Meio ambiente nos acordos comerciais e poluição por microplástico na Antártida

Atividades como estas da Universidade de Coimbra (UC) mostram que a preocupação com questões ambientais encurta distâncias.


Especiais

José Venâncio de Resende0

O papel dos acordos comerciais da União Europeia – entre eles o acordo firmado com o Mercosul - e a sua contribuição para a promoção dos direitos humanos e a proteção do meio ambiente foram debatidos, recentemente, no colóquio “Empreendedorismo sustentável: como os acordos comerciais podem promover os direitos humanos e o meio ambiente”, promovido pelo Instituto de Investigação Interdisciplinar da Universidade de Coimbra (III-UC).

O colóquio analisou a componente jurídica que regula os tratados existentes entre a União Europeia e outros Estados – como o CETA (com Canadá) e o com blocos de países (Mercosul). E procurou responder a questão: de que forma estes acordos podem contribuir para promover um empreendedorismo sustentável e focado nos Direitos Humanos, ao mesmo tempo em que desenvolvem o comércio global.

O evento enquadra-se no Ciclo de Conferências Start Europe, organizado pelo jornal Empreendedor Media, em parceria com as mais prestigiadas universidades e associações empresariais portuguesas, coordenadas por personalidades especializadas em cada uma das áreas temáticas, sempre com o foco no espaço europeu. Insere-se ainda num conjunto de atividades que tiveram origem no European Trade Policy Day 2018, promovido por Associações de Jovens entre julho e setembro deste ano.

Microplásticos na Antártida

Estudo recente da UC, publicado na revista Scientific Reports, do grupo Nature, revela que a poluição por microplásticos já chegou à Antártida. Uma equipe de pesquisadores (investigadores) do Centro de Ciências do Mar e do Ambiente (MARE) da Faculdade de Ciências e Tecnologia da UC encontrou, pela primeira vez, microplásticos em pinguins da Antártida, confirmando que este tipo de poluição já entrou na cadeia alimentar marinha.

Ao analisarem a dieta de pinguins gentoo Pygocelis papua em duas regiões da Antártida, os pesquisadores observaram que 20% das 80 amostras de fezes das aves continham microplásticos (partículas de plástico menores que 5mm de comprimento) de diversas tipologias, formas e cores, o que indica uma grande variedade de possíveis fontes destes microplásticos.

A poluição marinha por plásticos é reconhecidamente uma ameaça aos oceanos em todo o mundo, mas só recentemente tem havido um aumento do esforço científico sobre microplásticos. Em zonas mais remotas do planeta, como a Antártida, esperava-se que a presença de microplásticos fosse muito reduzida, embora estudos recentes já tenham encontrado microplásticos em sedimentos e nas águas do Oceano Antártico.

Para Filipa Bessa, autora principal do artigo, «é alarmante que microplásticos já tenham chegado à Antártida. O nosso estudo é o primeiro a registar microplásticos em pinguins e na cadeia alimentar marinha Antártica». A pesquisadora nota que «a variedade de microplásticos encontrados nos pinguins poderá indicar diferentes fontes de poluição, indiciando uma difícil solução para este problema».

Já José Xavier, autor sénior do artigo, afirma que «este estudo vem na altura certa, pois os microplásticos podem causar efeitos tóxicos nos animais marinhos e nada se sabe sobre o que eles poderão provocar nos animais da região Antártica». Por isso, salienta o docente do Departamento de Ciências da Vida UC, «esta descoberta é de muita importância para desenvolver novas medidas para reduzir a poluição na Antártida, particularmente relacionada com plásticos, podendo servir de exemplo para outras regiões do mundo».

Fontes: F. Fernandes e Milene Santos e Cristina Pinto - UC

 

Deixe um comentário

Faça o login e deixe seu comentário