Voltar a todos os posts

Fiascos na diplomacia errática do governo brasileiro

16 de Dezembro de 2009, por José Venâncio de Resende

A recente eleição do presidente Porfírio “Pepe” Lobo em Honduras, sem que se cedesse à exigência do retorno de Manuel Zelaya ao poder, é um duro golpe na política externa brasileira. O governo Lula, a reboque do ditador venezuelano Hugo Chávez, abrigou Zelaya e um grupo de aliados na embaixada brasileira na capital hondurenha (Tegucigalpa), que foi transformada em palanque político à custa do cidadão brasileiro que paga as despesas. Além de cair numa armadilha, que apequena a diplomacia brasileira, o governo Lula corre o risco de ficar falando sozinho, ou melhor, ilhado na companhia de aliados incômodos como Venezuela e Irã. A menos que recue de sua posição original.

Constrangimento na Amazônia – Outro fiasco da diplomacia errática, conduzida pela dupla Celso Amorim (ministro das Relações Exteriores) e Marco Aurélio Garcia (assessor especial da Presidência para assuntos internacionais), foi a cúpula da Amazônia em novembro, que deveria levar 10 chefes de Estado à região, mas que deixou constrangido o presidente Lula ao reunir apenas três deles entre os quais o presidente francês Nicolas Sarcozy. Neste encontro, que pretendia acertar uma posição comum para a conferência do clima de Copenhague (e principalmente a luta por compensações financeiras para se evitar o desmatamento da floresta), os grandes ausentes foram amigos do sr. Lula, como o venezuelano Hugo Chávez e o boliviano Evo Morales.

Ovos em única cesta - Outro fracasso da diplomacia brasileira foi o sepultamento da Rodada Doha da Organização Mundial do Comércio (OMC), depois de oito anos de negociações multilaterais. Nada muito diferente do que já se esperava, ou seja, os países ricos fincaram o pé na posição de manter a proteção de sua agricultura e de exigir mais abertura dos mercados dos países emergentes para seus produtos industriais. O governo Lula, ingenuamente, jogou todos os ovos na mesma cesta, ou melhor, todas as cartas na Rodada Doha. Agora, com atraso, começa a correr atrás do prejuízo, na busca desesperada de acordos comerciais bilaterais para abrir mercados aos produtos brasileiros. Busca-se acordos preferenciais com Índia, África do Sul, União Européia, Estados Unidos e até com os países pobres. Mas são poucas as perspectivas de sucesso pelo menos no curto prazo. Em compensação, outros países-membros da OMC não perderam tempo e firmaram mais de cem acordos de livre-comércio, como fizeram países asiáticos e os nossos vizinhos Chile e Peru.

Ovos numa única cesta 2 - Na verdade, o acordo comercial da OMC, que já era difícil devido aos interesses conflitantes, ficou inviável com a crise financeira mundial, que reduziu os fluxos comerciais globais e, por tabela, as exportações de países em desenvolvimento como o Brasil. Para agravar a situação, os países desenvolvidos (Estados e países europeus, principalmente) recorreram a novas formas de protecionismo em reação ao aumento do desemprego provocado pela crise. E a tendência é que, daqui pra frente, os países ricos exijam as chamadas cláusulas sociais e ambientais em futuros acordos comerciais, como forma de protecionismo de seus setores industriais (tanto para salvar empregos domésticos como para custear os investimentos em tecnologias de fontes renováveis para substituir o petróleo).

Mui amigos – Outra bola fora da diplomacia do governo brasileiro são as relações conflituosas com os sócios do Mercosul, em especial a Argentina, fruto do predomínio de interesses individualistas. O Brasil tem sido vítima de retaliações do país portenho contra a indústria nacional, no que se pode chamar de “guerras” contra o setor automobilístico, as geladeiras, os calçados, produtos têxteis e mais recentemente os brinquedos. O governo dos Kirchner vive desrespeitando as normas do MERCOSUL, ao impor barreiras comerciais em geral sem avisar o aliado Lula. E o Brasil insiste no modelo de MERCOSUL, que prejudica a economia a nacional duas vezes: ao se tornar vítima de medidas protecionistas dos vizinhos argentinos e ao mesmo tempo ao tolher iniciativas do país nas negociações de acordos bilaterais com outros países e blocos econômicos. De um lado, o MERCOSUL caminha para total paralisia e, de outro, vai receber um novo aliado incômodo, o ditador e chato Hugo Chávez, que vem tumultuar ainda mais o já conturbado bloco econômico.

Inimigo do mundo livre - O presidente Lula recebeu recentemente o atual presidente do Irã, Mahmoud Ahmadinejab, reeleito em junho último em eleições contestadas pela oposição por suspeita de ocorrências de fraudes. Nem bem passou pelo Brasil, de volta ao seu país, o Sr. Ahmadinejab resolveu ampliar o programa nuclear iraniano, possivelmente com fins militares, desrespeitando a orientação da Organização das Nações Unidas (ONU). E o governo iraniano continua o processo – cada vez mais intolerante – de repressão aos manifestantes de oposição, que não se conformam com o resultado das últimas eleições presidenciais naquele país.

Mundo quadrado – Na Conferência das Nações Unidas para a Mudança Climática, em Copenhague, o governo Lula resiste a contribuir para o Fundo Mundial de Meio Ambiente para financiar a redução de emissões de gases na atmosfera (principalmente dióxido de carbono) que provocam mudanças no clima e aquecimento da Terra. Além disso, o Brasil resiste a submeter suas metas de corte de gases de efeito-estufa ao controle internacional. A impressão é que ao governo brasileiro só interessa caçar os culpados, historicamente, e se esquece de que estamos todos no mesmo barco a caminho de se afundar. A Terra passa pela aceleração do aumento médio da temperatura devido a mudanças climáticas, cujas conseqüências vão ser a elevação do nível do mar (inundação de áreas costeiras); o aumento de ondas de calor, furacões e grandes tempestades; e mudanças ecológicas (extinção de espécies). Qualquer que seja o resultado da Conferência do Clima, o que se vê é um mundo cada vez mais quadrado, ou seja, irracional... A divisão já não é mais entre países ricos e pobres, mas virou uma colcha de retalhos que envolve países altamente poluidores (EUA, China, etc.); países em desenvolvimento que se vêem no direito de poluir porque outros poluíram (razões históricas); países pobres meramente fornecedores de matérias-primas (minérios, produtos agrícolas, etc.) que depredam o meio ambiente; e países (como minúsculas ilhas) ameaçados de sumir do mapa com o aumento da temperatura (elevação do nível das águas).

Mundo quadrado 2 – É difícil chegar ao consenso entre os países sobre questões polêmicas como a renovação do Protocolo de Kyoto (que estipula metas obrigatórias de redução de emissões de carbono para países desenvolvidos, pois os Estados Unidos só aceitam aderir se a China, por exemplo, fizer o mesmo); a transformação de ações voluntárias de países como China, Índia e Brasil em metas de redução de emissões de gases de efeito-estufa que possam ser fiscalizadas internacionalmente; a definição de fontes e volume de recursos de longo prazo para o Fundo Mundial do Meio Ambiente (financiar ações de mitigação de emissões de gases poluentes, como adoção de tecnologias poupadoras de combustíveis fósseis e preservação de florestas); e a definição de uma base única para fixar as (e fiscalizar o cumprimento das) metas (em termos percentuais) de corte de emissões dos gases que causam o efeito-estufa (aumento da temperatura média da terra).

Outros exemplos ainda poderiam ser citados sobre o fiasco da política externa do atual governo, que não está à altura da tradição da diplomacia brasileira, como bem diz o respeitado embaixador aposentado Rubens Ricupero.

Deixe um comentário

Faça o login e deixe seu comentário