O município de Lagoa Dourada já é líder regional na produção agrícola. É também grande produtor de ovos e leite, as principais matérias-primas do famoso rocambole.
Na política, não é diferente. A agropecuária está representada nas duas tradicionais correntes partidárias, oriundas dos tempos de PSD e UDN: os pêgas (PMDB) de um lado da trincheira e os braquiárias (PSDB), do outro. É um dos raros exemplos de município no Brasil onde o bipartidarismo é historicamente consolidado, e aguerrido.
Ainda está um pouco cedo para falar de eleições municipais - faltam cerca de oito meses – até porque a população anda meio arredia diante da exposição na mídia das vísceras do poder central e adjacências, contaminados pelo vil metal. E as lideranças políticas estão pisando em ovos, para continuarmos na linguagem agropecuária.
Tanto é assim que se evitam falar de nomes para prefeito. O único possível candidato citado abertamente é o vice-prefeito João Costa – tocador de obras dos tempos ainda do prefeito Vicente Sebastião da Costa, o Vicentão, de quem é irmão – que tem a preferência do atual prefeito Antônio Mangá. “Ele acompanha de perto desde o conserto de um mata-burro até a construção de uma ponte”, resume o presidente do PMDB, Vinicius Cristiano Vieira de Resende.
Vinicius admite que outros dois nomes estão sendo discutidos dentro do partido - são de gerações mais novas e não necessariamente ocuparam cargos públicos. Porém parece que João Costa só não será candidato se houver alguma restrição de ordem médica. Tanto que fontes próximas ao prefeito Mangá garantem que não existe “plano B” para esta eventualidade.
Tão certo quanto o nome é a garantia de que deverá ser mantida a parceria com o PT que emplacou o atual secretário de Educação, Afonso de Campos Maia, e assegurou o apoio político tanto na Câmara Municipal quanto nos âmbitos federal e estadual por meio dos deputados Reginaldo Lopes e Cristiano Silveira.
Aliás, é bom lembrar que Afonso foi secretário de Educação em boa parte das gestões do tucano José Valter Vieira, quando então mudou para o PT. É um dos raros casos em que um secretário de Educação dura tanto tempo no cargo.
O presidente do PT, Harley Magno Lima, confirma que a parceria com o PMDB tem tudo para continuar porque os resultados são altamente positivos. Ele garante que os dois partidos vão marchar juntos e sinaliza o apoio ao atual vice-prefeito. “Ele já foi vereador, é carismático, tem experiência na parte de obras e é um vice muito ativo.”
No PSDB, a situação ainda é indefinida, nem sequer um nome está na praça. Seu presidente, Mário Joaquim Vieira Filho, revela que existem sugestões de oito a 12 nomes, pessoas jovens entre 40 e 55 anos, cuja característica principal é a de serem pequenos empreendedores que se ascenderam pelo esforço próprio. Dessa forma, ele descarta a aposta em nomes de mais experiência como algum ex-prefeito.
A ideia básica seria formar uma nova geração de políticos, explica Marinho. “Eu sou cobrado constantemente por um nome. O pessoal do partido está ansioso por isso.” Outra ideia seria aglutinar o máximo de partidos numa coligação de oposição, entre os quais DEM e PR.
A atual administração vai focar a campanha em suas realizações, conta o secretário de Agropecuária, Antonio Barreto Pereira Neto. Ele cita as áreas de infraestrutura (melhores estradas vicinais, pavimentação de vias públicas, novo centro administrativo, etc.), de saúde (novos PSFs, moderno centro médico, convênio com Unimed para funcionários, esgotamento sanitário etc.) e de educação (aquisição de ônibus escolares, transporte facilitado para estudantes universitários etc), além de renovação geral da frota e construção de casas populares com infraestrutura. Mas Antonio Barreto está convencido de que a grande obra é a rede de coleta e tratamento de esgoto, no valor da ordem de R$ 4 milhões, entre 80 e 90% já prontos.
Do lado da oposição, a visão é de que a atual administração herdou da gestão anterior uma prefeitura saneada e ainda recebeu apoio dos governos tucanos no âmbito do Estado. Mas a crença é de que a eleição será uma luta entre Davi e o gigante Golias. O receio é de que a estrutura financeira e o peso dos poderes federal e estadual desequilibrem a balança eleitoral.
Daí porque a tendência da oposição é de federalizar a campanha, tentando explorar o desgaste político principalmente do PT nacional. Na linha da verticalização, preocupa a situação o fato de que PSDB se poderá apresentar com uma campanha unificada na microrregião da Vertentes na tentativa de recuperar as prefeituras perdidas (atualmente, tucanos e aliados administram apenas duas prefeituras na região).
Segurança. A explosão da agência do Banco do Brasil em Lagoa Dourada, no apagar das luzes de 2015, acende o sinal amarelo da insegurança municipal. É uma questão que deveria ser tratada para além das divergências partidárias, mesmo em ano eleitoral. Conversas que tive com autoridades regionais ligadas à segurança pública e ao poder judiciário apontam o caminho da mobilização da sociedade civil local, acima das correntes políticas, para fortalecer o policiamento de Lagoa Dourada. Entre as sugestões, estariam a luta política pela volta da Comarca (o município já teve Comarca no passado) – que abriria possibilidade de reforço da logística e do pessoal das polícias Civil e Militar –, a nomeação imediata de um delegado fixo em Lagoa Dourada e - quem sabe! – a criação de uma guarda civil municipal.