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“Reintegracionismo”, Galiza, Portugal e nós…

25 de Outubro de 2014, por José Venâncio de Resende

“A estratégia reintegracionista, ou luso-brasileira, trabalha sobre a base de a Galiza, Portugal e o Brasil compartilharem a mesma língua, conhecida na Galiza como galego e internacionalmente como português. Guia-nos o convencimento de ser a melhor estratégia para a nossa língua e para os seus falantes na Galiza, aumentando o seu bem-estar” (do livro Quês e porquês do reintegracionismo).* 

Este conceito deu base para um movimento social abrangente que trabalha pela “regeneraçom da língua da Galiza”, segundo os autores da publicação. O livro é uma adaptação da “Wiki-faq do reintegracionismo” da Associaçom Galega da Língua (AGAL)**. Procura dar uma visão geral sobre o reintegracionismo. 

Os autores partem da pergunta “que é reintegracionismo?”. Definem que “O reintegracionismo postula que o galego, o português e o brasileiro som variantes da mesma língua. Esta tese foi a defendida tradicionalmente polo galeguismo.” Assim, “A palavra reintegracionismo deriva de reintegrar que quer dizer ´integrar novamente´. O reintegracionismo é umha estratégia para a língua da Galiza que se baseia num facto histórico, umha análise e umha hipótese razoável”. 

O fato histórico – dizem os autores - é que a língua nasceu no Reino da Galiza, na Idade Média, num território que incluía a atual Galiza e o norte de Portugal, além de territórios que atualmente fazem parte das Astúrias e de Castela-Leom. A língua avançou para o sul em direção ao que seria o Reino de Portugal e depois cruzou os oceanos. 

Na análise, os autores citam, do ponto de vista linguístico, a “castelhanização” como principal barreira para os galegos se comunicarem com os falantes do mesmo domínio cultural. Já, do ponto de vista funcional, apontam a ausência do galego em áreas estratégicas como meios de comunicação, justiça, empresa etc., espaços que são ocupados pelo castelhano. 

Por fim, do ponto de vista cultural e identitário, observam que a maioria dos falantes da Galiza sentem mais familiaridade com o castelhano do que com as variedades lusitana e brasileira. “A cidadania galega está empapada de cultura expressada em espanhol mas desconhece a lusitana, a brasileira ou a africana de fala portuguesa. Isto verifica-se especialmente quando queremos aceder a produtos culturais noutras línguas (traduçons de livros, cinema, software), ocasiom em que inércia nos leva a recorrer ao castelhano.” 

Na hipótese, os autores citam duas estratégias que se postulam para inverter o estado atual da língua galega, ou seja, a autonomista (galego é só a língua da Galiza) e a reintegracionista (galego é a língua d Galiza e de vários países mais). 

Eles consideram a segunda estratégia mais eficaz, por três razões: 1) apoiar nas variedades de Portugal e Brasil (cujas línguas são soberanas) permitiria à Galiza “soberanizar” a sua variedade em relação ao castelhano; 2) as variedades da língua, principalmente do Brasil e Portugal, permitiriam à Galiza superar muitas das carências do seu idioma (livro técnico e literatura universal, versões de filmes, canais de TV, software e versões de sites, música etc.); e 3) haveria maior difusão da cultura galega a partir da sua inserção na cultura lusófona, bem como reforço da identidade da língua galega como independente do castelhano. 

Segundo os autores, o reintegracionismo é um “movimento linear em que cabem grande pluralidade de filosofias e práticas, de culturais até sociopolíticas”. Nesse contexto, a missão da AGAL é difundir o reintegracionismo e a normalização linguística. Por isso, a Associação mantém “relações fluídas” com todas as associações e entidades reintegracionistas. “Cada entidade reintegracionista tem diferentes âmbitos de atuaçom, quer geograficamente: internacional, nacional e local, quer setorialmente: cultural, académico, partidário, comunicaçom…” 

Nas visitas que fiz à Galiza, notei um interesse muito grande de se estreitar os laços com o Brasil (ver reportagem neste site).*** Tanto que já procurei fazer a ponte entre a AGAL e a Comissão de Educação, Cultura e Esporte do Senado brasileiro, que analisa o novo acordo ortográfico (a valer em 2016), bem como estuda meios de facilitar o seu aprendizado. 

Aliás, é interessante que, paralelamente ao movimento que trabalha pela regeneração da  língua na Galiza, acontece no Brasil o movimento “Simplificando a Ortografia”, cujo propósito é “facilitar o ensino e a aprendizagem da escrita (em português), substituindo o decorar pelo entender”****. 

E, recentemente, o eurodeputado Carlos Zorrinho revelou que o Parlamento Europeu acaba de criar um grupo de interesse, focado nas relações com os países de língua portuguesa (ver reportagem neste site)*****. Este grupo deverá ter entre 40 e 50 parlamentares de países e inclusive regiões (como a Galiza) que falam ou tem interesse na língua portuguesa. 

Assim, nada mais sensato do que buscar a convergência destas iniciativas que, no frigir  dos ovos, vão desembocar no “reintegracionismo”. 

 

*Quês e porquês do reintegracionismo. José Ramom Flores das Seixas (coordenador), Joseph Ghanime Lopes, Beatriz Peres Bieites, Valentim Fagim Rodrigues e Eduardo Sanches Maragoto. 1ª ediçom, Junho de 2014. Associaçom Galega da Língua, Através Editora (www.atraves-editora.com), 2014. 

**Mais informações sobre reintegracionismo estão disponíveis no site da AGAL (http://www.agal-gz.org/corporativo/). 

*** “Galiza (Espanha) quer aumentar acesso da população à língua portuguesa” (http://www.jornaldaslajes.com.br/integra.php?i=1479). 

****Movimento Simplificando a Ortografia (http://simplificandoaortografia.com.br/). 

***** “Parlamento Europeu quer intensificar relações com Brasil e acelerar acordo com Mercosul” (http://www.jornaldaslajes.com.br/integra.php?i=1476). 

 

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