Negócios que contam histórias: Jolu Armarinhos – a Loja do João Bosco

Na primeira reportagem da série, um dos comércios mais conhecidos da cidade abre as portas para o JL


Vanuza Resende


fotoJoão Bosco e sua esposa Lúcia Melo no balcão da loja (foto Ana Maria)

O Jornal das Lajes inicia, no mês de fevereiro, uma série de reportagens especiais sobre os tradicionais comércios de Resende Costa: “Negócios que contam histórias”. A cidade é uma das mais desenvolvidas da microrregião do Campo das Vertentes, e muito disso se dá pela força do comércio local. Entre lojas, bares, restaurantes, salões de beleza, a série vai fazer um giro pelos comércios locais e bater um papo com seus proprietários e representantes.

Abriremos a série contando a história de uma das lojas mais famosas de Resende Costa: Jolu Armarinhos, a Loja do João Bosco. A fama é tanta que outro dia um colega belo-horizontino que tem parentes em Resende Costa me disse: “você conhece fulana? Ela trabalha na loja do João. A loja que vende de tudo, que fica ali no morro da igreja”. É isso! E se eu dissesse que não conhecia a loja do João Bosco, tenho certeza de que ele duvidaria que eu sou uma resende-costense.

 

“Fui demitido e comprei a loja do meu sogro”

 

João Bosco Coelho chegou a Resende Costa no ano de 1970 como motorista de ônibus. “Eu trabalhei no ônibus, me parece que uns cinco anos, e depois fui dispensado. Mas eu fiquei bem calmo, sabe? Recebi a notícia e pensei: ‘acho que eu não vou dirigir mais não, eu vou ver se arrumo outra coisa pra eu fazer’. Aí aconteceu o seguinte: eu chamei a Lúcia – minha esposa – a fim de irmos para Belo Horizonte, tínhamos parentes lá. E quando eu não estava trabalhando, eu dava umas voltas por BH. Olhando isso, olhando aquilo, até que me surgiu a ideia. Na época, eu vi um bar, nem era uma loja não. Tive a ideia de montar um bar para mim. Era um bar com sorveteria, coisa que naquele tempo Resende Costa não tinha”, relembra João.

Depois de algum tempo com o bar, uma nova oportunidade. João vendeu o bar em um bom negócio que apareceu. Com o dinheiro da venda, ele comprou a loja do seu sogro José Augusto de Melo. “Comprei a loja do meu sogro, que estava aposentando. Logo depois, eu resolvi passar a loja para onde ela é hoje. Eu morava ali e queria colocá-la ali também. E assim nós fomos... devagarzinho”.

 

“Ensinei os meus filhos a trabalhar”

 

Para abastecer a loja, João Bosco comprava algumas coisas na capital mineira e outras pelos vendedores. “As coisas mais difíceis eu conseguia encontrar em BH e trazia para cá. Saíamos, eu e a Lúcia, para fazermos compras, e colocávamos os três filhos para trabalhar. Eles eram novos, mas nós lhes ensinávamos o ofício. Eles gastavam o dinheiro sabendo de onde vinha. Isso foi muito importante para eles, os quais, graças a Deus, são três filhos excepcionais. Por outro lado, nunca exagerei na carga de trabalho. Estávamos sempre prontos para ajudá-los naquilo de que eles precisavam, mas eles, como já disse, trabalhavam também. E com isso, eles aprenderam a trabalhar cedo. Graças a Deus, estudaram, têm os seus diplomas. Cada um seguiu seu rumo, sendo que fomos conseguindo pessoas boas para trabalhar em nosso comércio. São várias funcionárias, graças a Deus. A gente tem que levantar as mãos para o céu, porque tem gente muito boa nesse mundo ainda”, diz João Bosco.

 

“Se não tem no João Bosco, não acha em Resende Costa”

 

Com os mais de 40 anos de loja, a fama do achar de tudo na Loja do João Bosco permanece na cidade. Material escolar? Lá tem. Utensílios para casa? Tem também. Ferramenta de trabalho? Você acha. Por infinitas vezes, ao esperar o atendimento no balcão da loja, chega algum cliente perguntando: “Ô João, tem uma correia pro meu chinelo?” “Preciso de uma bolsa pequena para colocar moedas”. “Tô precisando de uma linha nessa cor aqui, você tem? “Me vê três botões de calça e dois envelopes pardos também”. Claro que a loja também oferece mercadorias maiores. Mas o diferencial é encontrar justamente essas coisas “miúdas”, e que fazem uma falta danada no dia a dia. E, para isso, é só ir ao endereço: Rua Assis Resende, número 46.

João Bosco conta a tradição de vender de tudo. “Vamos supor, você ia lá procurava alguma coisa, não tinha, aí eu anotava no papel. Quando o próximo vendedor passava, eu comprava. Quer dizer, por causa disso que é uma loja que tem quase tudo, porque aquelas coisas difíceis eu comprava. O vendedor passava, eu comprava. Foi daí que veio a fama de que tudo você acha na loja do João Bosco”.

Questionado se a loja tem algum carro-chefe, João Bosco disse que são épocas e itens vendidos em cada momento. “Existe, assim, o momento. Se o momento é de Carnaval, colocamos material de Carnaval também. Vamos supor: se é Semana Santa, colocamos material para Semana Santa. E por aí vai. É época. A cada época que se aproxima, vamos colocando mais desse material que vai ser vendido. Assim a gente vai devagarzinho, devagarzinho, devagarzinho e, graças a Deus, é só levantar as mãos para o céu e rezar para agradecer por tudo que construímos”, finaliza com gratidão João Bosco Coelho, um dos comerciantes mais tradicionais de Resende Costa.

Deixe um comentário

Faça o login e deixe seu comentário