O avanço tecnológico trouxe consigo uma nova forma de interação social, mediada por plataformas digitais que começam a existir em nosso mundo contemporâneo: primeiro, com fins militares, na década de 1960, e, segundo, a partir de 1990, como uma rede social de entretenimento e comunicação. As redes sociais, inicialmente vistas como ferramentas inovadoras para conectar pessoas e facilitar a comunicação, tornaram-se parte integrante do cotidiano de bilhões de indivíduos em todo o mundo, de acordo com as estimativas apresentadas no relatório Melwater 2024: cinco bilhões de pessoas ativas estão nas redes neste momento. No entanto, o uso desmedido dessas plataformas pode gerar uma série de consequências preocupantes, afetando tanto a saúde mental quanto a qualidade das relações interpessoais porque tudo acontece, na maioria das vezes, em silêncio.
O acesso contínuo a informações e o desejo constante de estar conectado têm contribuído para o aumento da ansiedade e do estresse, especialmente entre as crianças e os jovens, pressionando-os a manter uma idealização de imagem egoica. Por exemplo, em nosso país, de acordo com os dados da pesquisa Tic Kids on-line Brasil, cerca de 90% dos usuários de internet de 9 a 17 anos possuem perfil em rede social e os aplicativos mais usados por eles são: Instagram e TikTok. Essa pressão para manter uma imagem idealizada e atender às expectativas sociais pode resultar em sentimentos de inadequação, baixa autoestima e até mesmo depressão.
A dependência dessas plataformas pode afetar a capacidade de concentração e produtividade. Estudos indicam que a exposição prolongada a estímulos digitais reduz a atenção sustentada, prejudicando o desempenho em tarefas que exigem foco e reflexão. Esse hábito de alternância rápida entre várias fontes de informação pode comprometer a capacidade de pensar de forma profunda e de tomar decisões fundamentadas. Um exemplo disso pode ser observado no estudo do professor-pesquisador Hugo Monteiro, apresentado em seu livro A geração do quarto. A obra apresenta os resultados de uma pesquisa realizada em cinco capitais brasileiras, incluindo Belo Horizonte, envolvendo 3.115 jovens entre 11 e 18 anos. Após ouvir, em entrevistas detalhadas, 285 desses jovens, Monteiro descobriu que muitos deles enfrentaram bullying ou cyberbullying e, em alguns casos, chegaram a considerar até a vontade de morrer. A pesquisa destaca que nós, adultos responsáveis por essas crianças e adolescentes, devemos ficar atentos a essa “geração do quarto”, que frequentemente pede ajuda de forma silenciosa, enquanto os pais, equivocadamente, acreditam que está tudo bem porque seus filhos permanecem em casa, concentrados em seus smartphones.
Embora as redes sociais tenham o potencial de aproximar pessoas geograficamente distantes, elas também podem enfraquecer as interações presenciais. A superficialidade das conexões virtuais pode levar ao isolamento social, uma vez que as relações online muitas vezes carecem de profundidade emocional e de um senso genuíno de pertencimento. Esse fenômeno é particularmente preocupante entre os jovens que, em muitos casos, substituem o convívio presencial pelo contato digital, perdendo oportunidades valiosas de desenvolvimento socioemocional, pois isso pode diminuir o potencial das trocas dialógicas que, nós, seres humanos, podemos e devemos fazer para sermos felizes.
É indispensável que os usuários desenvolvam uma relação saudável com essas plataformas, estabelecendo limites para o tempo de uso e priorizando o bem-estar mental e físico. A promoção de uma cultura digital mais consciente e responsável é essencial para minimizar os impactos negativos e garantir que as redes sociais continuem sendo uma ferramenta positiva na sociedade contemporânea.
*Psicólogo, professor da PUC Minas.