Resende-costense que contraiu a Covid-19 relembra momentos da internação e fala sobre a recuperação da doença


Saúde

Vanuza Resende0

fotoChiano ainda se recupera em casa dos sintomas graves da Covid-19 (foto arquivo pessoal)

O mês de maio foi o pior momento da pandemia em Resende Costa. Além das 251 confirmações em 30 dias e dos cinco óbitos confirmados em um mês (até o fechamento desta reportagem, o município havia registrado 10 óbitos causados pela Covid-19), muitos pacientes precisaram de internação para se tratarem da Covid-19 e das complicações da doença causada pelo novo coronavírus. Um desses pacientes foi o funcionário público da Prefeitura Municipal de Resende Costa, Márcio Resende, de 49 anos, o conhecido Chiano, que ficou internado por 12 dias.

Chiano apresentou os primeiros sintomas no dia 06 de maio e precisou de internação logo após o diagnóstico positivo para o novo coronavírus, no dia 12. Ele acredita que contraiu o vírus no pátio da Prefeitura Municipal, que durante o mês de maio precisou afastar 29 pessoas entre suspeitas e confirmação da doença. “Ele ficou internado do dia 12 ao dia 16 no Hospital Nossa Senhora do Rosário. Em seguida, foi pedida a transferência e ele foi encaminhado para o Hospital de Barbacena, o Ibiapaba. Do dia 16, por volta das 10h, até o dia 21, ele ficou na UTI. No dia 22, ele recebeu alta e foi para o quarto, sendo liberado no dia 23”, conta a enfermeira e filha do Chiano, Taynara Resende.

Chiano descreve os dias que precisou de internação para se tratar das complicações da doença. “Foi a pior sensação que eu tive até hoje, pois saber que você está indo para um local onde ficam pessoas que estão muito enfermas, que a qualquer momento eu poderia morrer, faz dor fica cada vez mais intensa. E o pior de tudo, estar totalmente consciente e ver tudo aquilo como se fosse uma ficção. O tempo todo eu me lembrava da minha família que estava ficando para trás. O que seria da minha família se eu me ausentasse?!”.

Felizmente, Chiano não precisou ser intubado na UTI. Ele, porém, avalia como “um milagre” a decisão dos médicos de não intubá-lo. “Quando eu cheguei à Unidade de Tratamento Intensivo, veio uma pessoa, que eu denomino como um anjo que Deus preparou naquele momento, para me orientar. Mostrou-me a máscara de VNI (ventilação não invasiva) e disse: ‘Ou você encara a máscara e/ou é intubado, ou então amanhã não estará mais aqui’”.

Durante os dias de internação, a comunicação com a família era limitada aos boletins emitidos pelas instituições de saúde. “Nós aqui em casa ficamos de quarentena; o meu irmão apresentou sintomas no dia 12 e testou positivo para a doença, mas não precisou de hospitalização. Nós mantivemos contato com o meu pai através de boletins médicos. No hospital de Resende Costa, somente um boletim por dia. Em Barbacena, um boletim de manhã e um à tarde, pela psicóloga. Além disso, por dois dias nós conseguimos fazer chamada de vídeo com ele”, conta Taynara.

 

Dia da alta médica e a perda de um amigo

Um dos cinco óbitos registrados no mês de maio em Resende Costa foi o de Celso José Ribeiro, também servidor municipal, que trabalhava na prefeitura desde 2001. A vítima era amiga de Chiano, que, ainda emocionado, falou sobre essa perda. “Durante os dias que permaneci na UTI, fiquei bastante fraco.Algumas vezes, tive a sensação de que estava lá do outro lado, junto da morte. Porém, algo me dizia que tinha que voltar, que não era minha vez, e que ainda teria que acabar de cumprir minha missão aqui na Terra. Senti que ainda não era a minha vez. Eu pensava muito na minha família, no sofrimento de cada um que estava lá fora, dos amigos, do meu companheiro de quarto, de serviço e de vida, o Celso, de cujo falecimento  fiquei sabendo no dia da minha alta, notícia que me deixou extremamente triste”.

Chiano está em processo de recuperação com fisioterapia respiratória e conta com a ajuda da família para voltar à atividade. Depois de tanta aflição, o recado: “Peço a todos os leitores que tenham cuidado, acreditem nessa doença. Cuidem-se, cuidem de seus familiares e dos amigos porque essa terrível doença mata, e a coisa é feia. Confie em quem esteve à beira da morte. Só Deus sabe o que estou passando na recuperação, não consigo ficar sozinho. Mesmo após esse episódio de guerra contra a Covid-19 no hospital, ainda sinto dificuldade de respirar. Se não fosse o apoio de toda minha família, não sei o que seria de mim. Agradeço primeiramente a Deus pela oportunidade de continuar vivo; também aos meus familiares e amigos por todas as orações feitas. Tenho certeza de que isso me fortaleceu muito e me fez estar aqui dando essa narrativa. Gratidão!”.

Muito mais do que fazer parte dos mais de 400 recuperados da Covid-19 em Resende Costa, a história de Chiano é alerta para a seriedade do vírus, além de inspiração e força para dias melhores em meio a tanta dor e luto de familiares e amigos das vítimas da Covid-19 em todo o mundo.

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