Pároco de Ritápolis tenta recuperar imagens sacras furtadas há 22 anos


Religião

José Venâncio de Resende0

fotoImagem de S. Sebastião terá pertencido a capela onde o Tiradentes foi batizado.

“Era véspera da Semana Santa, o altar-mor estava coberto com cortina roxa. Numa sexta-feira, dia 27 de março de mil novecentos e noventa e oito, a imagem de nossa padroeira, Santa Rita de Cássia, foi furtada por ladrões inescrupulosos, deixando um vazio, não só no trono da mesma, mas um vazio muito maior no coração dos devotos dessa venerada imagem. Junto com esta imagem levaram também as imagens de São José, São Sebastião e São Manoel, todas, imagens de madeira de mais de dois séculos”. Assim escreveu a auxiliar voluntária Marília de Sousa Santos, no Livro de Tombo da Paróquia de Ritápolis.

Por volta das 11h30, a igreja foi aberta para os funerais do sr. Amilton da Cruz Assis. Ao dirigir-se à sacristia, Marília percebeu que o trono de São José estava vazio e com a cortina aberta. Então, todos os altares foram verificados e as outras três imagens não estavam em seus lugares. Os ladrões também levaram uma “capa de Asperge amarela, usada pelo padre nas procissões do Santíssimo Sacramento” e a “cobertura do andor de N. Senhora das Dores usada na Procissão do Depósito”.

Às 12h, chegou padre Fábio Rômulo Reis, então pároco, que celebrou a missa antes que a Polícia Civil e Técnica de São João del-Rei, já comunicada, iniciasse as investigações. “À tarde, toda a igreja permaneceu cheia de fiéis que choravam, rezavam e lamentavam o acontecido”, relatou Marília.

No domingo da Ressurreição, 12 de abril, o Fantástico da TV Globo noticiou a prisão de dois ladrões de imagens em Ouro Branco, depois de roubarem uma igreja de Mariana. Em depoimento à Polícia de Conselheiro Lafaiete, um deles de nome “Marcos” confessou a autoria do furto em Ritápolis e informou que as imagens haviam sido vendidas em Campinas (SP).

Depois de uma “busca incansável de cinco dias”, as polícias mineira e paulista conseguiram recuperar as imagens furtadas. Duas das peças (Santa Rita de Cássia e São José) foram levadas para São João del-Rei, relatou Marília. “As imagens de São Sebastião e São Manoel ficaram em Campinas porque a compradora das mesmas encontrava-se viajando.”

Operação resgate

Vinte anos depois, em 2018, quando chegou a Ritápolis, padre Adriano Tércio Melo de Oliveira, o novo pároco, resolveu vasculhar os arquivos da Paróquia, quando descobriu o relato de Marília no Livro de Tombo. “Então, a partir disso, reacendeu em nós aqui o desejo de tentar recuperar essas peças.”

Padre Adriano ressalta a importância do São Sebastião, que “provavelmente é a imagem que ficava na capela de São Sebastião onde o Tiradentes foi batizado aqui em Ritápolis. Então é uma imagem que tem um valor histórico, cultural e religioso de muita relevância e, claro, um patrimônio da cidade, um patrimônio da paróquia que foi roubado”.

Em inventário de 1860, padre Chrispiniano Antônio dos Santos menciona a existência dessas imagens do século XVIII. São imagens de madeira que pertencem à Paróquia e ao Santuário de Santa Rita de Cássia. Atendendo ao “clamor popular”, padre Adriano entrou com uma representação no Ministério Público para tentar reaver as duas imagens. “Minha empreitada é reaver essas imagens e recuperar a memória cultural, religiosa e afetiva do povo de Ritápolis.”

“Cruzada”

Em reportagem no Estado de Minas (21/10/2020), o jornalista Gustavo Werneck fala de uma “cruzada movida pela devoção popular, em defesa do patrimônio cultural e com pedido de justiça”. “À frente, está o pároco, reitor Adriano Tércio Melo de Oliveira, que entrou com uma representação no Ministério Público de Minas Gerais (MPMG) na esperança de trazer de volta as imagens de São Sebastião e São Manuel.”

A iniciativa do pároco reitor de Ritápolis já teve resposta no MPMG, de acordo com o jornal. “O promotor de Justiça da comarca de São João del-Rei, Antônio Pedro da Silva Melo, informou que ajuizou ação para investigação do caso, requisitando às delegacias de Ritápolis e de Campinas os inquéritos da época sobre o furto do acervo e a operação de apreensão na cidade paulista. Ele citou exemplos positivos de retorno de imagens desaparecidas de templos centenários, como a de Nossa Senhora do Rosário, de Prados, também no Campo das Vertentes, do portal da igreja do Matozinhos, em São João del-Rei, e dos chamados anjos de Santa Luzia, do Santuário Arquidiocesano de Santa Luzia, na Região Metropolitana de Belo Horizonte, que, há 17 anos, foram retirados de um leilão no Rio de Janeiro (RJ) e ficaram como símbolo da história do resgate de peças sacras no país.”

Veja a íntegra da reportagem:  https://www.em.com.br/app/noticia/gerais/2020/10/21/interna_gerais,1196492/padre-tenta-recuperar-imagens-sacras-furtadas-em-ritapolis-no-campo-d.shtml

 

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