Em defesa do parto natural
13 de Julho de 2012, por José Venâncio de Resende
Recentemente, uma jovem médica revelou, em reportagem na TV, que teve seus filhos em casa, com parteira, após o acompanhamento normal na gestação. Este fato fez-me lembrar das parteiras que atendiam minha mãe. Eu nasci pelas mãos da Euzi do João Lara e meus irmãos, por intermédio da dona Zica da Rua Sete - é verdade que dona Zica entregava tudo nas mãos de Deus!
Mas aqui vai um alerta do médico Euclides Garcia de Lima Filho, o dr. Tidinho, pediatra há 55 anos em São João del-Rei e defensor do parto natural: é um perigo fazer parto em casa devido ao risco de acidentes relacionados com esta prática. “Parto deve ser sempre na rede hospitalar, e pode ser feito por parteira experiente e que tenha conhecimentos teóricos e técnicos.”
Dados publicados pelo jornal Estado de Minas (17/10/2011) mostram que as cesarianas chegam a 30% no Sistema Único de Saúde (SUS) de Belo Horizonte e até 77% na rede suplementar, níveis bem acima da taxa de 15% recomendada pela Organização Mundial de Saúde (OMS). A realidade não é muito diferente no SUS de capitais como São Paulo (32%) e Brasília (37%) e, pior ainda, Rio de Janeiro (56%) e Fortaleza (66%). Assim, a média nacional de cesarianas chega a 37%, a maior do mundo.
Em São João del-Rei, a incidência de cesarianas é assustadora, de acordo com dr. Tidinho. O médico acredita que o número de partos naturais deve girar em torno de 15% do total de partos, ou seja, cerca de 85% são cesarianas. É exatamente o contrário do que defende a OMS.
Reduzir o número de partos por cesariana é um dos fatores para diminuir o índice de mortalidade infantil e melhorar a saúde materna. Aliás, o governo brasileiro está a menos de quatro anos do prazo acertado, em 1990, com a Organização das Nações Unidas (ONU) para cumprir a meta da OMS.
O problema é reconhecido pelo secretário de Atenção à Saúde do Ministério da Saúde, Helvécio Magalhães, que lamenta o recorde brasileiro. Para ele, os números de cesariana não podem estar tão acima do determinado pela OMS, dados os riscos inerentes para a mulher e a criança.
Um dos problemas apontados para o alto número de cesarianas é o valor pago ao parto normal cujo tempo é imprevisível, podendo durar horas. No SUS, o médico recebe por parto normal apenas R$ 25 a mais do que pela cesariana, ou seja, R$ 175 (normal) e R$ 150 (cesáreo). Na rede particular, não há diferença.
Para dr. Tidinho, o alto índice de cesarianas deve-se ao comodismo dos médicos, à facilidade de anestesia para a mulher (que reduz o desgaste na operação) e ao fator cultural (falta de preparo das jovens para o casamento e a maternidade, ou seja, falta de hábito em cuidar de crianças), sem falar das mães adolescentes, “um problema tão grave quanto a Aids”.
As pacientes grávidas cada vez mais procuram a rede privada para agendar cesarianas, que duram bem menos tempo. Não ficam sujeitas ao atendimento por equipe de plantão na rede SUS. Além disso, há problemas graves na formação do profissional, conforme Helvécio Magalhães. “Estudantes de medicina se formam sem fazer um parto normal.”
A Agência Nacional de Saúde Suplementar faz campanhas e estimula as operadoras a diminuir as taxas de parto normal, segundo a gerente geral de Regulação Assistencial da Marta Oliveira. “Algumas experiências de remunerar melhor o parto normal têm sido bem sucedidas, mas ainda são insuficientes.” Também há programas de atendimento a paciente no momento do parto, por grupo de médicos e equipes multidiscilplinares.
Para coordenadora do Programa de Sobrevivência e Desenvolvimento Infantil do Fundo das Nações Unidas para a Infância, Cristina Albuquerque, o “parto normal se tornou anormal e isso não pode continuar a ocorrer”.
Entre os benefícios do parto natural, os especialistas apontam: melhor respiração da criança; maior envolvimento psicológico da mulher; aceleração da descida do leite materno (favorece a primeira mamada na primeira hora de vida); mais segurança para a mãe e para o bebê; menor risco de prematuridade; menor dor após o parto; menores riscos de complicações (hemorragias, embolias e infecções); recuperação mais rápida no pós-parto; volta mais rápida da mulher às atividades físicas; e menor risco para as futuras gestações.
Veja a íntegra da reportagem do jornal Estado de Minas em http://www.em.com.br/app/noticia/gerais/2011/10/17/interna_gerais,256282/cesarianas-chegam-a-30-no-sus-e-mais-de-77-na-rede-privada-de-bh.shtml