acreditava e que, simplesmente, não entendia como funcionavam e não queria influenciar ninguém a comprar, ter algo, investir em alguma que eu não sabia se era confiável. Não vou indicar pra ninguém algo que não faria pra mim mesma, sabe?! Óbvio que, eventualmente, algumas pessoas podem não aprovar aquilo que eu divulguei, mas por questão de gosto, afinidade, valor etc., e não por ser algo arriscado ou ruim. Eu sempre evito aquilo que não conheço e que sei que pode trazer riscos para as pessoas. Eu sempre estudo o assunto a fim de saber se posso divulgar ou não. Exemplo: eu não entendo de mercado de ações e já me contataram para divulgar um perfil que fazia esses investimentos. Recusei explicando que, se eu não entendo para mim, não me sentiria bem indicando a outras pessoas, sabendo do risco real de perder dinheiro, entende?! Procuro sempre ser muito cuidadosa com o que passo. Minha intenção é ajudar, facilitar e entreter meus seguidores.”

Isabela também afirma nunca ter tido problema com os chamados “cancelamentos” nas redes sociais. “Nunca sofri isso diretamente. Mas confesso que algumas coisas conseguem abalar o meu psicológico. Dentro desse meio estamos expostos a isso, né?! Então busco absorver somente as coisas boas, as energias positivas e levar comigo todo apoio e incentivo daqueles que estão comigo. É uma responsabilidade gigantesca, óbvio. Nos dias atuais, devemos pensar muito antes de falar qualquer coisa. Mas tento ser transparente e passar aquilo que realmente acho e em que acredito.”

Maiara sabe da responsabilidade e se diz cuidadosa quanto aos assuntos abordados por ela em suas postagens e interações. “É uma grande responsabilidade, às vezes até perco a noção da proporção que algumas coisas podem tomar. Mas tento sempre usar minhas redes para propagar o bem e fazer com que as pessoas se divirtam. Felizmente, nunca tive episódios de cancelamento, mas tenho bastante medo da forma com que as pessoas agem on-line. Muitas pensam que nunca serão descobertas, mas estão gravemente erradas.” 

Isabele destaca que episódios de ofensas já aconteceram e ela precisou contornar a situação. “Estar na internet é saber que está exposto a tudo, elogios e ofensas, a todo momento. Não digo que já fui cancelada, mas já tive que lidar com conta fake que criaram para me ofender em redes sociais, por exemplo. E por mais que coisas do tipo me deixem muito mal, não permito que isso me desestabilize e continuo dando o meu melhor.”

 

O episódio do “bombom queimado”

O trabalho das meninas influencers já ganhou destaque em Resende Costa. As lives do comércio (destaque em outra edição do JL) já contam com a presença delas. Entre tantos episódios que atingiram inúmeras visualizações na redes, um se destacou. Trata-se de um vídeo de algumas garotas comendo bombom queimado. Elas colocam bombom próximo à chama do fogão e afirmam que fica uma delícia. Inúmeras pessoas marcaram as influencers, dizendo ter experimentado a tal forma de saborear o chocolate e aprovando a ideia espalhada através das redes sociais.

Maiara comentou o episódio: “Foi um retorno muito positivo. Além de ser uma delícia, me mostrou justamente como as coisas podem tomar uma proporção inesperada. Muitas pessoas da região começaram a me acompanhar e a conhecer o meu trabalho depois do ocorrido. Eu adorei”, comemora.

Mônica comenta dizendo que a brincadeira teve saldo positivo na balança. “Ah, o tal do bombom queimado que me fez ganhar 1 quilo (risos). Foi um surto, né? Surreal! Uma ideia genial da Maiara, que rendeu bons compartilhamentos no Instagram e, acredito, que (rendeu) boas vendas aos comerciantes.”

Assim como ocorreu com esse episódio, os internautas também entram em algumas brincadeiras. Paula, que faz sempre vídeos de humor e conta com a ajuda de seguidores para marcar perfis famosos, já teve vídeo seu curtido pelo sertanejo Zezé di Camargo. “Eu sou super fã do Zezé di Camargo, mando mensagem no direct para ele há anos. Ano passado ele visualizou e me deu uns minutinhos de atenção. Eu fico sempre nas redes sociais dele comentando as postagens até ele cansar e resolver me dar uma chance de eu ir conhecer a fazenda dele. Não vou descansar até conseguir (risos). Os vídeos engraçados sempre serão minha marca registrada no Instagram. É um tipo de conteúdo em que consigo prender a atenção do meu público. Sempre gostei de ser a ‘palhaça’ do grupo, gosto de fazer as pessoas rirem e se sentirem bem. Então faço vídeos de situações que acontecem no meu dia a dia e de coisas que acontecem com todos. Inclusive, até criei a personagem Rogéria (que é uma personagem muito sincera) para poder fazer críticas em forma de humor, de um forma em que todos levam na esportiva.”

Isabele faz diariamente conteúdos com danças de bom dia aos seguidores e, por vezes, alguém a marca com danças, inclusive cantores das músicas as quais ela utiliza. “A influencer Virginia Fonseca foi minha inspiração para as dancinhas de bom dia. Sempre me identifiquei com o seu jeito e a música sempre me moveu. Juntando as duas coisas, comecei a dar bom dia aos seguidores de uma forma mais animada. Nos dias em que eu não fazia, as pessoas mandavam mensagem perguntando o porquê de eu não ter feito aquilo. Com isso, as danças pela manhã viraram uma referência e, hoje, tornaram-se uma de minhas marcas.”

Apesar de ter seu tempo escasso, a atividade de influenciadora digital proporciona prazer e alegria à Isabela. “É uma correria! Mas aparecer no Instagram, mostrar as parcerias e fazer minhas divulgações fazem parte do meu dia a dia. Isso me deixa muito feliz. Em todo tempo que sobra, nas pausas de um serviço para outro, eu tento aparecer nas redes, mesmo que seja para dar um “oi” e também para desejar um dia feliz. Isso pode mudar o dia de alguém.”

Para aqueles que estão começando, ou sonham em fazer parte do grupo, Maiara deixa um recadinho. “Meu conselho é para que vocês não desistam. No começo, sempre vai ser difícil, sempre haverá pessoas duvidando de vocês e diminuindo-os. Mas, como diz aquele famoso ditado, ‘Levanta a cabeça, princesa, senão a coroa cai’. Não desistam! Quando vocês conquistarem o que querem, irão perceber o quanto essas pessoas fortaleceram vocês e os fizeram chegar onde estarão.”

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