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Feliz ano novo, sem perder a velha indignação

05 de Janeiro de 2010, por José Venâncio de Resende

Cadeia é o lugar deles - A esperança nunca morre. O Movimento de Combate à Corrupção (MCCE) – o chamado projeto popular de combate aos políticos fichas-sujas ou “Campanha Ficha Limpa” - terminou 2009 com mais de 1,5 milhão de assinaturas. As assinaturas já foram entregue ao presidente da Câmara dos Deputados, Michel Temer. Agora, a expectativa é que, pressionados pela opinião pública, os deputados levem, em fevereiro de 2010, à votação do plenário o Projeto de Lei (PLP 518/09) da Ficha Limpa. Mas, como seguro morreu de velho, os cidadãos de bem devem continuar engajados na campanha. Se assim for preciso, vamos duplicar, triplicar, elevar a milhões o número de assinaturas. Quem sabe caia a “ficha rubra da vergonha” e os políticos cedam à pressão das ruas. Para participar do Movimento, a página na internet é www.mcce.org.br.

“Na merda” - Em comício eleitoral durante assinatura de contratos do programa “Minha Casa, Minha Vida” em São Luís (Maranhão), o presidente Lula disse: “Eu não quero saber se o João Castelo (prefeito de São Luís) é do PSDB; não quero saber se o outro é do PFL; não quero saber se é do PT. Eu quero saber se o povo está na merda, e eu quero tirar o povo da merda em que ele se encontra.” Tirante a expressão chula digna de um presidente, a questão do saneamento não é problema apenas de regiões, cidades ou bairros pobres e miseráveis. Em recente passagem pela internacional Paraty (RJ), descobri que a cidade não tem rede de esgoto (esgotos de fossas são jogados sem tratar em córregos, rios e mesmo no mar) e a água é de péssima qualidade (não sei como os mais pobres fazem, mas recomenda-se tomar água mineral). Outra cidade turística, São João del-Rei, discute se o serviço de água e esgoto (de péssima qualidade) deve ser transferido da autarquia municipal falida (DAMAE) para a empresa estadual COPASA. Enquanto o presidente Lula discursa, em palanque, que vai “tirar o povo da merda”, a maioria dos projetos de investimentos em saneamento básico não saiu do papel (ou apresenta realização em níveis bem abaixo do previsto). O problema do governo é este: muito discurso e pouco resultado.

Imoralidade fiscal - A arrecadação de impostos em 2009 (federais, estaduais e municipais) ultrapassou a marca de R$ 1 trilhão, segundo o Impostômetro afixado à frente da sede da Associação Comercial de São Paulo. Isto porque já não existe mais a CPMF (imposto do cheque), que foi extinta graças a um dos movimentos de cidadania mais bonitos dos últimos tempos neste país. Enquanto isso, os gastos do governo continuam subindo mais que proporcionalmente aos investimentos produtivos (que são aqueles que fazem a economia crescer e gerar empregos).

Coincidência planejada? – “Bolsa Cultura” (ou vale-cultura, pelo qual 12 milhões de trabalhadores terão até R$ 50 mensais para usar em cinema, teatro, shows e espetáculos culturais); programa “Cinema da cidade” (instalação de salas de cinema e aquisição de equipamentos em cada município com 20 mil a 100 mil habitantes); e o lançamento do filme “Lula - o filho do Brasil”. Haja criatividade com o dinheiro público!!!

Cenas paulistanas – Lixo é espalhado pelas calçadas por moradores de rua (que rompem os sacos de lixo depositados pela população à espera do caminhão de lixo), entupindo bueiros e transformando ruas em rios. Pessoas dormem ao relento em pleno dia ou maltrapilhos e bêbados circulam pelas ruas, em condições subumanas (falta de higiene, fezes humanas pelas calçadas, mau-cheiro de urina, assédio por uma moeda, etc.). Trecho de rua num quarteirão inteiro é privatizado para a empresária da noite Lilian Gonçalves (dona de casa de shows, bares e restaurantes) criar a calçada da fama, comprometendo o trânsito de veículos (inclusive ônibus urbanos) e o tráfego de pedestres (quem quer que sejam os famosos a colocar o pé nessa calçada, será que vale o prejuízo público?). Bares e restaurantes ocupam calçadas inteiras com mesas de clientes, em total desrespeito aos cidadãos que são literalmente jogados para a rua. É o que poderíamos chamar de “convivência desumana”

Baixaria política – 2009 destacou-se como um ano de baixaria política. Para ficar em apenas três exemplos paradigmáticos. Foi o ano que revelou centenas de atos secretos do Senado (decisões não-publicadas no Diário Oficial, principalmente de contratação de parentes e afilhados de políticos), colocando na berlinda da crise o senador José Sarney, um dos principais representantes do atraso neste país. Ano em que o jornal “O Estado de S. Paulo” foi censurado e proibido pela Justiça de revelar gravações da Polícia Federal (“diálogos íntimos” entre membros da família Sarney que revelam ligações do presidente do Senado com a contratação de parentes e afilhados políticos por meio de atos secretos). E foi o ano em que assistimos estarrecidos na tela da TV as revelações chocantes do “Mensalão do Distrito Federal”, comandado pelo governador José Roberto Arruda, com a distribuição explícita de dinheiro vivo a aliados políticos (que escondiam os maços de notas em bolsos, cuecas, meias, bolsas e pastas). Precisa mais?


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