Primeira obra de arte de Mauro Kersul surgiu aos 11 anos de idade

Hoje, Mauro é um artista plástico internacional, que participa de exposições tanto nos Estados Unidos e na Europa quanto em cidades como São Paulo, Rio de Janeiro, São João del-Rei e Tiradentes.


Perfil

José Venâncio de Resende0

A arte de Mauro resgata o traço do desenho rabiscado aos 11 anos de idade...

Mauro Marques Kersul tinha 11 anos quando rabiscou seu primeiro desenho, na verdade sua primeira obra de arte. A professora de arte da escola onde ele estudava, pegou o desenho, olhou com desdém e disse: “Se você gosta de desenhar, vai aprender”. Quando voltou pra casa e contou ao pai o ocorrido, seu Sérgio falou: “Põe uma coisa na sua cabeça: você é um artista!”

Instigado por este repórter, Mauro deu um nome a este quadro: “Eu chamaria este quadro de ´Lembranças de infância´. Representa minha mãe carregando uma trouxa de roupa e me puxando pelo braço porque eu estava olhando alguém carregando uma trouxa na cabeça”.

Aliás, os quadros de Mauro tem sempre uma história. “Uma das coisas que chamam atenção na minha obra é a história que eu conto sobre o quadro. Meus quadros têm uma história que é sempre uma emblemática do ser humano e o meio em que ele vive.”

Mauro revela que sua arte é, na verdade, um resgate do traço do desenho que rabiscou na idade de 11 anos. “Minha arte é moderna e contemporânea. Algumas pessoas vêem cubismo, outras identificam nela expressionismo…” Mas a aproximação de Mauro, por exemplo, com Picasso é bem recente, coisa de uns três anos para cá.

Hoje, Mauro é um artista plástico conceituado, que tanto participa de exposições nos Estados Unidos e na Europa quanto em São Paulo, no Rio de Janeiro e mesmo em São João del-Rei ou Tiradentes. Seu acervo reúne cerca de 600 obras, entre quadros, desenhos e esculturas, sem considerar as obras vendidas ou em exposição.

Um dos quadros mais famosos de Mauro é “Ganância – a cidade que virou barro”, que retrata o desastre ambiental provocado pelo rompimento da barragem de Mariana e foi exposto na ONU (Organização das Nações Unidas). Outro é “Mona ganhou flores”, sobre Monalisa, que participou de exposição no Carrossel do Museu do Louvre (Paris) e foi incluída no catálogo editado pela instituição. Outros destaques da obra de Mauro são: “Samarco - Vesúvio artificial”, “Mundo SA – já pisaste em alguém hoje?” e “Yes! Nós somos banana!”, que tem como característica a temática atual.

Primeiros anos

O artista plástico Mauro Kersul é são-joanense, filho de Sérgio João do Sacramento e Lucy Kersul. Uma passagem marcou a sua infância: seu irmão mais velho, Célio, que costumava desenhar em casa, um dia decidiu que não iria desenhar pra mais ninguém. “Então, eu fui reclamar com o meu pai, que colocou o dedo na minha cabeça e falou: ´Você tem capacidade pra fazer tudo o que você quiser, nunca desista antes de tentar´. E realmente eu acreditei e comecei a desenhar.”

Mauro estudou dois anos do antigo primário no então Grupo Escolar Aureliano Pimentel. O terceiro e quarto anos, foram no Grupo Escolar Ministro Gabriel Passos. Até a terceira série do antigo ginásio ele cursou na Escola de Comércio Tiradentes, quando então se mudou pra São Paulo onde concluiu esta fase da sua formação.

Ele chegou à capital paulista em 1971 e desde o início trabalhou em agência de publicidade. “Comecei aos 13 anos como boy na agência Prakolar, que era dona de uma gráfica muito grande. Desde o início trabalhei no departamento de arte.”

Aos 15 anos surgiu a primeira oportunidade e Mauro foi substituir o diretor de criação, que deixara a agência, até que contratassem outro para o seu lugar. “Aí eu fui ficando, ficando… fiquei até 1980.” Neste mesmo ano, Mauro foi convidado a trabalhar como diretor de criação na agência Aquarius, que também atuava no ramo gráfico.

Guinada

Em 1982, Mauro resolveu dar uma guinada em sua vida. “Não imaginava casar e continuar morando com minha família em São Paulo. Aí pensei: ´vou embora daqui´.”

Mauro mudou de cidade mas continuou trabalhando com propaganda. Em 1984, abriu sua própria agência de publicidade, e logo agregou o ramo gráfico ao adquirir maquinário. Entre os seus clientes, estava a Fundação Municipal de São João del-Rei, então mantenedora da Faculdade de Ciências Econômicas, Administrativas e Contábeis (FACEAC) e da Faculdade de Engenharia Industrial (FAEIN).

Com a transformação da Fundação Municipal na Fundação de Ensino Superior de São João del-Rei (FUNREI), precursora da Universidade Federal de São João del-Rei (UFSJ), surgiu um vaga de publicidade na Assessoria de Comunicação da nova instituição. Mauro prestou o concurso e foi aprovado, ingressando na FUNREI em 1990.

Mauro tocava o emprego em paralelo com a sua agência, até que dois anos e meio depois decidiu pedir demissão da FUNREI. “Foi um grande aprendizado mas em uma instituição federal você tem que seguir um processo burocrático estabelecidos por normas, isto me dava uma certa agonia. Assim, fui tocar a vida na minha agência.”

Clientela

Pioneiro em São João del-Rei na área de publicidade, desde o início Mauro teve bastante clientes. “A cidade inteira era minha cliente. Trabalhava com supermercados, indústria, comércio, escolas, profissionais liberais, rádios e até carnaval.”

A agência de Mauro cresceu, cresceu… “e a clientela foi aumentando. Aí eu montei uma gráfica para atender meus clientes…” Ele trabalhou para a Zanfas – empresa que tem divisões de alimentos e produtos de higiene -, criando embalagens e fazendo as campanhas. Prestou serviços na área de embalagens para a Mineração Ômega. Trabalhou ainda para a Companhia Industrial Fluminense – atual AMG Brasil, o Laboratório Carlos Chagas, Cultura Inglesa, Psicomotora, A Colegial, Fazenda do Rochedo, Laticínios Trem Minas, Supermercados Meneghini, Bergão, Prefeituras de São João del Rei e de Barroso e a então Fábrica de Cimento Barroso, entre outras empresas.

Na época, a tipografia era em preto e branco. Então, Mauro montou um silk screen para fazer serviços coloridos, como adesivos, camisetas e cartazes. O seu empreendimento era também uma espécie de escola, que ensinava não apenas seus familiares como também os terceirizados a trabalhar no ramo. “No início, tinha de fazer tudo: desenvolvia campanhas, fazia impressão, criava logomarcas, produzia jingles etc..”

Entre os seus clientes de jingles, Mauro recorda do Café Soberano, da Pizzaria Rob´s, Vitorelli, Carlos Chagas e ainda da Casa da Terra, em Resende Costa. “Uma ocasião, fiz um jingle para a Casa da Terra, que comecializa produtos agrícolas e veterinários. Era mais ou menos assim: ´Uma grande parceria/ é feita no dia a dia/ traçada no coração, não importa a distância/ seja no campo ou cidade/ aqui você tem respeito/ aqui você tem qualidade/ Casa Terra sua grande companheira´.”

Exposição

Fotos do celular da sobrinha Debora Kersul foram decisivas para outra virada na vida de Mauro. “Eu continuava pintando e, de vez em quando, vendia alguns quadros. Mas não era uma coisa a que eu pudesse me dedicar.” Foi a foto de uma dessas pinturas que Debora mostrou para um dos sócios da “Urban Arts”, Geórgia Lavorato, durante uma visita à galeria em Belo Horizonte.

Foi amor a primeira vista. Imediatamente, Geórgia telefonou para Mauro solicitando o seu comparecimento à galeria com algumas de suas pinturas. “Aí, eu juntei tudo, cerca de 30 trabalhos, entre eles a escultura do cachorro feita de sucata. Cheguei lá meio apreensivo, afinal era a primeira vez que eu iria enfrentar uma grande galeria.”

Ao ver os trabalhos de Mauro, porém, a dona da galeria reagiu positivamente, chamando o gerente: “Vem ver isso aqui.” “Logo percebi que eles gostaram”, conta Mauro. Tanto assim que escolheram 20 trabalhos para montar uma exposição na galeria, “que é pequena mas objeto de desejo de muitos artistas em Belo Horizonte”. Trata-se de uma rede de galerias em 12 capitais que trabalha com obras originais e prints de artistas.

E Mauro teve outra surpresa. “Geórgia me disse: ´Nós nunca colocamos escultura, mas as suas esculturas vão fazer parte dessa exposição´. E colocou sete esculturas minhas, inclusive o cachorro de sucata.” A vernissage aconteceu em 12 de agosto de 2015, com a presença de um grupo de músicos de MPB, entre eles o violonista Fred Salvo. A exposição ELAS, na Urban Arts, Savassi, durou até 5 de setembro.

Internacional

No dia seguinte à vernissage, Mauro recebeu um convite de Marilia Piezaroli para participar de um circuito internacional na Europa (Portugal e Romênia), que aconteceu em setembro e outubro de 2015, com encerramento em Brasília (Museu Nacional da República). Logo em seguida, Alcinda Ventura, curadora e dona da Saphira &Ventura Gallery, em Nova York, o convidou para participar da exposição Edition Special Earth, na Organização das Nações Unidas (ONU). “Ela escolheu 40 artistas de vários países para esta exposição sobre o meio ambiente, na sede da ONU em Nova York. Eu participei com as obras ´Ganância´ (sobre o desastre de Mariana), ´SOS Qual a parte que te cabe´ e ´Samarco Vesúvio Artificial´.”

Nesse meio tempo, Mauro recebeu um convite da curadora e marchand Ângela Oliveira para participar de um circuito internacional na Europa “A Ângela havia visto minhas obras, então ela entrou em contato comigo. Disse que representava vários artistas, que gostou muito do meu trabalho e perguntou se eu queria fazer parte do staff de artistas dela.”

A primeira presença de Mauro em exposição, com a curadoria de Ângela Oliveira, foi em fevereiro de 2016 na cidade de Viena (Áustria). Da Europa, a obra de Mauro voou para Nova York onde foi destaque no maior jornal de língua portuguesa nos EUA e tambén em nova exposição na Saphira & Ventura Gallery.

A partir daí, as exposições foram se sucedendo e a “marca” Mauro Kersul foi se firmando no Brasil, Europa e Estados Unidos. O reconhecimento foi só uma questão de tempo. Em 2016, o artista são-joanense recebeu o prêmio coletivo pela Exposição Brazilian Art in Miami, considerada uma das cinco melhores dos Estados Unidos.

Em 2017, veio o prêmio individual. Mauro foi considerado “Artista de Destaque Mundial em Artes Plásticas 2017”, prêmio concedido pelo circuito “Artes Cores e Estrelas Guias”, criado na Sérvia para premiar artistas que se destacam no cenário europeu e, atualmente, mundial.

Curadores

Atualmente Mauro é representado por uma rede de curadores que atuam nos dois continentes. A curadora Ângela Oliveira cuida das exposições, que são montadas em parceria com galerias e outros curadores de diferentes países.

Marília Cavalcanti, parceira de Ângela em exposições em Miami, é também curadora de Mauro na galeria dela em Miami, na qual o artista é expositor permanente. “Em 2017, participei com a Marília da ´pré-Art Basel´, em Miami, que é uma megaexposição. De 23 mil inscritos, foram selecionados 800 artistas.”

Outra curadora de Mauro é Maria dos Anjos, em parceria com Ângela no Rio de Janeiro. Já Denise da Cruz é a curadora, em parceria com Ângela, no Liechteinstein (Europa). Silvia Stecca é parceira de Ângela em Barcelona (Espanha) e curadora e marchand de Mauro na própria Espanha.

Valéria Mac Knight é parceira de Ângela em Viena e curadora e marchand de Mauro na Áustria. O artista plástico Renato Donzell passou a ser marchand de Mauro em Roma (Itália).

Com isso, a agenda de Mauro tem andado lotada. Foram 22 exposições em 2017, das quais 12 na Europa e nos Estados Unidos. No primeiro semestre de 2018, deverão ser seis exposições internacionais, além das nacionais. E, no segundo semestre, estão confirmadas 14 participações em exposições internacionais, apenas no circuito de Ângela Oliveira, Valéria Mac Knight, Silvia Stecca e Denise da Cruz.

Neste início deste ano, o artista esteve em Roma onde expôs na Galeria Borgo, e ainda fez duas exposições em Barcelona e também em Viena, além de varias exposições nacionais. Em maio, voltou expor no Carrossel do Museu do Louvre em Paris num espaço que levou seu nome pela terceira vez, e mais uma vez suas obras são publicadas no catálogo da instituição.

Em junho, Mauro volta a Liechteinstein onde, além de assinar o projeto do troféu da instituição promotora do evento, será premiado e fará parte de um livro sobre sobre Leonardo da Vinci.

Características

Uma das características de Mauro é a sua disponibilidade e simplicidade. “Se alguém perguntar para mim: ´Você quer fazer uma exposição amanhã´, eu aceito. Ou ´você quer fazer uma exposição na rua´, eu também aceito.”

Outra característica de Mauro é a sua sensibilidade para abordar temas da atualidade. Em recente exposição (abril-maio) realizada em Tiradentes (MG), denominada “Qual é a sua língua?”, o artista apresentou um quadro alusivo às fake news (notícias falsas), que trazia um revólver como extensão da língua de uma pessoa.

Mauro considera-se um artista, hoje, graças aos seus pais Sérgio e Lucy, ao apoio de sua esposa Elisabeth – “Larga tudo, vai ser artista, que é o que você gosta, vai ser feliz” – e ao incentivo dos seus filhos Yuri e Marina, de sua sobrinha Debora, de um time de ótimos curadores e galeristas e da energia de uma legião de amigos e admiradores de sua arte.

Você, que se tornou um artista internacional, qual é mesmo a sua língua? “Minha língua é arte, com a arte eu me sinto parte de uma doce e gostosa solidão. Convivo com Deus e os meus demônios, exorciso, assim, os meus dias e a minha alma. A arte me excita e me acalma, me alimenta e me intoxica. Às vezes tenho a arte na ponta da língua, outras vezes perdida nas entranhas; se algumas vezes é minha amiga, há dias que me apresenta estranha. Muito prazer, sou o artista.”

Facebook de Mauro Kersul

https://www.facebook.com/mauro.marqueskersul.5

 

 

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