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Polêmica na CPLP, Agostinho da Silva e a língua do futuro

06 de Agosto de 2014, por José Venâncio de Resende

Agostinho da Silva

O ingresso na Comunidade dos Países de Língua Portuguesa (CPLP) da Guiné Equatorial foi um dos assuntos mais discutidos na televisão e nos jornais, aqui em Portugal, nas últimas semanas. Sem meias palavras, a mídia lusitana desaprovou a decisão, oficializada na Cimeira da CPLP em julho no Timor Leste, por considerar que na Guiné Equatorial se fala o espanhol e o país tem uma das piores distribuições de renda do planeta, além de ser dirigido há anos por uma ditadura corrupta. A imprensa portuguesa não deixou de notar a ausência no evento oficial de Dilma Rousseff, presidente do Brasil, país que, junto com Angola, teria apadrinhado o país africano.

O assunto não escapou de comentário na conferência do professor Fernando Dacosta, na sessão semanal (24 de Julho) da Academia de Ciências de Lisboa, sobre o filósofo e intelectual português Agostinho da Silva, que morou vários anos no Brasil. Alguns amigos perspicazes de Agostinho da Silva ironizam que a CPLP está a ser transformada em Comunidade dos Países Lusófonos Petrolíferos, disparou o acadêmico Dacosta.

Aliás, seguindo o destino – como fez questão de acentuar – Agostinho da Silva mudou por completo depois que desembarcou no Brasil em 1944, relata Dacosta. Disse que o Brasil provocou um “terremoto” na sua vida. “O Brasil permitiu-me a abertura de mim próprio. Eu fui outro.” Mas nunca esqueceu a frase que um dia ouvira de Fernando Pessoa: “Minha pátria é a língua portuguesa”.

Considerando, ainda, que “cultura e política são a mesma coisa ou não são coisa nenhuma”, Agostinho da Silva formulou seu “plano detalhado” - apresentado no 4º Congresso Internacional de Universidades, realizado em Agosto de 1959 na Universidade de São Salvador (Bahia). Segundo Dacosta, Agostinho da Silva foi além do luso-tropicalismo de Gilberto Freyre, situando-se no futuro em que os povos africanos de língua portuguesa fossem autônomos, o que na sua perspectiva aconteceria logo.

A proposta de Agostinho da Silva iria, mais tarde, consubstanciar o espírito da hoje chamada CPLP, sintetiza Dacosta. A ideia de uma comunidade com essas características foi sugerida por ele ao então presidente Jânio Quadros, com quem colaborou. Mas o ex-presidente Juscelino Kubitschek e o ex-ministro da Cultura e ex-embaixador em Portugal, José Aparecido de Oliveira, além de companheiros e discípulos de Agostinho da Silva, também foram decisivos na viabilização do projeto. Líderes africanos da época seguiram atentamente suas palavras e posições. Porém, governantes, políticos e empresários portugueses tinham dificuldades em aceitar a proposta porque era assentada na independência total das colônias africanas.

Inicialmente, Agostinho da Silva defendia dois blocos congêneres – a CPLP e a comunidade de povos da língua espanhola – que, num segundo momento, se transformariam na CPLI (Comunidade de Povos de Línguas Ibéricas). Só então este bloco poderia incluir a Guiné Equatorial, ironizou Dacosta. Um bloco ibérico capaz de fazer frente a outros blocos ao redor do mundo, um pensamento visionário mas ousado para a época.

Agostinho deixou o Brasil na ditadura militar e faleceu há cerca de 20 anos em Portugal. E suas ideias continuam gerando frutos.

Geolíngua

Embora não tenha conhecido Agostinho da Silva, pessoalmente, Roberto Moreno seguiu as suas pegadas, ao deixar o Brasil em 1992 em busca de fundamentos científicos para uma tese de doutorado sobre a “língua do futuro”, que prefere denominar “geolíngua” (língua da terra) para não ferir susceptibilidades. A sua tese é que, das cerca de sete mil línguas naturais existentes no mundo, o “galaico-português” (português surgiu do galego) é o que mais potencial tem para se firmar como a língua de 800 milhões de pessoas. Quer dizer, Roberto Moreno propõe a União Iberófona (UI), uma Comunidade dos Países de Língua Portuguesa e Espanhola - Sem Fronteiras. Ao unir 30 países nos cinco continentes, a substituição da “lusofonia” pela “iberofonia” abarcaria uma comunidade ainda não explorada.

Para isso, patenteou em 2002 a palavra “Geo” - para transformá-la na marca Geo - no território português (registro renovado agora para mais 10 anos), abrangendo 18 classes (relativas a produtos e serviços); criou a Fundação Geolíngua para promover a Geolíngua, como língua universal, e gerir a marca; e registrou os direitos autorais do projeto “8 Séculos da Língua Portuguesa”. Mas ainda não concluiu a tese, iniciada em 1-1-1992, que sonha um dia defender em praça pública tendo o povo como júri.

Roberto Moreno utiliza o conceito de “endoeconomia”, uma economia auto-sustentável e solidária, na prática, pela qual o cidadão em algum momento passaria a ser dono da marca Geo. Ou seja, propõe um projeto por meio do qual a receita da venda de produtos e serviços com a marca Geo (Geoágua, Geopão, Geocafé, Geobanco etc.) seria revertida em seu benefício em áreas como educação, saúde e segurança pública.

Mas isso não é sonhar demais? O próprio Roberto Moreno responde: “´Deus quer, o homem sonha a obra nasce´, dizia Fernando Pessoa. Eu estou a ressuscitá-lo, nesta e em outras profecias. É o ´Quinto império´ via a ascensão espiritual do homem e do diálogo em Geolíngua”.

 

Links relacionados:

1.      Conferência “Evocação de Agostinho da Silva”, de Fernando Dacosta:

https://www.facebook.com/academia.das.ciencias.de.lisboa/app_212104595551052

2.      Entrevista de Roberto Moreno ao programa de TV “Verbos e Letras”:

 

http://www.youtube.com/watch?v=aisI7SEry4c

 

 

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