Jean William Cipriani: um novo resende-costense


Perfil

Emanuelle Ribeiro1

Jean William Cipriani, o locutor da voz de veludo (Foto Emanuelle Ribeiro JL)

“O nome é importado, mas o produto é nacional”. A frase é do comunicador e empresário Jean William Cipriani. Proprietário da empresa “Olé Sport”, Jean expandiu seus negócios para Resende Costa há pouco mais de um ano e aqui já fez muitos amigos e a cada dia conhece mais pessoas. Atualmente com o programa “Fala Resende” na Rádio Inconfidentes FM, Jean apresenta todos os dias aos ouvintes um membro da nossa comunidade. “O programa Fala Resende está me proporcionando o que sempre quis: conhecer as pessoas. Participei de diversas mídias e as pessoas sempre me conheciam e eu não tinha a oportunidade de conhecê-las também. A grande oportunidade de aprender é conhecendo as pessoas, não tendo vergonha das vergonhas delas e nem de nossas vergonhas”, afirma.

Jean é filho de uma resende-costense, Geni Soares, e de uma figura extremamente conhecida em nosso município, João Eurípedes Cipriani, o saudoso Dinho das rosas. “Considero-me uma pessoa privilegiada, porque fui criado por três mães: minha ‘mamadi’ Geni, minha avó Enoi e minha tia avó Ruth”, conta. Jean lembra da vida sofrida do pai, dos três trabalhos que mantinha para manter a esposa, os filhos e seus dez irmãos: “Como formação tinha apenas o terceiro ano de grupo, era praticamente analfabeto. Mas era uma pessoa muito sensitiva, de uma capacidade de visão de vida bem diferente. Parece que até hoje em Resende Costa há missas direcionadas a pessoa dele. Uma coisa que sinto muito é não ter tido a oportunidade de ser atendido por ele. Na minha época de infância, minha casa parecia uma fila de INPS. A gente não tinha liberdade de nada: as pessoas ficavam nas salas, corredores e até nos quartos da casa. Foi interessante para as pessoas, mas para mim como filho não foi legal, pois não tive a aproximação necessária com meu pai na infância. Ele trabalhava de manhã no campo, a tarde na fábrica, a noite atendia as pessoas e, às vezes, ainda saía para pescar à noite para complementar a renda”, acrescenta.

O locutor da “voz de veludo”

Na infância adorava jogar bola e futebol de botão: “Jogava sozinho para o meu time não perder”, brinca sorrindo. E o Jean de hoje é totalmente diferente do Jean criança, adolescente. Isso porque o Jean já foi tímido! É difícil de acreditar, mas ele tinha vergonha de cumprimentar as pessoas na rua e isso só mudou por volta dos 17 anos, quando iniciou sua carreira no rádio. “Meu sonho era ser motorista. Aconteceu que durante um bate-papo, alguém gravou a minha voz e mostrou ao gerente da Rádio Emboabas (Sérgio Ângelo Cavaliere), que me convidou para um teste. Minha timidez era tão absurda que no momento eu fiquei afônico, travei, não consegui fazer o teste. Mesmo assim, o Sérgio me chamou para ser operador, no início me assustei com a aparelhagem, dispensei a oportunidade, mas ele insistiu e se dispôs a me ensinar. Apostou em mim. Com muita vergonha fui me adaptando e levei seis meses para falar em um microfone”, afirma.

Ele acabou caindo de para-quedas na comunicação e usando isso como terapia para sua timidez, que logo passou. Seu primeiro programa foi o “Domingo Total”. E com a participação na emissora, em 1978 surgiu a ideia de promover o 1º Festival del-Rei da Canção, ao lado de Valdir Gomes e Edmundo Loures: “Lutamos contra tudo e contra todos. Acredito que em termos de festival, São João ainda não tinha visto algo daquele nível”.

Jean já fez de tudo um pouco, até candidato a vereador ele já foi: “Sem a mínima noção do que era política e de querer ganhar a eleição. Mas para mim foi o máximo. Foi a época em que eu mais ganhei namorada na minha vida. Eu só fazia campanha com as meninas. E consegui ganhar dinheiro também com a política, gravando propaganda para os outros candidatos”, comenta o dono da voz de veludo. Jean lembra que sua voz, além de ter “despertado emoções diversas como saudade e alegria, foi usada como terapia”.

De locutor, Jean passou a gerente de hotel. E com as portas abertas, arrendou seu próprio hotel no alto do Bela Vista, em São João: “Descia e ia para o antigo bar Chafariz e me apresentava como um guia turístico. As pessoas gostavam de mim e eu acabei levando muita gente para o hotel. Falo que sou acostumado a tirar leite de pedra. Aconteceu que o hotel bombou. Tive a oportunidade de cozinhar e servir o dono da Fiat. Ele comeu arroz, filé acebolado, batata frita e salada de tomate e alface. Ainda ganhei na época US$ 600,00 de gorjeta. Coisa absurda”, lembra com felicidade da época.

Em seguida, criou a “Olé Sport”, no início em um espaço de 2 por 3m². Com a dificuldade de comprar produtos para a empresa, foi para São Paulo em busca de contatos e sempre conversava primeiro com as meninas, usando a voz para conseguir chegar aos representantes principais. Quando conseguiu a chance de falar com um “chefão” da marca esportiva Umbro, mandou bem: “No fim da conversa, ele disse que naquele momento não poderia me fornecer e eu falei: se dentro da sua consciência o Sr. tiver a possibilidade de me ajudar, me ajuda que eu preciso, mas se não der, muito obrigado. Ele pegou na minha mão e eu já saí, a lágrima descendo pelo rosto. Quando eu estava na porta, ele me chamou: ‘Vem cá mineiro, você é foda’. Ali ele me deu a oportunidade. Após cinco anos, ele me ligou agradecendo por ser o maior vendedor de Atlético-MG e Cruzeiro da região de São João”.

Além de locutor, Jean também foi apresentador de televisão, fazendo o primeiro programa ao vivo da região: “Como repórter tive a oportunidade de entrevistar grandes nomes, como Dadá Maravilha, Zico, Zezé Perrella e Aécio Neves”, conta orgulhoso.

A paixão pelo futebol e pela família

Sobre sua paixão pelo futebol, ele disse que teve vários níveis, já que quando criança foi flamenguista e santista, por influência da mídia que destacava o eixo Rio - São Paulo: “Só fui descobrir minha verdadeira paixão quando saí de Minas para ir ao Rio de Janeiro trabalhar com meu pai. Pela discriminação que vi lá contra Minas, em diversos sentidos, me tornei cruzeirense. Precisei sair de Minas para ser mineiro. E costumo dizer que antes de ser brasileiro, sou mineiro e cruzeirense. E também são-joanense e agora resende-costense”. E a paixão pelo Cruzeiro o levou a fundar uma torcida organizada em São João e ser destaque na mídia nacional: “Sou um dos fundadores da Máfia Azul em São João del-Rei. Criada para divulgar o nome do Cruzeiro na cidade e o nome de São João por onde fôssemos acompanhar o Cruzeiro. Criei a faixa ‘Sou mineiro UAI, sou Cruzeiro!’, considerada por José Carlos Araújo, da Rádio Nacional, a faixa mais original que ele já tinha visto em um estádio de futebol”.

O Jean conquistador, que na adolescência tinha mais namoradas do que amigos, casou-se jovem, aos 23 anos, com Elenir: “Esse ano completamos 30 anos de casados. O segredo da relação? Ela nunca quis competir com o Cruzeiro” (mais risos). Jean se orgulha da família: “Desta relação nasceram dois frutos de beleza, energia, determinação e superação, Thiagão, 28 e Gabi, 22. Não tive muito tempo com eles na infância, pois tinha que trabalhar para sustentar a família, mas hoje tento recuperar isso. Agora eles que não têm mais tempo. Na medida do possível a gente tenta curtir”.

Quando tocamos no assunto Resende Costa, ele falou que desde que chegou sentiu uma energia diferente, uma sensação de que já esteve aqui antes. “A vida tem dessas coisas. Hoje, aos 52 anos, estou fazendo o caminho inverso de minha mãe, que aqui nasceu e viveu por 18 dias”. E com Resende Costa vieram outras surpresas, que foi o retorno à comunicação: “Eu que pensei que tinha me aposentado de tudo isso, estou tendo uma oportunidade totalmente diferente, de trabalhar com a alma, por prazer. Meu sonho hoje é ter uma casa em Resende Costa. Espero que Deus me dê essa oportunidade de ficar mais tempo aqui, aproveitar melhor o carinho e o respeito que tenho recebido”.

Este é Jean William Cipriani, um cara que viveu diversas religiões e hoje acredita que sua verdadeira religião é a consciência. Acredita que Deus não tem forma, cor e nem religião. O Jean, que hoje não tem distinção do gari, do pedreiro, do doutor, do prefeito, do governador, do presidente, que não se sente inferior nem superior a ninguém, como mesmo disse. O novo filho adotivo de Resende Costa. 

Comentários

  • Author

    Valeu Jean pelas suas conquistas. Parabéns pelo programa, faço todo o possível para ouvi-lo todos os dias. Sou paulistano, mas Resende Costense de coração, se não fosse a minha dona nós já estariamos morando aí desde 1982. Um abraço.


Deixe um comentário

Faça o login e deixe seu comentário