Os campeonatos profissionais disputados pelos times do interior

Athletic Club de São João del-Rei ilustra a realidade dos clubes que estão distantes da capital


Esporte

Vanuza Resende0

Entre fevereiro e abril, centenas de pessoas da região foram até o Estádio Joaquim Portugal, em São João del-Rei, para acompanhar o Athletic Club na disputa do Módulo II do Campeonato Mineiro. O clube são-joanense terminou em sétimo lugar na competição, com 14 pontos, o que garantiu a permanência do Esquadrão de Aço no campeonato do ano que vem.

O técnico Cícero Júnior falou sobre a campanha do Athletic, que teve quatro vitórias, dois empates e cinco derrotas ao longo da competição. “A gente já sabia que o campeonato seria muito difícil e equilibrado. Nós ficamos bem no meio da tabela, com três pontos para nos classificarmos para as semifinais e dois pontos para o rebaixamento. Não estamos querendo enganar ninguém falando disso, mas, se a gente tivesse tido um pouco mais de sorte em algum dos jogos, estaríamos classificados.” O feito foi bom para o clube, que ficou sem participar de campeonatos profissionais por 49 anos. Ainda assim, esperar a próxima edição do campeonato para dar sequência é uma tarefa complicada.

 

Estrutura e planejamentos 

O Athletic manteve somente cinco atletas do elenco que disputou o campeonato; os demais jogadores estão emprestados a outras equipes. De acordo com a diretoria, os atletas que possuíam o maior salário recebiam por volta de R$5.000; já o profissional com menor salário recebia em torno de R$1.000,00. A média salarial da equipe era de R$3.000,00.

Além dos salários, o clube possui ainda outros gastos com atletas. “É inviável ficar mantendo, por oito meses, os salários e a moradia dos jogadores sem o clube disputar competição. Isso é uma falha do futebol profissional, os times pequenos disputam apenas durante quatro meses os campeonatos. O time do ano que vem deve se apresentar no final de dezembro ou no início de janeiro, não tem outra solução, explica o técnico Cícero Júnior. 

Essa é a realidade não só do Athletic mas de vários outros clubes que estão distantes da capital. Entre as equipes que disputaram o módulo II do Mineiro em 2019, estava o Ipatinga, um dos poucos clubes que não pertencem à capital, sendo que já conseguiu erguer a taça do estadual. Além dele, o Villa Nova (cinco vezes), o Siderúrgica (duas) e a Caldense (uma). Os demais títulos pertencem aos times de Belo Horizonte: Atlético (44), Cruzeiro (40) e América (16). Vale lembrar que o Ipatinga conseguiu o feito quando ainda mantinha parceria com o Cruzeiro. Depois disso, o clube não conseguiu maiores conquistas. Neste ano, o Ipatinga figurou entre as equipes que estavam brigando contra o rebaixamento na última rodada.

Outro caso do Módulo II do CampeonatoMineiro que chamou a atenção foi a desistência da equipe do Tricordiano, que saiu um dia antes da competição começar, alegando falta de estrutura e de patrocínios. Uma situação compreendida, visto que as exigências da Federação Mineira de Futebol (FMF) para os clubes pequenos são semelhantes ao que é exigido às grandes equipes que disputam a elite do Campeonato Mineiro. As condições do gramado, a iluminação do estádio, a profissionalização dos atletas, tudo é fiscalizado e exigido pela FMF. De certa forma, trata-se de um ganho para o esporte. Mas ao mesmo tempo se torna um empecilho para os times que almejam a profissionalização.

Conseguir manter o elenco seria o ideal. Assim como fez o Coimbra, time de empresários treinado por Diego Giacomini – ex-técnico do Atlético Mineiro: o clube subiu para o Módulo II no ano passado junto com o Athletic. Com praticamente os mesmos jogadores de 2018, o Coimbra se classificou em primeiro lugar, chegou à final do Módulo II e conseguiu acesso para a primeira divisão do Campeonato Mineiro 2020. O Coimbra não possui uma torcida consolidada, não conta com apoio de uma cidade, mas tem o patrocínio do Banco BMG. Isso é determinante para que o clube consiga arcar com os gastos. Gastos que são altos, diga-se.

Os valores para disputar o Mineiro Módulo II podem ultrapassar a casa de um milhão de reais. O gestor executivo do Athletic Club, Fábio Mineiro, falou sobre as despesas que o clube teve ao longo do campeonato: “Uma faixa média de 750 mil reais. Esse custo foi coberto pelos investidores, empresários, renda de jogos e venda de torcida. Esperamos que no próximo ano a gente consiga aumentar essa renda e fazer, inclusive, melhores contratações.”

 

A solução vem da base

Grandes clubes nacionais investem na base e obtêm um retorno positivo. Apesar de vários garotos saírem muito jovens do país, sem terem tido oportunidades de ser conhecidos pela grande mídia, é notória a “fábrica” de bons jogadores que o Brasil possui.

O Athletic, visando à construção de times de base, está disputando pela primeira vez o Campeonato Mineiro Sub-15 e Sub-17. Segundo Fábio Mineiro, a preparação dos garotos é um projeto antigo do clube. “Antes de começar com o time do profissional, a gente já vinha com essa preparação da base. É a nossa prioridade hoje. A gente espera que a nossa base nos dê, em breve, retorno financeiro que possa agregar benefícios maiores para o clube.”

 

Para 2020

A região do Campo das Vertentes, promotora de vários eventos esportivos, precisava de um clube que a representasse. E foi notório o apoio dos torcedores da região que aos sábados compareceram ao estádio Joaquim Portugal para ver o Athletic jogar. O clube, que não tem o apoio de uma grande equipe (conforme se deu há alguns anos com o Ipatinga, que contou com uma parceria com o Cruzeiro), ou de uma grande empresa que o ajude financeiramente, ainda assim precisa se adequar às regras exigidas pela FMF. Nesses casos, o que faz a diferença é o décimo segundo jogador. Para 2020, além de novos reforços para o Athletic Club, será essencial a presença do torcedor e o apoio dos empresários e das mídias. Assim, com passos curtos, seguem os times do interior no Campeonato Mineiro.

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