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Movimentos separatistas: que mal há nisso?

12 de Maio de 2015, por José Venâncio de Resende

Edimburgo, capital da Escócia

O primeiro-ministro britânico David Cameron terá de enfrentar, em seu novo governo, dois referendos populares de cunho separatista. Um sobre a permanência da Grã-Bretanha na União Europeia (UE) e outro sobre a independência da Escócia.

O Partido Conservador de Cameron venceu as eleições de 8 de maio por maioria absoluta, não precisando portanto de coligação para governar. Mas terá de cumprir a promessa de realizar o referendo que poderá tirar os britânicos da UE.

Outra grande surpresa foi a formidável expansão do Partido Nacional Escocês (SNP na sigla em inglês) que assim ganha força para realizar o novo plebiscito pela separação. No referendo do ano passado, o “NÃO” à independência venceu por uma margem de apenas 10 pontos percentuais.

Neste ponto, os interesses se chocam. Grande parte dos britânicos, principalmente vinculada aos conservadores, quer desligar-se da UE. Entre os escoceses cresce o sentimento pró-independência, mas favorável à continuação na UE e à adoção do euro como moeda nacional.

Afinal, o que há mal em movimentos separatistas?

O Wikipedia apresenta uma lista imensa de movimentos separatistas, atualmente em andamento no mundo em geral e em especial na Europa. Além do escocês, os mais conhecidos são os espanhóis (Catalunha, Países Bascos etc.) que possuem raízes históricas, políticas e culturais muito fortes.

A Galiza, cujo movimento separatista ainda é incipiente, sonha com o reconhecimento oficial do galego-português e a sua inclusão na Comunidade dos Países de Língua Portuguesa (CPLP). Mas lideranças nacionalistas, como o engenheiro e ex-deputado Camilo Nogueira, não acreditam nessa possibilidade, se depender da boa vontade de Madrid. Por isso, acreditam que o caminho é lutar pela independência.

No Brasil, existem movimentos como os gaúchos Movimento pró República Rio-grandense e República do Pampa, que defendem a separação do Rio Grande do Sul; o Sul é o Meu País, que defende a autonomia da Região Sul (Rio Grande do Sul, Santa Catarina e Paraná); o Sudeste é Meu País, que defende a autonomia da região (Minas Gerais, São Paulo, Rio de Janeiro e Espírito Santo); o GESNI (Grupo de Estudos Nordeste Independente); e o Movimento República de São Paulo (que busca a autonomia do Estado).

Partido forte. É importante observar, principalmente nos casos escocês e espanhois, a presença marcante de partidos políticos fortes na liderança destes processos separatistas. O que não ocorre no Brasil onde os movimentos de autonomia são inexpressivos, quase envergonhados. São liderados por pessoas pouco conhecidas e não contam com retaguarda de partidos políticos. Aliás, são até vítimas de preconceito ou intolerância.

No caso europeu, a pujança desses movimentos, nos quais se evidenciam as lideranças carismáticas e os partidos organizados, tem forçado os governos centrais a cederem poder político e administrativo – mais especialmente no caso britânico. A Escócia deve realizar novo referendo separatista e não será surpresa se vencer o “SIM”, principalmente se os britânicos optarem por deixar a União Europeia.

Já catalães e bascos, bem como outras regiões espanholas que aspiram a independência, terão mais dificuldades em face da intransigência de Madrid e do apoio da União Europeia à Espanha. Mas tendem a continuar na luta por mais autonomia até alcançar a independência, pelo menos é o que aspiram.

O Brasil é um país onde o poder é extremamente centralizado em Brasília, com todos os defeitos amplamente conhecidos. Governadores e prefeitos têm muitos encargos e poucos recursos, o que os tornam reféns do poder central. Sem falar do sistema político caótico que enfraquece as representações locais e regionais. Quem sabe a existência de movimentos separatistas fortes não ajudaria a mudar esta situação?

Alguns links relacionados:

http://pt.wikipedia.org/wiki/Independentismo

http://pt.wikipedia.org/wiki/Referendo_sobre_a_independ%C3%AAncia_da_Esc%C3%B3cia_em_2014

http://www.estadao.com.br/infograficos/movimentos-separatistas-na-europa,internacional,343242

http://oglobo.globo.com/infograficos/mapa-separatistas/

http://www.cartacapital.com.br/internacional/alem-da-escocia-outras-regioes-europeias-cultivam-tendencias-separatistas-6424.html

http://www.jornaldaslajes.com.br/colunas/abrindo-novos-caminhos/a-galiza-o-galego-portugues-e-a-busca-por-independencia/722

 

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