A inflação (“desmoralização” da moeda) prejudica os mais pobres. O ministro Antonio Palocci, que multiplicou em 20 vezes o seu patrimônio em quatro anos, não é seguramente uma vítima da inflação alta.
A apologia ao uso errado do português (desmoralização da língua culta) também prejudica os mais pobres. O ministro da Educação Fernando Haddad, que é doutor em filosofia, não é seguramente vítima do “preconceito linguístico”.
O MEC adotou o livro “Por uma vida melhor” cuja orientação, se seguida à risca, vai contribuir para manter os mais pobres no andar de baixo da sociedade, com instrução de baixa qualidade e os piores empregos. Não é por acaso que muitas famílias de classes C, D e mesmo E, tão logo consigam pequena melhoria na renda, procuram escolas particulares. Dia desses presenciei na rua uma mulher humilde dizendo para sua filhinha: “Filha, mais melhor está errado; o correto é melhor”. A preocupação com o futuro dos filhos passa por melhor educação e qualificação profissional para viver num mundo cada vez mais complexo e competitivo. Só preconceituosos acreditam que os mais pobres são incapazes.
O ministro da Fazenda nunca perde oportunidade de dizer em público que a inflação está sob controle. Porém, o que se vê é o aumento nos preços dos serviços (alimentação fora de casa, mensalidade da escola, aluguel, médico e preços públicos administrados) e o repasse de custos das indústrias acima da inflação. E o que se prenuncia não é nada animador, considerando campanhas salariais de categorias importantes no segundo semestre no pico da inflação acumulada de 12 meses, bem como um brutal aumento do salário mínimo em 2012 com base na inflação passada. A aceitação desses aumentos está relacionada com a oferta ainda abundante de crédito (prestações a perder de vista), o baixo desemprego/escassez de mão-de-obra e os gastos governamentais sem controle.
A defesa do uso da linguagem popular, com seus erros gramaticais em atropelo ao idioma oficial, faz parte de um contexto maior em que predomina a pregação ideológica nas salas de aulas por parte de professores engajados politicamente. Sei de professores que defendem ardorosamente os governos petistas, ao compará-los com governos anteriores em especial o de FHC. Da mesma forma, atacam o agronegócio, que tanta riqueza gera ao país, e defendem movimentos sociais, mesmo que ilegais como o movimento dos sem terra. Uma educação pautada pela universalidade certamente melhoraria o desempenho do Brasil nas avaliações internacionais de ciências, matemática e idioma.
Os governos populistas tendem a ser lenientes com a inflação, em nome de maior crescimento econômico a qualquer custo. Apesar do discurso para a platéia, esses governantes acreditam que um pouco de inflação não faz mal a ninguém, daí a resistência em adotar medidas mais duras. O problema é que inflação é igual gravidez: “não existe meia gravidez”. E no longo prazo não há crescimento/desenvolvimento em níveis sustentáveis com inflação acima dos 2% a 3% ao ano, como mostram os países maduros.
Moeda e língua são valores nacionais que precisam ser preservados para o bem dos cidadãos. Mas não parece que o governo e seus aliados estejam tão convictos disso, apesar dos discursos públicos.
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