A pandemia mudou os rumos do negócio de estanho de Mahatma Ghandy Câmara, nome colocado pelo pai em homenagem ao famoso líder indiano. Ele aderiu ao segmento das peças sacras que passou a dar prioridade às peças para residência. Artesão em estanho na cidade de São João del-Rei, Mahatma começou a profissão em 1972 como empregado do pioneiro do setor John Somers, cuja fábrica de objetos de estanho fora fundada dois anos antes (em 1970). “Trabalhei com ele até 1978, quando montei minha própria firma”, diz.
A Estanhos Marguel Ltda começou com peças para residência, como licoreiras, canecas de chopp, cálices para vinho e licor. “Depois da pandemia de Covid-19, a procura pelo artesanato para casa caiu”, justifica Mahatma. Um exemplo dessa mudança foi o brutal aumento no preço da matéria-prima. “Antes da pandemia, eu pagava a média R$ 1.800,00 a R$ 1.900,00 pelo lingote de cerca de 25 kg. Recentemente, paguei pela mesma barra R$ 6.800,00 à vista.”
De um lado, o preço do estanho aumentou muito; de outro, as vendas caíram; e ainda há o problema da escassez de mão de obra. “Já formei muita gente há tempos idos, mas hoje ninguém mais se interessa.”
Mão de obra
Antes da pandemia, Mahatma chegou a ter 16 funcionários e até fretava caminhão para entregar suas peças. Atualmente, somente sobrevive na atividade porque basicamente utiliza a própria mão de obra. “Hoje, pego desde a fundição até o acabamento. Então, posso negociar valores.” É verdade que ainda mantém um funcionário há 40 anos (já aposentado) e conta com a ajuda nas horas vagas do filho, que é policial, principalmente no serviço de restauro.
Foi nessa nova conjuntura que Mahatma percebeu a oportunidade de entrar no mercado da arte sacra, até porque “os padres do Brasil inteiro começaram a me cobrar”. Assim, começou gradativamente “com algumas coisinhas e hoje faço quase todas as peças de arte sacra”.
A lista é diversificada: âmbulas, cálices para missa, castiçais, cibórios, crucifixos, caldeirinha com asperge e asperge de bolso (água benta), galhetas (água e vinho), jarros e bacias, lavabo para batismo, naveta para incenso, patenas, ostensório (uma peça cara e de difícil execução) e recepatáculos para os santos óleos.
A maior parte das peças é feita sob encomenda, através da internet (site e Instagram) ou de um representante comercial no Rio Grande do Sul, conta Mahatma. “Recentemente, um padre de Osasco (SP) queria um castiçal de mesa, com o Cristo no meio, para a Semana Santa.” Mas também há muita compra avulsa por parte de padres de diversas regiões que visitam São João del-Rei.
Matéria-prima
A cassiterita, matéria-prima do estanho, tem origem no estado de Rondônia, segundo Mahatma. É industrializada nos altos-fornos da Bozel Brasil, Indústria Fluminense e outras empresas de São João del-Rei.
Ele adquire das empresas locais o estanho, que transforma em liga e faz uma espécie de “mingau” (95% de estanho, 3,5% de antimônio e 1,5% de cobre) que é colocado em moldes ou formas (de ferro fundido ou silicone) para fundir as peças.
Cada peça utiliza uma ou mais fôrmas, conforme a sua simplicidade ou complexidade. Para fazer um castiçal, por exemplo, são necessários 10 a 12 moldes. “A fôrma é a parte mais importante no artesanato de estanho”, explica Mahatma. Trata-se de um processo longo que começa no desenho, passa pela fabricação em madeira e fundição em ferro, terminando no torneiro mecânico.
No caso da fôrma em silicone, precisa-se de um modelo ou amostra (material mais resistente). A fôrma de silicone é mais usada para fazer imagens e crucifixos, que são peças mais detalhadas.
Restauro de peças
O segmento de restauro de peças sacras está em expansão e vale a pena, segundo Mahatma, “porque são peças danificadas, bonitas e antigas, que ficam encostadas”. Em geral, o padre que tem uma peça encostada envia a foto por uma transportadora ou pelos Correios ou leva pessoalmente. “Muitas vezes, um padre traz peças de várias igrejas da sua diocese.”
Segundo Mahatma, costuma ser mais trabalhoso restaurar peça danificada do que fazer uma peça nova. “É mais vantagem para o padre, mas ao mesmo tempo eu tenho mais trabalho.”
Contatos
Site: https://marguelestanhos.com.br/
Instagram: https://www.instagram.com/marguelestanhos/