Livro comemora 210 anos de antiga rota de ligação entre Minas e Rio de Janeiro


Cultura

José Venâncio de Resende0

fotoLivro conta a história do novo Caminho do Comércio (Fotos: divulgação).

Os 210 anos da antiga rota de ligação entre Minas Gerais e Rio de Janeiro foram comemorados, no dia 14 de novembro, com o lançamento em Bom Jardim de Minas do livro “Estudos Históricos sobre o Caminho do Comércio – Edição Comemorativa da Rota”, de autoria dos historiadores  Marcos Paulo de Souza Miranda e Rodrigo Magalhães, que pesquisam o trajeto há mais de dez anos. O livro retrata uma importante rota oficial surgida no período colonial, onde existem grandes atrativos culturais e paisagísticos, além de vários locais para a prática do turismo ecológico e cultural, segundo os seus autores. 

“As ruínas centenárias de Iguaçu Velho, a natureza exuberante da Serra do Tinguá e as fazendas coloniais da região de Valença e Vassouras, no Estado do Rio de Janeiro; as  belas cachoeiras e paisagens serranas da região compreendida entre Rio Preto e Bom Jardim, incluindo a famosa gruta do Funil; a arquitetura colonial, os sítios arqueológicos, os doces, o queijo e a cachaça de qualidade produzidos na região de Andrelândia; as fazendas e igrejas centenárias, as serras e as tradições folclóricas da região de Madre de Deus de Minas; a bela capela de São Miguel do Cajuru, com pinturas artísticas do renomado pintor José Joaquim da Natividade; as ruínas da antiga Capela do Rio das Mortes, onde foi batizada a milagrosa Nhá Chica e a imponente arquitetura tricentenária de São João del-Rei, idealizada pelos inconfidentes mineiros como a capital da sonhada república da liberdade,  são pequenos exemplos do potencial turístico desse caminho, cujo itinerário precisa ser  melhor conhecido e divulgado.” 

O livro contém no final o “Passaporte do Caminho do Comércio”. Assim, os viajantes que percorrerem a rota poderão colecionar os carimbos dos municípios por onde passaram. Pontos específicos estão sendo criados ao longo da rota para chancelar a passagem dos turistas.

O Caminho do Comércio é uma importante variante da Estrada Real ainda pouco pesquisada e conhecida, também chamada de “Caminho do Rio Preto”, de acordo com os autores. A via foi aberta no início do século XIX para facilitar o trânsito de viajantes, comerciantes e tropeiros entre São João del-Rei (MG) e a Corte no Rio de Janeiro. 

História. A abertura de um novo “Caminho do Comércio” foi determinada, em 14 de novembro de 1811, pela “Real Junta do Commercio, Agricultura, Fabricas e Navegação do Estado do Brazil e seus Domínios Ultramarinos”, órgão integrante da administração joanina. O objetivo era o de facilitar a ligação de Minas Gerais à cidade do Rio de Janeiro e possibilitar, de forma mais rápida e econômica, o abastecimento da Corte, cuja população havia aumentado consideravelmente com a chegada da Família Real ao Brasil, em 1808. 

O “Caminho Novo”, aberto no início do século XVIII por Garcia Rodrigues Paes, era muito longo e não conectava o Rio de Janeiro diretamente com a principal área de produção de alimentos de Minas Gerais (Sul de Minas e Campo das Vertentes), tornando-se obsoleto e inadequado no início do século XIX. Isto motivou a criação do Caminho do Comércio, que era muito mais curto e econômico, pois os impostos cobrados na divisa entre as Capitanias eram  mais baratos. 

Faziam uso da rota, que foi concluída em 1816, as tropas que partiam da Comarca do Rio das Mortes, cuja sede era em São João del-Rei. Por uma vasta extensão de Minas  Gerais, conduziam bois, porcos, toucinho, galinhas e queijos, retornando do Rio de Janeiro com produtos como sal, azeite, vinho, vinagre, bacalhau, lampiões, ferramentas e vidros. Ainda segundo os registros históricos, grandes quantidades de escravos eram transportadas do litoral em direção às fazendas mineiras. 

A cada três léguas de distância, aproximadamente, ranchos rústicos rodeados de estruturas singelas permitiam o pernoite dos viajantes, que sempre contavam com uma bica de água limpa, estruturas de pedra para fogueiras e árvores como a araucária em suas proximidades, cujos galhos secos serviam de lenha, essencial para minorar o frio nas serras e nos grotões da região da Mantiqueira. 

Rota. A rota tinha início na localidade de Nossa Senhora da Piedade do Iguaçu (atual distrito de Nova Iguaçu-RJ), cortava a Reserva Biológica Federal do Tinguá, subia as serras, passava pelo porto de Ubá (atual Andrade Pinto, distrito de Vassouras), seguia  em direção a Valença e depois passava pelos antigos arraiais  mineiros de Rio Preto (região de Varejas e Funil), Bom Jardim (passando por Taboão), Turvo (atual Andrelândia), Madre de Deus, São Miguel do Cajuru e Rio das Mortes Pequeno, chegando finalmente à Vila de São João del-Rei depois de percorrer cerca de 280 km. 

Além de comerciantes, muitos cientistas estrangeiros percorreram o trajeto durante o século XIX. Nomes como o francês Auguste de Saint-Hilaire (1819), os ingleses Robert Walsh (1829) e Charles James Fox Bunbury (1835) e o alemão Enst Hasenclever (1839) deixaram registros importantes sobre o caminho. Muitos vestígios e alguns trechos originais do Caminho do Comércio ainda existem e estão sendo mapeados por um grupo de pesquisadores que atua na região do Alto Rio Grande, em Minas Gerais. 

Fonte: Secretaria Municipal de Educação e Cultura de Bom Jardim de Minas

 

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