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Política, ética, cidadania, consumismo...

14 de Novembro de 2012, por José Venâncio de Resende

O Brasil vive uma confusão só entre política de resultado, ética sem princípios, cidadania do cartão de crédito e consumismo como fim em si mesmo. Aparentemente, nada tem a ver com nada, mas tudo tem a ver com tudo.

Definidas as penas dos chefões da “quadrilha”, de um lado, os petistas – que sempre negaram a existência do mensalão – não se conformam com a condenação de seus líderes – exceção de Lula que não teve seu nome incluído na ação penal – e, de outro, muita gente não entende que Marcos Valério (operador financeiro) tenha recebido pena de 40 anos, enquanto o ex-ministro José Dirceu – considerado oficialmente o mentor – tenha sido condenado a pouco menos de 11 anos de prisão (debite-se isto na conta das leis brasileiras, cujas penas são bastante leves para alguns crimes, como de formação de quadrilha para assaltar os cofres públicos). O fato é que a “quadrilha” do mensalão levou à risca afirmação, alguns anos atrás, do então deputado federal Lula de que existiam 300 picaretas no Congresso Nacional. Ao investir nos “picaretas”, não contavam com a denúncia, transformada em ação penal, e a condenação dos seus chefes e membros.    

Enquanto o Supremo Tribunal Federal (STF) julgava os membros da quadrilha, bem perto dali, no Congresso Nacional, a chamada “bancada da Delta” encarregava-se de sepultar a CPI do Cachoeira, que bem poderia ser o embrião de um novo ‘mensalão”. Afinal, são fortes as evidências de que a construtora Delta - principal empreteira do PAC de dona Dilma e que trabalha para vários governos estaduais – tenha ligações com o contraventor Carlinhos Cachoeira, investigação que a CPI se encarregou de sepultar.

E fechadas as urnas das eleições municipais, começaram a todo vapor os conchavos para uma acomodação de forças políticas – com vistas a 2014 – da qual uma das principais “estrelas” é o prefeito de São Paulo e criador/presidente do PSD, Gilberto Kassab. Até há pouco tempo aliado de José Serra, nem bem terminou a eleição paulistana e Kassab já procura o lado oposto para selar de vez o seu embarque no governo de dona Dilma, oferecendo apoio incondicional nas votações no Congresso Nacional e na Câmara Municipal de São Paulo em troca de algum ministério. Agora, ao lado de PMDB e PSB – sem falar da miríade de partidos de segunda linha –, o PSD de Kassab, que já é a terceira força política na Câmara dos Deputados, pega carona na popularidade de dona Dilma, para garantir um quinhão do latifúndio federal no presente e investir no futuro.

O problema é que, subajcente a isto, está um sistema caótico que tudo permite, no qual a política de resultados e a ética sem princípios caminham de braços dados. Nós cidadãos somos joguetes nas mãos dos políticos que, fechadas as urnas, rasgam as promessas de campanha e partem para a política de terra arrasada. Basta dizer que político eleito por um partido, troca-o por outro como se mudasse uma peça de roupa ou migra da oposição para a situação como se tivesse recebido folha em branco assinada pelo seu eleitor.

Uma reforma política é urgente, mas não aquela dos que querem usar de espertezas para se perpetuarem no poder. Uma reforma política de fato seria aquela que implantasse o sistema distrital de votação, que declarasse o voto livre (um direito e não uma obrigação), que reduzisse o quadro partidário (um número reduzido de partidos ideológicos - entre conservador e socialista - e com programas modernos e bem definidos) e que estimulasse a contribuição individual para partidos e candidatos (em substituição às escandalosas contribuições de empresas e contra a ampliação do já existente financiamento público de campanha que custo caro à sociedade). É preciso inverter a lógica, para que o político corra atrás do eleitor e não o eleitor seja obrigado a ir até o candidato.

Esse cidadão maltratado é comumente confundido com mero consumidor. O estímulo ao consumo de bens a qualquer custo é um dos fatores que emperram os investimentos no Brasil (afinal, não só de bens vivem os cidadãos, mas também de infraestrutura e serviços decentes), gerando um descompasso entre demanda e oferta, combustível perigoso para mais inflação no futuro.

Um último alerta: devemos ficar atentos com as indicações, daqui para frente, dos ministros do STF, pois os companheiros vão aumentar a pressão para a escolha de pessoas de confiança do petismo como Ricardo Lewandowski e Dias Toffoli.
 

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