Resendes da Ilha Santa Maria podem ter origem nos Curvello da Espanha


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José Venâncio de Resende 0

Ilha Santa maria

Os Resende Costa da Ilha de Santa Maria, no Arquipélago dos Açores, Portugal, podem ter vínculos familiares remotos com os Curvello da Espanha, no continente europeu. A informação é do historiador e genealogista José de Almeida Mello, da Biblioteca Municipal de Ponta Delgada (Ilha São Miguel), com base em pesquisas recentes e cruzamentos de informações.

Nas Ilhas Santa Maria e São Miguel, o sobrenome Resende é comumente escrito como “Resendes”. Almeida Mello atribui isto a mera questão de ortografia.

João de Resende Costa, nascido em 1699 na Ilha de Santa Maria, é filho de Manuel de Resende e Ana da Costa, casados em 1675 na igreja matriz da Vila do Porto. Manuel de Resende, filho de André da Fonte de Morais e Margarida de Resende, é portanto irmão de Ana (ou Maria) de Resendes de Melo, que se casou com Francisco Fernandes de Mesquita em 1674 na Vila do Porto, de acordo com Rodrigo Rodrigues (Genealogias de São Miguel e Santa Maria, Volume 5º, Dislivro Histórica).

Por sua vez, a avó de João de Resende Costa, Margarida, é filha de Jorge e Resendes e de Catarina de Freitas. O bisavô de João – Jorge e Resendes - é filho de Ana de Resendes de Melo e de Antonio Pacheco da Silveira (ou Matos Pacheco), casados em 1608 na matriz da Vila do Porto, de acordo com Rodrigo Rodrigues, no capítulo 30º (“Da descendência de mestre António, catalão”, volume II da Genealogias).

Ana é filha de Nuno Curvelo de Resendes e de Catarina Fernandes Velha (ou Catarina Gonçalves), que se teriam casado na segunda metade do século XVI. Segundo Rodrigo Rodrigues, o casal figura na escritura de doação do Recolhimento da Madalena (ver reportagem sobre a Ilha de Santa Maria), em 1594, na Vila do Porto.

Por sua vez, Nuno é um dos filhos de Francisco Curvelo, que se casou com Felipa Faleiro de Resendes, da Ilha de São Miguel, de acordo com o cronista da época Gaspar Frutuoso (Saudades da Terra, Livro IV, Capítulo 31º). Os restos mortais de Francisco jazem na Matriz de Vila do Porto, como diz o testamento (de 1629) do seu filho, o capitão Antonio Curvelo de Resende, que teria sido o instituidor e segundo padroeiro do Recolhimento da Madalena.

Francisco é um dos netos de António (talvez do apelido Curvelo), mestre catalão que foi para a Ilha de Santa Maria no princípio da sua colonização, mandado pelo Infante D. Henrique para tratar da plantação de cana de açúcar e seu processamento, de acordo com Rodrigo Rodrigues (Volume II da Genealogias). Oriundo da Catalunha, casado, morreu na Ilha de Santa Maria com mais de 110 anos, de acordo com Frutuoso (Livro III, Capítulos II e III, de Saudades da Terra).      

Origem dos Curvello

O Mestre António Catalão foi para a Ilha de Santa Maria contratado pelo Infante D. Henrique, a fim de montar diversos engenhos de açúcar, de acordo com Gaspar Frutuoso em Saudades da Terra. “Mestre” naquele tempo correspondia ao hoje denominado engenheiro ou técnico especializado, segundo o Visconde do Botelho (Encontro com as raízes – origens da Família Curvello e seu Apelido”, Lisboa, 1978). “Não havia, então, diplomas. A  categoria na profissão era alcançada através da prática oficinal e segundo o mérito, a situação social e a preparação cultural de cada um.”

Botelho cita visita que fez a “conhecido alfarrabista de Madrid”, na qual topou com  uma “Carta de Armas de 1797 dada a um tal Francisco Crivell, de família oriunda da Catalunha”. A “concessão de armas” fora feita por D. Juan Felix de Rujula, “Cronista e Rei de Armas” de D. Carlos IV, “Rei de Espanha e das Índias Orientais e Ocidentais, Ilhas e Terra firmedo Mar Oceano, etc., etc.”. O documento, em pergaminho, referia-se que o apelido Crivell, Crivello ou Crivelli, “com esta pequena alteração no modo de se pronunciar (segundo a linguagem do país)”, se encontra escrito com frequência “em nossas crônicas e tratados de linguagem”.

O cronista complementa, segundo Botelho, “que os Crivellos são oriundos de Milão, onde tiveram o titulo de Conde. Dessa cidade passaram vários varões desta estirpe à Península Ibérica, como os senhores de Pinilla, na província da Mancha, jurisdição de Alcaraz”.         

Com base em suas pesquisas, o Visconde do Botelho concluiu que “a forma mais antiga do nome em causa (Curvello) era Crivelli, que em Espanha assumiu as formas de Crivell (adaptação evidente à língua catalã) ou Crivello e mesmo Cribello”. Assim, o então “Mestre de engenhos”, prossegue Botelho, “deveria, provavelmente, chamar-se António Crivello Catalão, prevalecendo nele o último apelido como é corrente em Portugal, embora fosse provavelmente o da mãe. Não parece muito admissível que se tratasse de alcunha, até porque ele não era natural da Catalunha, mas sim de Valência. Aliás, se fosse alcunha, seria mais curial que o tratassem por Mestre António – o catalão”.

Botelho acredita que o apelido “Catalão”, que era “um nome de família e não uma alcunha individual”, talvez, em Portugal, passasse a ser alcunha. Assim, “é provável que os descendentes de António Catalão preferissem usar o nome de Curvello (aliás Crivello), que deveria ser o seu apelido varonil”.

Botelho conclui que “não vem, nem de curvo, nem de corvo, nem de cru, nem de coração, o apelido que, sob a forma mais corrente de Curvello, se radicou nos Açores e de que hoje se encontram rebentos em todo o mundo português”. Ele cita, por exemplo, a cidade de Curvelo, no Estado de Minas Gerais, fundada no século XVIII por António José da Silva Curvello, açoriano, natural da Praia da Vitória (Ilha Terceira), “que, a princípio, dera o nome de Santo António da Estrada à pequena povoação que instituiu”. 

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